Categories: Cultura e Lazer

Volta ao mundo: asas da memória e da história

O português Fernão de Magalhães liderou a primeira circum-navegação ao planeta, entre 1519 e 1522, como detalhou o historiógrafo daquela expedição, o italiano Antonio Pigafetta, no livro A primeira viagem ao redor do mundo. Quase 500 anos depois, outro aventureiro entrou para a História por ter dado uma volta completa na Terra: o suíço-brasileiro Gérard Moss, que completou percurso de 55 mil quilômetros em cem dias, em 2001. Sozinho. E a bordo de um simples planador Ximango. Essa façanha igualmente foi contada em livro, Asas do vento: a primeira volta ao mundo num motoplanador, organizado por sua esposa, Margi, e que a editora Record incluiu, com pertinência, na coleção “Aventura Extrema”. O título alude ao projeto montado por ambos para essa incrível viagem.

Ainda que a partida do longo périplo tenha ocorrido no Rio de Janeiro, no dia 20 de junho (a viagem culminou nessa mesma cidade em 28 de setembro), curiosamente a preparação está associada ao Vale do Rio Pardo, mais especificamente a Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. No início daquele junho, Gérard veio ao Rio Grande do Sul, uma vez que o Ximango PT-ZAM, no qual ele iria empreender a façanha, estava sendo equipado na empresa Aeromot, em Porto Alegre, inclusive a proprietária do planador. 

Antes de partir para o mundo, ele precisaria se submeter a treino básico. O problema é que o PT-ZAM não contava com comando duplo para treinamento. Foi quando a equipe da Aeromot sugeriu que Gérard se preparasse no aeroclube de Santa Cruz do Sul, onde um modelo PT-KDP estaria à disposição. Esse exemplar pertencia ao então administrador do clube, Breno Knies. 

Publicidade

E foi Knies quem o recepcionou. O venâncio-airense lembra com carinho daqueles dias de convívio. Moss veio de Porto Alegre a Santa Cruz num PT-ZAM, no sábado, 2 de junho, na companhia de Rafael Sandi, piloto de prova da Aeromot. Em seus relatos, Moss mencionou que Rene Karnopp, vice-presidente do clube, o levara a fazer um tour pela cidade. Hospedara-se no hotel Charrua, no Centro.

No domingo, fora com Rafael até o aeroclube de Venâncio Aires. “Esse charmoso clube tem uma pistinha de grama, daquelas que adoro, muito bem-conservada”, registrara. E deu voltas no PT-KDP de Knies. Enquanto se preparava em Santa Cruz e Venâncio Aires, em Porto Alegre a equipe da Aeromot dava os últimos retoques de equipamento no PT-ZAM que, cerca de três semanas depois, levantaria voo para circum-navegar o mundo.

FANTÁSTICO

Publicidade

Em conversa por telefone, Knies disse lembrar muito bem daqueles dias da presença de Moss em Santa Cruz. Tanto que guarda fotos tiradas no aeroclube. “E acompanhei toda a viagem dele pela internet. Reportava-me a ele quase todos os dias, e ele respondia sempre que podia, dos mais diversos lugares por onde ia passando”, recorda Knies. “Quando retornou, conversamos em algumas ocasiões. Depois recebi o livro que ele e a Margi fizeram, além do livro com fotos da viagem.” Enquanto Gérard partira para a volta ao mundo, Margi ficou em terra, no Rio, dando suporte indispensável no desembaraço de entrada no espaço aéreo das diferentes nações.

A exemplo de Knies, todo o Brasil acompanhou o percurso. Com o olho fixo na tela da TV. Tudo porque o programa Fantástico, da Globo, exibia a cada domingo a atualização do avanço no roteiro de Moss. Em exatos cem dias, sozinho no Ximango, ele percorreu 55 mil quilômetros, visitou 30 países e fez 89 escalas, para descanso e reabastecimento. 

Depoimentos dele e imagens gravadas das paisagens por onde passava eram compartilhados com os telespectadores, de maneira que por mais de três meses Moss tornou-se uma estrela, ovacionada na medida em que avançava no seu périplo em redor do planeta. Para isso, treinou em Santa Cruz. Como tudo correu muito bem, evidencia-se que estava muito bem preparado.

Publicidade

PARA LER E VIAJAR

Asas do vento: a primeira volta ao mundo num motoplanador, de Gérard Moss, em depoimento a Margi Moss. Rio de Janeiro: Record, 2002. 336 p. il. 

O livro encontra-se fora de catálogo na Record, mas pode ser localizado em sebos e livrarias que trabalham com estoques antigos. No site Estante Virtual há 36 exemplares à venda, com preços que variam de R$ 10,00 a R$ 55,00. Lançado em 2002, esse volume teve em paralelo, em simultâneo, outro livro, de 152 páginas e formato 31x31cm, com fotos tiradas por Gérard durante a viagem, com textos de Denise Gonçalves e Margi Moss. Também pode ser encontrado em sebos.

Publicidade

A vez dos rios voadores

Nos últimos anos, em função de novos projetos, Gérard Moss voltou seus olhos para outras regiões. Para situar o projeto Asas do Vento, o Magazine buscou contato com ele. Através do jornalista Eugênio Mussak, da revista Vida Simples, chegou-se ao envio de e-mail a Moss. Quando ele respondeu, na quarta-feira, por WhatsApp, encontrava-se na Suíça, sua terra natal, viajando em companhia de Margi. Mostrou-se surpreso com a menção a sua visita a Santa Cruz, em junho de 2001. 

Gérard nasceu em 16 de maio de 1955, está com 62 anos, e Margi é de Nairóbi, no Quênia. Mais recentemente, o casal dedicou-se ao projeto Rios Voadores. Desde 2007 sobrevoa regiões da Amazônia em um pequeno monomotor. Coleta amostras de vapor d’água, auxiliando em pesquisas científicas. É para exposição alusiva a esse projeto que o casal está na Suíça. Mas exultou ao lembrar de Santa Cruz: “Puxa, que alegria!”, foi sua reação.

Publicidade

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

Share
Published by
Naiara Silveira

This website uses cookies.