Com as portas fechadas há mais de três anos, um grupo de pessoas da comunidade ou com laços familiares com Rio Pardo decidiu unir as mãos para garantir a preservação do prédio mais antigo da cidade. A Associação de Amigos do Solar do Almirante (Aasa), fundada em 17 de janeiro deste ano, receberá nesta sexta-feira, 14, do prefeito Rafael Reis Barros, às 10 horas, as chaves do prédio que abrigou durante muitos anos o Museu Municipal Barão de Santo Ângelo. O ato ocorre na frente do prédio, mas em caso de chuva será no gabinete do prefeito. No dia 5 de novembro, a entidade já obteve a cessão de uso provisória do imóvel da Superintendência do Patrimônio Histórico da União.
Construído em 1790, o Solar Almirante Alexandrino de Alencar não recebe mais pessoas para visitação desde o final de 2016, quando foi brevemente reaberto após a inauguração das obras de reforma. A presidente da Aasa, Patricia Boeira da Fontoura, afirma que possui paixão pela história de Rio Pardo e do Rio Grande do Sul. A preocupação com o prédio surgiu ao ver um vídeo no ano passado sobre as condições internas. Ao conversar com amigos, em pouco tempo surgiu a articulação de um grupo de 12 mulheres e começou o primeiro passo para a formação da associação, com a elaboração do estatuto. “A preocupação principal da entidade é tomar iniciativas que produzam riquezas, cultura e vida social para Rio Pardo”, destaca Patricia.
Por meio de indicações, o grupo envolveu pessoas com conhecimento na área do patrimônio histórico para traçar os objetivos do restauro. Patricia explica que havia conhecimento de que a cessão de uso do prédio não pertencia mais ao município de Rio Pardo. Diante disso, houve contatos com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) e o Ministério Público Federal, com o encaminhamento de toda a documentação para obter a cessão do solar.
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Patricia afirma que a associação pretende atualizar a patologia da construção e a estimativa do valor necessário para manter a estrutura de pé. A ideia é chamar a comunidade para colaborar, fazer vaquinhas, eventos e outros projetos para obter recursos. “O objetivo da Aasa é restaurar o prédio em etapas, contando com o apoio da iniciativa pública e privada, para que possa se tornar um espaço autossustentável, em condições de abrigar atividades culturais e artísticas”, diz a advogada. As intervenções mais urgentes são no telhado e nas paredes externas para estancar as infiltrações. A ideia é transformar o local em um centro cultural, onde “a comunidade se sinta dona do espaço”. O retorno do museu ao prédio está descartado.
A construção
O prédio na Rua Almirante Alexandrino, esquina com a Rua São Francisco, configura-se como um típico sobrado do século 18, reunindo soluções funcionais, construtivas e estéticas representativas do período colonial da história brasileira. Dessa forma, a construção é considerada como um dos mais significativos remanescentes dessa fase da arquitetura brasileira no Estado. O pavimento térreo serviu como ala comercial e de serviços, com área construída de 120,61 metros quadrados. O pavimento intermediário abrigava a cozinha doméstica, com 53,13 metros quadrados, enquanto a parte superior era a ala residencial, com 120,61 metros quadrados.
A construção ocorreu em 1790, por Mateus Simões Pires, um dos primeiros açorianos a chegar em Rio Pardo. O sobrado, de arquitetura colonial, foi erguido em barro e madeira dois metros acima do nível da rua. Inicialmente era um prédio comercial, composto de 12 salas e uma senzala em dois pavimentos. Alexandrino de Alencar nasceu no local em 2 de outubro de 1848. Ele teve importante papel na política e na Marinha, fez propaganda republicana, participou da revolta de Saldanha da Gama, serviu na esquadra brasileira em operações no Paraguai combatendo sob as ordens de Tamandaré e Barroso, foi senador, ministro do Supremo Tribunal Militar e ministro da Marinha. Casou com Amália Murray Simões e Santos e teve duas filhas e um filho.
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O Museu Barão de Santo Ângelo, que funcionou durante muitos anos no imóvel, foi inaugurado em 1935, com uma exposição de artefatos raros utilizados durante a Revolução Farroupilha. Na época havia cerca de 950 peças referentes à história de Rio Pardo e do Rio Grande do Sul. Em 1939, o local reconhecido como de utilidade pública. Nele também havia armas usadas por desbravadores e objetos de origem indígena, além de uma senzala doméstica e uma mobília de jacarandá. Atualmente as 250 peças do museu, como a mobília da primeira Câmara de Vereadores (1811) que também serviu de tomo a Dom Pedro II, além de armas da Revolução Farroupilha, estão no Centro Regional de Cultura.
Aspectos cronológicos
O prédio foi adquirido pelo Ministério da Marinha em 29 de abril de 1954.
Posteriormente, teve seu uso e ocupação transferidos para o Ministério da Educação e Cultura, por meio de decreto de 31 de agosto de 1962, destinando-se ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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O imóvel, no entanto, só passou para a jurisdição da diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 28 de julho de 1970.
No ano de 1982, com as obras de restauro concluídas, o prédio passou a abrigar o Museu Municipal Barão de Santo Ângelo, mediante cessão firmada entre a Prefeitura e a extinta Fundação Nacional Pró-Memória.
Desde então, o imóvel abrigou o museu, cujas despesas de conservação, custeio das atividades institucionais e com funcionários foram de responsabilidade do poder público municipal.
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Problemas de conservação voltaram a afetar o sobrado em 2012, quando passou a receber apenas grupos de visitantes com agendamento para entrar no local e contemplar somente o primeiro pavimento. O segundo piso já havia sido interditado em razão das infiltrações, goteiras e problemas com cupins.
Em 2014 houve o fechamento do prédio em definitivo para passar pelo processo de reforma.
A reinauguração ocorreu em 25 de setembro de 2016 após as reformas com o apoio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), com doação de madeira apreendida, da Marinha do Brasil, que arcou com a mão de obra; e do Iphae, responsável pela parte técnica e vistoria dos trabalhos, além da Prefeitura.
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No início de 2017 houve a constatação de infiltrações, com o alagamento do interior do prédio, o que prejudicou a conservação do material.
No fim de agosto de 2017, o acervo do Museu Municipal Barão de Santo Ângelo foi transferido para o Centro Regional de Cultura Rio Pardo.
Atualmente, o prédio do Solar Almirante Alexandrino encontra-se fechado e não abriga nenhuma atividade.
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