Sistema político representativo em crise não é uma particularidade brasileira. O mesmo sentimento de inoperância e decepção popular também é percebido em outras nações.
Não em defesa de nossa “geleia” geral, mas explicando e justificando a confusão, devemos observar que a atualidade mundial é de absoluta inquietude, inconstância e com graves crises cíclicas.
São eventos sociais e econômicos negativos que começam discretos, locais e setoriais, para logo, logo, serem escandalosos, inter-regionais e gerais.
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A frequência das crises e suas características diferenciadas têm causado grande confusão nos governos, nos partidos políticos e naquilo que identificávamos até então como suas convicções ideológicas. Dito de outro modo, na essência, nem o mercado tem a capacidade de autorregulação, nem o estado tem o poder de resolução e “apagar incêndios”. Mas, tanto em uma e outra hipótese, há graves efeitos colaterais sociais.
Entre nós, brasileiros, as faces mais frequentes da degradação do processo político-partidário têm sido o clientelismo, a corrupção e o cinismo. Consequentemente, não é à toa que a população rejeita e hostiliza a política. Os jovens, por exemplo, em sua maioria, a menosprezam e ignoram.
Por razões formais, o que mantém as aparências e dissimula nossa crise de representação é a obrigatoriedade do voto. Parênteses: na verdade, é obrigação de presença, admitida a justificativa por ausência.
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Logo, desinteresse popular, abstenção e voto nulo (e branco) funcionam como forma de crítica e denúncia de métodos medíocres. Práticas que não oferecem alternativas, que confundem a opinião pública, e que, dia após dia, tornam os partidos cada vez mais iguais entre si.
Há dois aspectos extremamente danosos na política brasileira. Primeiramente, o Estado é muito centralizador e arrecadador. Logo, há poder e dinheiro demais em Brasília. O resultado é corrupção e má gestão.
O segundo ponto diz respeito ao Poder Legislativo. Teoricamente, um poder soberano. Mas, na prática, predominantemente submisso ao Poder Executivo. Logo, em moto-contínuo, resulta que não há mais representantes dos interesses populares e fiscais da execução orçamentária. Direta ou indiretamente, o objetivo de parlamentares é fazer parte do governo.
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Diante do continuado descrédito e frustração com a “geleia” político-partidária, a pergunta popular predominante sempre era a seguinte: em quem votar? Mas, ultimamente, a pergunta é outra: por que votar?
Repito, o que mantém as aparências formais e dissimula nossa crise de representação é a obrigatoriedade do voto!
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