Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o empresário Leonardo Meirelles, dono do laboratório Labogen, disse nesta quinta-feira (7) que Alberto Youssef usava contas de suas empresas para receber e repassar valores. Ele disse que não conhece o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que não sabe de transferências para contas específicas de Cunha e nem se o parlamentar tem contas no exterior.
No depoimento, Meirelles falou também que, em uma conversa informal, Youssef disse que tinha sofrido pressão por uma transferência grande e que os valores eram “para Eduardo Cunha”. Meirelles depõe como testemunha no processo que pede a cassação do mandato de Cunha.
“Youssef só me passava valores e pedia para checar pelas contas. Geralmente, eram offshores e é muito difícil ter os nomes de pessoas físicas”, disse Meirelles, que recebia uma remuneração por cada transferência efetuada. O empresário relatou que, em um almoço com o doleiro, após ter visto o empresário Júlio Camargo ter deixado o escritório do doleiro, Youssef disse que estava aliviado por ter finalizado um contrato. “Ele comentou sobre a pressão que sofria por ser uma transferência grande. Era de Eduardo Cunha os valores desta transferência”, afirmou Meirelles.
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“Ele [Alberto Youssef] não entrou em detalhes [sobre o contrato] e fui ligando as informações [após ter conhecimento das delações de Youssef e Júlio Camargo]. Já prestei depoimentos por 48 oportunidades, tanto na Justiça Federal do Paraná, PF [Polícia Federal], PGR [Procuradoria-Geral da República], nesta Casa por três vezes. Não estou aqui para prejulgar ou acusar ninguém. Só estou colocando fatos que já foram elucidados”, acrescentou.
Cunha é alvo de uma representação que o acusa de ter mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em março do ano passado, quando negou ter contas no exterior. Posteriormente, documentos do Ministério Público da Suíça revelaram a existência de contas ligadas a ele naquele país. Uma das denúncias é que Cunha tenha recebido US$ 5 milhões em uma conta secreta no exterior.
No depoimento ao colegiado, Meirelles confirmou que recebeu em uma de suas contas em Hong Kong o valor de US$ 5 milhões, que foi repassado em três operações. O empresário negou que alguma transferência tenha sido feita para contas na Suíça. “Foram três transferências. Duas de US$ 2,3 milhões, uma de US$ 800 mil e outra de US$ 400 mil. Recebi da empresa de Júlio Camargo na minha conta em Hong Kong”, disse, reiterando que não sabia o destino do dinheiro. “Já entreguei aproximadamente mais de 400 swifts de pagamentos das minhas empresas no exterior para beneficiários terceiros que não sei identificar quem eram”, afirmou.
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Meirelles disse que outros políticos receberam repasses de Youssef, ao relatar que vários desses políticos frequentavam o escritório do doleiro ou eram mencionados pelo próprio Youssef. E afirmou que não pode revelar nomes de beneficiários por causa das colaborações que firmou com a Justiça do Paraná, que conduz a Operação Lava Jato, e com o Ministério Público.
Eduardo Cunha nega ser dono das contas na Suíça e afirma ser apenas o “usufrutuário” dos ativos. Segundo o peemedebista, ele era beneficiário de um truste — que não precisava ser declarado à Receita Federal —, e não proprietário de contas.
A representação contra Cunha foi apresentada pelo PSOL e pela Rede, e acatada pelo conselho, por 11 votos a 10, no dia 2 de março. No último dia de prazo regimental, dia 21, Cunha apresentou sua defesa em mais de 60 páginas e cinco anexos, contendo notas taquigráficas e documentos.
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Leonardo Meirelles
Leonardo Meirelles é apontado como operador do doleiro Alberto Youssef, e responde a 12 processos abertos pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Youssef é acusado de operar uma rede de empresas de fachada em que recolhia dinheiro de empreiteiras e repassava parte dos recursos a partidos, políticos e funcionários públicos.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Meirelles atuava na gestão das empresas Labogen, Piroquímica, RMV e HMAR, praticando crimes de evasão de divisas a mando de Youssef. Meirelles está em liberdade desde 11 abril de 2014. O empresário fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
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