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Voto e responsabilidade

A ascensão vertiginosa da candidatura à Presidência da República de Luciano Huck  – já descartada pelo próprio – comprova o clima de orfandade política do País. Bastou que uma celebridade global redigisse alguns artigos em jornal de circulação nacional com teor político para se transformar em esperança de resgate da decência que abandonou a atividade pública verde-amarela.

Huck é milionário, casado com uma atriz/apresentadora global, dono de pousadas em Fernando de Noronha e no litoral carioca, além de acionista de inúmeros empreendimentos. Como observador da cena nacional, talvez ele tenha produzido um balão de ensaio para testar sua popularidade, mas certamente ficou assustado com o clima de desolação nacional tão intenso que gerou uma comoção nacional.

A busca de um salvador da pátria é um dos piores efeitos da crise que vive a política brasileira. Lembro, com dor n’alma, de Fernando Collor de Mello, outrora caçador de marajás que protagonizou um show de marketing. Numa época em que as redes sociais eram somente um devaneio, o ex-governador de Alagoas arrastou uma multidão de fiéis eleitores. Meses depois, o País soube do verdadeiro caráter do homem que foi do céu ao inferno via impeachment.

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A falta de participação dos brasileiros é outra consequência que coloca em risco a democracia, depois de décadas de obscurantismo ditatorial permeado pela censura, tortura, prisões ilegais e argumentos maquiados atualmente para justificar uma ação “enérgica contra a violência e a insegurança”.

Quando me perguntam como consigo trabalhar com política, respondo que se trata de uma espécie de compartilhamento de responsabilidade. Afinal, nenhum representante – seja vereador, prefeitos, deputado estadual e federal, senador ou presidente da República – brotou espontaneamente. Todos – rigorosamente todos! – foram eleitos, receberam uma procuração.

A crítica à atividade política, a generalização de que todos são ladrões e/ou corruptos somente incentiva a permanência dos vigaristas, além de assustar as pessoas de bem que até pensam na possiblidade de disputar um cargo. Omitir-se se assemelha a dar um cheque em branco àqueles que saqueiam os cofres públicos, manipulam licitações, aparelham órgãos públicos com companheiros ou se locupletam pessoalmente do cargo ou função.

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Diante de tamanha variedade de golpes cometidos contra todos nós, não surpreende que um apresentador de programas vespertinos de fim de semana seja alçado à condição de salvador da pátria. Nós, que muitas vezes votamos com o coração ao invés da razão, e nunca sequer verificamos os votos dados por nossos representantes, temos percentual significativo de responsabilidade com o que ocorre de lamentável no Brasil.

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