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Gerri Machado: o acaso que virou um sonho

Há pouco mais de uma década, quando cruzava regularmente o Vale do Rio Pardo a caminho de Santa Maria, Gerri Machado jamais imaginava que um dia concorreria a prefeito de Santa Cruz. Talvez pela improbabilidade que explica a situação assim: “Acho que foi Deus que me conduziu para isso”.

Coincidência ou destino, Gerri nasceu a cerca de 390 quilômetros de Santa Cruz, em um local chamado Vila Treze – justamente o número do partido que mais tarde se tornaria o seu. À época, era um distrito de São Borja. Hoje, é o município de Santo Antônio das Missões. Ali viveu até os 8 anos, na propriedade da família, onde se plantava soja, trigo e milho.

Foi ainda aos 13 anos, já em São Vicente do Sul, que perdeu o pai e passou a ser criado apenas pela mãe, junto com os cinco irmãos. Na pequena cidade, chegou a trabalhar como porteiro de um hotel – por sorte, ao lado de uma videolocadora, o que lhe permitia alugar filmes para assistir durante a madrugada. Também foi lá que começou a se aproximar do mundo político. Por influência da família (um avô chegou a concorrer a vereador), filiou-se ao PDT, e foi convidado a trabalhar na Prefeitura.

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A troca de legenda ocorreu após o início do governo Olívio Dutra, quando o PDT, ainda sob a liderança de Leonel Brizola, quis buscar outro rumo, o que desencadeou uma dissidência. “O PT era algo estranho para mim no começo. Mas saí do PDT junto com a Dilma. Costumo me gabar disso”, recorda.

RAIO X DE GERRI

Um livro: “Cem Anos de Solidão, do García Marquez. Mas gosto também de Quatro Gigantes da Alma, do Emilio Mira y Lópes, que conheci ao ler uma entrevista do Lia Pires. Esse livro me fez superar todos os meus medos”

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Uma música: “Gaúcha”

Time do coração: “Grêmio. Não acompanho muito os jogos, mas gosto é de ‘tocar flauta’ nos colorados”

Um ídolo: “Nelson Mandela. É um exemplo para todo mundo”

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Um filme: “No Tempo das Borboletas. É um filme que descobri por acaso. Retrata a perseguição às mulheres pela ditadura militar na República Dominicana”

Um hobby: “Gosto de assar uma carne para reunir os amigos. Pelo menos uma vez por semana”

Um defeito: “Muito perfeccionista”

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Uma qualidade: “Sou um cara de muito foco”

Pai do PAC

Já no PT, Gerri começou a se especializar no que se tornaria sua credencial nesta eleição: a elaboração de projetos para captação de recursos. Após um período em Brasília, onde trabalhou no Senado e na Secretaria das Mulheres – ao lado de outra ex-pedetista, Emilia Fernandes –, foi convidado pelo recém-eleito prefeito de Santa Maria, Valdeci Oliveira, para comandar um órgão técnico voltado a essa área. É a Santa Cruz, no entanto, que estão ligadas as melhores lembranças de sua trajetória. Após desembarcar na Prefeitura pelas mãos de Luiz Augusto Campis e de João Pedro Schmidt, assumiu a nova Secretaria do PAC. Na assinatura do primeiro contrato, em julho de 2010, foi chamado pelo então ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “pai do PAC” no município. “Era algo muito necessário para a cidade”, orgulha-se. 

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Da falta de opção ao consenso

Foi passado cerca de um ano após a eleição de 2012 que a possibilidade de Gerri concorrer a prefeito – por sinal, a sua iniciação nas urnas – foi levantada pela primeira vez. Tudo começou em conversas individuais e discretas, nas quais companheiros de partido plantavam a ideia.

De início, admite, não deu bola. Pesou, no entanto, a intenção da sigla, em um movimento nacional, de valorizar os seus feitos, assim como a falta de interesse de quadros mais antigos, como Campis e Schmidt, em colocar o nome à disposição. “No início, foi opção por falta de opção. Depois, criou-se um consenso no PT como nunca tínhamos visto antes”, disse.

Apenas no início do ano passado que o assunto passou a ser tratado com mais seriedade. Embora reconheça que chegar ao Palacinho jamais foi uma pretensão em seus 20 anos de atividade política, garante que agora está determinado a perseguir a vitória. “Quem entra em uma disputa, entra para ganhar. Hoje ser prefeito é, sim, é um sonho, mas não nasci com ele”, admite o candidato.

Depois das urnas, vem o filho

Aos 41 anos, Gerri divide seu tempo entre a atividade partidária, a dedicação a uma empresa de consultoria que auxilia prefeituras a fazerem projetos e a família. Sua base é um imóvel próximo a um dos acessos laterais da Unisc, que faz as vezes de casa, escritório político e, agora, comitê. Costuma fazer todas as refeições do dia na rua e se obriga a não dormir antes de pegar em um livro, nem que seja para algumas poucas páginas. “Chego a ler quatro ou cinco livros ao mesmo tempo, porque não tenho muita paciência. Mas na campanha acho que isso não vai rolar”.

Já os finais de semana, costuma dedicar à filha Ana Luiza, de 13 anos e moradora de Santa Maria, fruto de um casamento que terminou há dez anos. Tão logo passar a eleição, sua atenção estará voltada ao segundo filho, esperado para novembro. O nome escolhido foi Bernardo, mas sua preferência pessoal era outra. “Eu queria Luís Inácio, mas não consegui”, conta, aos risos. A “derrota” foi para não ferir suscetibilidades: a família da noiva Caroline tem simpatia pelo PSDB. “Mas ela é petista. Até chora quando falamos no impeachment da Dilma”, relata.

>> Confira a matéria com o perfil de Afonso Schwengber publicada nessa segunda-feira, 22. 

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