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Série especial

Afonso Schwengber: homem das lutas e do campo

Quando questionado sobre a passagem mais marcante de sua trajetória de quase 30 anos no movimento sindical, Afonso Schwengber sequer hesita: cita imediatamente a greve geral de 1987, deflagrada em 20 de agosto daquele ano como reação ao Plano Bresser. “Foi a primeira da qual Santa Cruz participou. Tudo parou naquele momento”, recorda ele, que naquele ano havia sido eleito pela primeira vez para comandar o Sindicato dos Comerciários.

Foi ainda na juventude que começou a ler sobre socialismo, corrente ideológica com a qual já se identificava. Nascido em Linha Travessa, passou a maior parte da infância em Rio Pardinho, com a mãe e oito irmãos – o pai havia falecido de diabetes quando ele tinha 5 anos. Chegou a plantar fumo por algum tempo e, aos 15 anos, foi a Sinimbu para poder estudar. Durante o dia, trabalhava de garçom e em outro período, em uma padaria. À noite, Schwengber cursava o segundo grau.

Já em Santa Cruz, aonde retornou para fazer o curso supletivo, começou a atuar no comércio. Primeiro na Ferragens Knak, depois no Comercial Zimmer Goettert. Mas o que falou mais alto foi seu instinto contestador. Até hoje lembra do que passou por sua cabeça ao ver multidões assistindo aos desfiles de 7 de Setembro, em meio a notícias de crise de empregabilidade no País. “Eu pensava: ‘onde esse povo todo vai trabalhar?’ Foi aí que tomei a decisão de fazer alguma coisa. E vi que o caminho era o sindicato.”
 

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RAIO-X DE AFONSINHO

Um livro: “O Capital, de Marx. É o que nos orienta sobre toda a libertação do ser humano. Lá no início, também li a Bíblia”

Uma música: “Parece contrassenso, mas gosto de música romântica. Roberto Carlos, por exemplo. Mas também gosto de muitas duplas sertanejas”

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Time do coração: “Grêmio. Mas não gosto de olhar jogo, porque fico nervoso”

Um ídolo: “Não acredito em ídolos, mas um inspirador é Karl Marx”

Um filme: “Todos os do Mazzaropi. Gosto porque é algo inocente. Assim como eu gosto de Chaves”

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Um hobby: “Trabalhar com campo. E antigamente era jogar bola. Hoje não dá mais, a perna não deixa”

Um defeito: “Perfeccionista. Sou pela coisa muito certa”

Uma qualidade: “Sempre acreditar que as coisas podem e devem acontecer. E nunca desistir”
 

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Do PT ao PSTU

Embora de início tivesse, como ele próprio define, “horror” a partidos, convenceu-se logo que se apartar da política institucional não seria possível. Concorreu pela primeira vez pelo PSB, onde ingressou a convite de Irton Marx, mas foi em 1989 que se filiou ao PT, partido pelo qual chegou à Câmara na década de 1990 e que deixaria em 2003, inconformado com os rumos do recém-iniciado governo Lula. “Foi doloroso ver o PT tomar o rumo que estava tomando. Mas eu me senti fortalecido, porque estava trilhando o caminho que sempre trilhei.”

Fora do PT, Afonso ajudou na criação do PSOL, mas novamente se afastou – segundo ele, ao ver que a nova legenda estava se tornando “eleitoral”. Com isso, liderou a fundação do PSTU no município, sigla pela qual concorre pela segunda vez ao Palacinho e com a qual recebeu mais de 500 votos para vereador em 2012.

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Gosto pela terra e pelo rio

Conhecido pelos embates de todos os anos com as entidades patronais acerca, principalmente, de questões salariais e do calendário do comércio, assim como pelas marchas no Centro nas quais quase sempre está à frente com um microfone na mão, Afonso divide seu tempo livre em dois locais. O primeiro é a residência do Loteamento Jacarandá, onde também pratica um de seus passatempos preferidos, além da criação de pássaros e de orquídeas: o trabalho na terra. “Moramos aqui há 12 anos e nunca compramos feijão. Cheguei a ter três terrenos de plantação.” Outro é uma casa à beira do rio em Lima Brandão, entre Rio Pardo e Cachoeira do Sul, onde se refugia com um pequeno barco e um molinete de pesca.

Esse tempo também é compartilhado com a família: a esposa Clair (também oriunda do movimento sindical), quatro filhos e seis netos (o mais velho tem 18 anos).

Para ele, a compreensão da família sobre suas convicções foi fundamental. “A primeira coisa que tem que ganhar, quando se faz essa opção de vida, é a família. Se não ganha, não dá certo. Foi o que aconteceu no meu primeiro casamento”, relata. E a herança está garantida: a filha mais nova, Tauâni, já milita pelo movimento estudantil.
 

“Não é de sonhar, é possível”

Contrariando a máxima segundo a qual “esquerda é coisa de jovem”, Afonso completará 70 anos em setembro ainda ativo no sindicalismo e, garante ele, acreditando em tudo que sempre acreditou. “Enquanto eu tiver vida, vou lutar. Quero que meus netos olhem para a minha foto na parede e pensem: ‘Esse velho lutou por nós’”.

Para ele, que repete de cabeça os números da dívida pública e não se constrange em defender serviços 100% públicos e o cooperativismo como modelo econômico, não se trata de ingenuidade acreditar em uma sociedade mais igualitária. “Eu acredito que o ser humano tem que melhorar.  Se um tem direito a um carro ou uma casa, que todos tenham. Isso não é de sonhar, é possível.”

Sobre outro mito corrente, o de que sindicalista é o sujeito que não gosta de trabalhar, responde com um desafio: “Convido quem pensa assim a passar uma semana conosco e ver tudo o que nós fazemos”.

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