Hoje, 12 de janeiro de 2018, faz oito anos que a médica de Forquilhinha, Santa Catarina, voltou para a pátria celeste: o eterno recomeço. Que os iorubas chamam de orun… Disparou para o Inominável, Deus, no horrível acidente no Haiti, onde se encontrava em missão, após proferir conferência. Conduzida pelo terremoto ceifador de tantas vidas em Porto Novo.
Biografias de seres humanos de primeira grandeza são marcadas por vidas transportadoras da luz. Da centelha divina que existe em cada um de nós, mas que nem todos sabem ou podem contemplar. Como poucos compreendem a linguagem das flores, ou de mascotes. Ou ouvem o grito desesperado dos excluídos. Ah, quem me dera… Zilda Arns é um exemplo disso. Digna biografia entre tantas mesmices que fazem D. História cochilar de tédio, na cadeira de balanço. A fundadora da Pastoral da Criança viveu para o serviço dos mais carentes. De olhos no futuro. Coração pleno de amor. D. História aplaude de pé.
Encontrava-me no refeitório do mosteiro, nesta querida Santa Cruz, ao receber no peito a bola mal arremessada ou defendida: sei lá. Sem aviso. Um terremoto provocado pela leitura daquele dia. Na vida monástica, isto é, nos mosteiros, as refeições são saboreadas em silêncio. Ouvidos apenas para a leitura de algum texto escolhido, enquanto se degusta o alimento “para o corpo”: o combustível de que nós pobres mortais precisamos to move on, como dizem os conterrâneos de tio Sam: o velhote de sorriso congelado e olhos de aço; de longuíssima e implacável memória, minha gente.
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Ao ler a notícia da Gazeta do Sul, lágrimas percebidas depois pontuaram o espanto. Como sempre em momentos semelhantes, de emoções disparadas, de cor declamo silencioso trecho de o “Soneto da Separação”, de Vinícius de Moraes: “De repente, não mais que de repente, do riso fez-se o espanto”… Duro, aquilo. Inesperado. Verdadeiro martírio a morte dela. A médica viúva, mãe, irmã mais jovem de D.Paulo Evaristo Arns, em várias funções ao longo de sua existência, foi registrada por D. História, em sua eterna cadeira de balanço, para frente e para trás, como alguém que viveu para minorar o sofrimento. Principalmente das crianças: futuros cidadãos do mundo. E também de idosos.
Costumava dizer que é “preciso educar para a esperança”. Que lindo! O mano Pêndulo do Relógio, companheiro de aventuras e orações, pede à Dama Sorriso que interceda por nós todos, junto de Deus, e por este país que precisa tanto de esperança. Outra vez penso em Vinícius. Em “Pátria minha”, meu poema predileto e de sua neta Mariana de Moraes. Em pequenos goles, vamos bebericar pequeno trecho, pensando em biografias de fogo: tijolos construtores da Esperança tão cara para a brasileira Dra. Zilda Arns Neumann.
…“Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei. Como, por que e quando a minha pátria.
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água. Que elaboram e liquefazem a minha mágoa. Em longas lágrimas amargas. Se me perguntarem o que é a minha pátria direi: Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria. Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água. Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.”
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