Mãe, vó ou bisa. Ela era chamada de vários nomes por muitas pessoas. Nasceu Maria Adelaide Escada. Filha de portugueses que imigraram para o Brasil. Casou e se tornou Hohgraefe. Viveu até este sábado durante 89 anos. Foram quase nove décadas de uma vida plena.
Meu caminho cruzou com o dela em julho de 1994. Era minha primeira vinda a Santa Cruz do Sul para conhecer a família de minha “amiga” de faculdade, na festa de aniversário de casamento dela. Logo de cara me senti em casa, muitíssimo bem recebido por todos. Mas Vó Maria fez algo inesquecível naquela noite. Me “batizou” com um banho de guaraná. Desde então sempre brincávamos sobre o acontecido.
Não tinha lugar mais acolhedor do que a casa dela. Ponto de encontro para todos os seus filhos, netos e bisnetos, além de muitos e muitos agregados como eu. Todos estamos eternizados nas paredes da sua casa e em seus porta-retratos, nas fotos tanto desejadas e curtidas por ela.
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Para minha esposa e minhas filhas sempre foi referência de amor, cuidado e carinho. Ligava, seja para saber notícias ou para desejar coisas boas, diante das conquistas ou das dificuldades. Incontáveis sábados e domingos nos reuníamos para desfrutar de um convívio entre quatro gerações, algo cada vez mais raro num mundo tão corrido. Foram muitas risadas, comilanças e brincadeiras.
Eu particularmente era fã incondicional de seu mocotó acompanhado do molho de pimenta. Cozinheira de mão cheia que, mesmo com as juntas prejudicadas pela artrite, encostava seu banquinho na pia para escovar o bucho. Só de escrever sobre ele, começo a salivar.
A passagem mais triste para ela e para todos nós foi a perda do Vô Giba, fiel companheiro durante mais de 50 anos que tentava atender a todos os seus pedidos e exigências. Ela mandava e ele fazia, com bom humor e presteza. Bom, nem sempre. Mas na maior parte das vezes era assim. Sem ele, ela murchou.
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Foram alguns meses de sofrimento, testemunhando a vida se esvaindo de um corpo fadigado pela passagem do tempo e uma mente oscilando entre bons e maus momentos no crepúsculo inevitável de nosso ciclo biológico. Escrevo este artigo no domingo à noite, ao voltar de seu velório. Velório esse que só faltou a pipoca e aquele casal de velhinhos sentados em suas poltronas, assitindo seus netos e bisnetos correndo pela casa, comendo suas gostosuras e fazendo bagunça para ser um retrato fiel de um final de semana típico na casa dos bisos.
Além de uma pessoa especial, perco uma leitora assídua. Na parede de seu escritório ela emoldurou o artigo que escrevi para o Vô Giba, seu preferido. Ela me disse que onde estivesse ele teria gostado muito do que escrevi. Assim também espero que tu goste do teu, véia amada.
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