Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

ideias e bate-papo

Viver e morrer

Uma das mais dolorosas agruras de envelhecer é a frequência com que se precisa ir a velórios. Assim que a notícia do falecimento de uma pessoa querida chega, um processo envolto em diversos sentimentos se apodera do nosso interior. É um turbilhão de sentimentos, e quase nenhum é bom.

A primeira sensação envolve arrependimento. É uma contrição por não termos procurado o ente querido. Por deixar passar tantas oportunidades de reencontro e ignorar a data de nascimento do velho conhecido. Para isso, mantenho uma “dinossáurica” agenda de papel, onde anoto aniversários, falecimentos e fatos relevantes da minha rotina que merecem ser lembrados. Raramente alguma coisa importante escapa.

LEIA TAMBÉM: Milhões e reconstrução

Publicidade

Outra tristeza envolve a comparação da idade que temos em comparação à expectativa média de vida do brasileiro. Ok, estamos falando de estatística/matemática/probabilidades que, como todos sabemos, de vez em quando fala.

Aos 64 anos de idade estou mais perto da “bandeirada de chegada” que “do podium”, numa alusão ao fato de já ter vivido muito mais tempo do que aquele que ainda falta até o desfecho. De imediato buscamos cuidar da saúde, projetar viagens, pensar em organizar encontro de velhos amigos, localizar o telefone de parceiros de vida.

Semana passada, tive duas perdas significativas que me deixaram abalado. A primeira envolveu o passamento de uma tia paterna. Ela estava com 92 anos e esbanjava energia. Foi professora a vida toda. Depois, tornou-se voluntária incansável de diversas instituições. Adorava enviar WhatsApp. Às vezes pedia gentilmente para que eu mandasse somente áudio. “Acho que estou ficando velha… Meus olhos reclamam e pedem descanso”, explicava. “Manda áudios, ok?”, terminava a mensagem. Morreu no final da tarde de quinta-feira, deitada no sofá, vendo tevê. Sem dor ou sofrimento. Como uma vela que apaga a chama ao vento.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Política: um mal necessário?

Antes, um grande amigo e repórter fotográfico partiu aos 63 anos. Parceiro de jornadas na Zero Hora. Quis o destino que, décadas depois, acolhesse meu filho em Brasília. Ano passado, refugiou-se no sítio de Viamão. “Vou curtir os filhos, aproveitar a vida e os amigos”, contou. Liguei dias antes da morte para cumprimentar pelo aniversário.

Viver de forma saudável exige cuidados com corpo e mente. Evitar o sedentarismo, curtir velhos parceiros de jornada são remédios sempre úteis. Presenciar a partida de amigo machuca alma, coração, espírito. Nos leva a reflexões sobre a nossa insignificância neste mundão de Deus.

Publicidade

As dores da velhice são muitas, onipresentes. Nesta seara da vida, faz bem lembrar de Chico Xavier: ‘Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito’.

LEIA MAIS TEXTOS DE GILBERTO JASPER

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.

Sair da versão mobile