Em pleno final do século 20, enquanto vivíamos o advento da tecnologia de computadores e da comunicação global, um exército de poderosos soldados imperiais, portando armas afiadas e cobertos por coloridas armaduras, emergiu do subterrâneo chinês. Depois de 2.200 anos enterrados e desconhecidos, abriu-se na neblina do tempo o desejo de um homem, de perpetuar sua glória e seu domínio. Um dos fascínios da China está na sua história milenar, que segue sendo revelada e parece impossível de ser compreendida.
Qin Shi Huang viveu entre 259 a.C. e 210 a.C., e nesse curto período conseguiu, pela estratégia e pela força, agregar os sete antigos reinos chineses, tornando-se o primeiro imperador da China unificada. Colocado no trono aos 13 anos de idade, expandiu seu império com magistral estratégia militar, enquanto procurava incansavelmente uma forma de eternizar-se. Logo aos 14 anos, iniciou a construção de seu inigualável mausoléu, construído 42 quilômetros a leste da magnífica cidade de Xiam, a primeira capital chinesa e considerada ponto de partida da Rota da Seda. Na época com mais de um milhão de habitantes, a cidade disputava com Roma o título de maior cidade do mundo, dois séculos antes do início da era cristã.
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Tive a sorte de visitar Xiam em diversas oportunidades, já que ali está um dos braços da gigante AVIC, companhia estatal aeroespacial do país de Mao e fornecedora da empresa em que eu trabalhava. Lembro-me do desconforto que causei um dia ao estender uma reunião por alguns minutos, enquanto me pediam que deixássemos a empresa antes do final do expediente. Terminada a pauta, perguntei o porquê da pressa, e me levaram até a janela, de onde avistei o mar de bicicletas dos mais de 14 mil funcionários que tomavam todas as vias de saída do complexo.
Em outra oportunidade, ao visitar uma parte do setor de fabricação destinada a equipamentos militares, caminhei pela fábrica com quatro funcionários que deslocavam tapumes ao meu redor para que eu não enxergasse o processo de produção. Tudo, é claro, de forma gentil, ainda que um pouco surreal.
Os 26 quilômetros de muralhas da antiga capital chinesa, um quadrilátero que protegia o palácio da subsequente dinastia Han (194 a.C.), podem ser percorridos a pé ou em bicicletas, e são um testemunho da opulência das antigas dinastias chinesas. Além da riqueza, o comércio gerado pela rota da seda trouxe para a região diferentes culturas ao longo dos séculos. A religião muçulmana ainda é marcante nessa que é hoje a capital da província de Shaanxi, no centro-leste chinês. Mesquitas, templos budistas e mercados típicos misturam tradições e costumes que representam uma atração a mais para a cidade.
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Qin Shi Huang, o imperador-dragão, arquitetou uma rede de estradas que existem até hoje em todo o país, consolidou os mais de 5 mil quilômetros da Grande Muralha para conter os imbatíveis mongóis, uniformizou a moeda, a escrita e o sistema de pesos e medidas, estabelecendo em poucas décadas as fundações de um país que perduram há mais de 2 mil anos.
Enquanto isso, mais de 700 mil escravos seguiam construindo sua última morada, o mausoléu que levou 38 anos de trabalho para reproduzir fielmente seu palácio, o relevo de seu reino, suas conquistas, seu modo de vida e, principalmente, seu exército imperial.
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