Com o fim do período de férias e do Carnaval, o santa-cruzense voltou a enfrentar nessa semana um problema antigo e que só piora: a tranqueira no trânsito em determinados horários e pontos da cidade. Nada muito diferente dos demais polos regionais do interior do Estado, mas algo que não era muito comum por aqui até menos de uma década atrás.
Motoristas que reclamavam de congestionamentos em quatro ou cinco lugares, por exemplo, hoje têm mais de uma dezena de barreiras para superar nos horários de pico. Embora Santa Cruz tenha ruas largas e geralmente bem sinalizadas, alguns fatores são determinantes para agravar o problema. E tornar ainda mais desafiadora a busca por soluções.
Consequência da economia forte – o município tem hoje o quinto maior Produto Interno Bruto (PIB) do Estado –, a frota de veículos é imensa. Segundo o Detran, só em Santa Cruz são 86,6 mil emplacamentos. Sem contar carros, ônibus e caminhões de outras cidades que transitam por aqui diariamente. Considerando a estimativa de 126,7 mil habitantes, significa que existe um veículo para cada 1,4 habitante. A média de Porto Alegre, por exemplo, é de um veículo para cada 1,8 habitante.
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Santa Cruz tem a 12ª maior frota do Rio Grande do Sul. Em dez anos o crescimento foi de 53%, enquanto a população aumentou 9,4%. No período, 30,1 mil veículos a mais passaram a circular, mas poucas obras estruturantes foram feitas para amenizar o impacto. E esse é o segundo fator que agrava o anda-e-para enfrentado pelos motoristas.
Especialista em gestão e legislação de trânsito, o tenente-coronel da reserva Ordeli Savedra Gomes acrescenta outra particularidade de Santa Cruz: a centralização do comércio e do ensino, o que obriga muita gente a passar todos os dias pelos mesmos lugares, muitos deles no Centro ou no entorno. A falta de incentivo ao uso de meios alternativos de transporte, como ônibus e bicicleta, também contribuiu para o problema ao longo dos anos, avalia. No entanto, investimentos em ciclovias e a licitação do sistema de ônibus tendem a compensar isso daqui para a frente.
“Os motoristas levam em conta o custo que vão ter utilizando ônibus, por exemplo, e acabam optando pelo transporte individual. O coletivo precisa ser confortável, seguro e viável para ser usado”, resume o especialista. Já em relação ao uso de bicicletas, Gomes destaca a necessidade de investir em segurança, além da estrutura viária. “Não adianta ir ao Centro ou trabalho e não ter um local seguro para deixar a bicicleta.”
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Mesmo que a fluidez do tráfego esteja cada vez mais comprometida, o especialista avalia que o quadro ainda não é alarmante – mas deve servir de alerta para o futuro. “Ainda é possível evitar que o problema cresça demais. Se nada for feito, a situação vai piorar”, adverte.
A Prefeitura afirma estar atenta aos cada vez mais comuns gargalos que se formam no trânsito. O secretário municipal de Transportes e Serviços Urbanos, Gerson Vargas, diz que medidas importantes já estão sendo tomadas. Um dos exemplos são as ciclovias e ciclofaixas implantadas nos últimos anos. Outro, o reforço na manutenção da sinalização viária.
Mas a grande aposta é mesmo na melhoria da pavimentação de ruas da área central e da Zona Norte para que venham a ser boas alternativas aos motoristas. “No momento em que as ruas Thomaz Flores e Gaspar Silveira Martins estiverem asfaltadas, o que vai acontecer em breve, com certeza o fluxo no Centro vai melhorar muito”, acredita o secretário. Ele diz que um conjunto de 20 vias já foram ou estão sendo asfaltadas, incluindo a 28 de Outubro (que liga o Parque da Oktoberfest à Unisc) e a Augusto Spengler (entre o Santo Inácio e o Universitário).
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ONDE MELHOROU
Obras, ajustes na sinalização e até mesmo no sentido de algumas vias melhoraram o fluxo em alguns pontos da cidade nos últimos anos. Um dos exemplos é o trevo do Bom Jesus, que dá acesso a Vera Cruz. Foi ampliado e ganhou nova iluminação, o que deu fim à fama de “trevo da morte”. O entroncamento da BR-471 com a Coronel Oscar Jost também recebeu uma intervenção importante no ano passado, que acabou com as constantes filas e o risco de acidentes.
Arroio Grande é um desafio e tanto
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A expansão imobiliária de toda a Zona Sul da cidade (incluindo regiões dos bairros Aliança, Santo Antônio, Esmeralda e outros) sem o devido planejamento também na área da mobilidade só aumentou uma queixa feita há anos por motoristas que utilizam as principais vias do Arroio Grande.
Para a Prefeitura, essa é uma das maiores preocupações. Tanto que, no ano passado, foi anunciado um conjunto de mudanças que seriam feitas na região da rótula do Três Coqueiros para tentar destravar o trânsito no local, um dos maiores gargalos. A ideia era transformar em mão única (sentido Arroio-Distrito Industrial) o trecho da Avenida Castelo Branco em frente ao antigo módulo da BM, fazendo com que os motoristas utilizassem a Rua Acre para seguir em direção à Barão do Arrio Grande, por exemplo. Já o trecho da Euclydes Kliemann entre a rótula e a Rua Acre (em frente à Caixa) ficaria somente no sentido bairro-Centro. O secretário Gerson Vargas diz que obras complementares ainda precisam ser feitas. Não há previsão.
RÓTULA DO 2001
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Importante ligação do Centro com o Bairro Avenida e toda a região da Unisc (Universitário e Independência), além de Rio Pardinho e Sinimbu, a rótula nos fundos do Parque da Oktoberfest apresenta trânsito carregado no fim da tarde. A fila no sentido Centro-bairro da Avenida Independência se inicia pouco depois das 17h30 e termina somente por volta das 18h45.
ARROIO GRANDE
A dificuldade se inicia na altura ou, dependendo do horário, até antes do entroncamento da Euclydes Kliemann com a Paul Harris e segue em direção aos bairros. Longas filas se formam principalmente a quem precisa passar pela rótula do posto Três Coqueiros para seguir em direção a bairros como Aliança, Santo Antônio e Vila Nova, por exemplo. O fim da tarde é o momento mais crítico do dia. Vias alternativas (como ingressar na Goiás e depois na Demétrio Ribeiro para quem segue pela Paul Harris em direção ao bairro) também apresentam esgotamento.
ENTORNO DA PRAÇA
A localização por si só já atrai um volume considerável de veículos. Somam-se a isso o comércio, supermercado, bancos e duas das mais tradicionais instituições de ensino da cidade. A combinação torna desafiador andar no entorno da Praça Getúlio Vargas nos horários de pico, em especial no fim da manhã e no fim da tarde. Encontrar vaga para estacionar é quase uma loteria.
TREVO DA RSC-287
O trevo que liga a RSC-287 à Avenida Independência e à RSC-471 (Rio Pardinho e Sinimbu) também tem movimento intenso nos fins de tarde. Muitos ônibus passam pelo local, o que aumenta as filas. Moradores do entorno e vereadores foram ao secretário estadual de Transportes nessa semana pedir a instalação de um semáforo.
FRITZ E FRIDA
Embora tenha reduzido muito desde a construção dos desvios da obra do viaduto, a tranqueira no sentido Centro-Linha Santa Cruz ainda incomoda nos fins de tarde. Dependendo do dia, a fila passa de um quilômetro no Acesso Grasel. Mas é um problema com os dias contados, uma vez que o viaduto da RSC-287 deve ficar pronto até maio, segundo a EGR.
INDEPENDÊNCIA COM SÃO JOSÉ
Há poucos anos, a Rua São José era uma boa alternativa à tranqueira da Rótula do 2001 para quem segue em direção à Unisc, por exemplo. Mas não é bem assim. Também nos fins de tarde é comum enfrentar longas filas no local, onde existe uma sinaleira.
JOÃO PESSOA E CORONEL OSCAR JOST
Importante caminho do Centro para os bairros Universitário, Santo Inácio e a própria Unisc, a Avenida João Pessoa costuma ter trânsito lento no trecho em frente ao Corpo de Bombeiros. O horário crítico é no fim da tarde, quando a situação piora devido ao trânsito intenso de ônibus. A Coronel Oscar Jost também fica com tráfego lento em dois pontos naquela região: nos fundos do Parque da Oktoberfest e no entroncamento com a Avenida do Imigrante e a Senador Alberto Pasqualini, no Shopping Santa Cruz.
THOMAZ FLORES
É uma das vias da área central onde o problema mais se agravou nos últimos anos, tanto que novas sinaleiras precisaram ser instaladas. O movimento já era crescente, mas a forte expansão imobiliária da região de João Alves acentuou muito o fluxo na parte alta da rua, principalmente no entroncamento com a João Werlang. A Thomaz Flores será asfaltada ao longo do ano.