A falta de informação sobre a rotina dos agricultores é notória. Isso gerou uma brincadeira de que os urbanos – ou “urbanoides”, como costumo dizer – acreditam que o leite pasteurizado brota em caixinhas tetraplac e não do úbere da vaca. Meus filhos têm uma noção um pouco mais fiel à realidade, graças ao pai, que morou até os 15 anos na colônia, indo a pé para a escola por alguns quilômetros de barro ou poeira.
Sempre que posso conto aos herdeiros sobre os dias sofridos de inverno em que minha mãe ordenhava as vacas pisando sobre gelo. O frio intenso, sem os avanços tecnológicos de hoje, castiga quem vive da lida do campo. O sacrifício de milhões de famílias, sem direito a fins de semana ou feriados, é de desconhecimento geral, apesar da conectividade planetária da informação.
Este ano meus filhos tiveram experiências pessoais que os aproximaram da minha infância. Henrique, 23 anos, jornalista que trabalha no Ministério da Cidadania em Brasília, viajou ao interior de Santa Catarina. Conheceu a lida da agricultura familiar, agruras e momentos únicos, comeu peixe na beira do rio, fisgado pouco antes. Ganhou um cacho de bananas – que deixou de presente aos funcionários do hotel pela impossibilidade de levar no avião –, um galão de suco de maracujá integral e um pote de mel.
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Minha filha Laura, 25 anos, passou duas semanas como voluntária em uma instituição que adota um sistema educacional de crianças alternativo. Neste período ela aprendeu a abrir covas onde semeou diversas variedades, regou a horta, colheu e aprendeu sobre compostagem. Teve oportunidade de comer bergamota no pé e acompanhar a germinação de plantas, mas teve um choque que arregalou os olhos:
– Depois de uma madrugada a zero grau, levantamos, fomos à horta e constatamos que tudo que havíamos plantado e estava começando a brotar simplesmente morreu, foi queimado pelo rigor da geada. Foi uma grande dor para todos! – lamentou.
Comentei com ambos que a vida da terra é assim mesmo, feita de esperança, expectativa, orações para chover, rezas e simpatias para estiar, além da expectativa para que os preços dos mercados internacionais sejam favoráveis. Ao mesmo tempo é preciso cuidar da família, dotar a casa de melhorias, pagar o financiamento no banco e fazer a manutenção das máquinas, equipamentos e residência.
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A experiência dos filhos foi enriquecedora porque viram na prática o que apenas ouviam de mim. Ensinou a harmonia homem–natureza. Toda a teoria que ministrei por mais de 20 anos à gurizada se consolidou da melhor maneira, por experiências reais onde eles foram personagens. A maturidade passa por estes momentos de confrontação entre a teoria e a vida como ela é.
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