Categories: Clóvis Haeser

Vivências no interior

A vila de Trombudo era uma referência em saúde na região. O único médico que atendia no hospital era o Dr. Jacobus. Famoso pela sua competência, além das consultas corriqueiras, era um ótimo cirurgião, apesar da precariedade da medicina naqueles tempos. Era muito participativo na comunidade.

Jamais me esqueço dos colonos pomeranos que vinham de Ferraz. Lotavam um ônibus para consultar com o renomado médico. Falavam uma língua estranha, que não entendíamos. Criaram um núcleo nessa localidade. 

A única farmácia que existia naquele tempo era da família de Arno Ullmann. O seu Ullman era a segunda opção para receitar algum remédio para uma doença menos grave. Farmacêutico renomado, receitava os remédios para a cura de alguma gripe ou dores nas costas ou reumatismo que atacava os mais velhos. Se os filhos estavam sem apetite e magrinhos, nada melhor que um fortificante Sadol ou Biotônico Fontoura.

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Em quase todas as sedes dos distritos que pertenciam ao nosso município, já havia os hospitais e seus médicos. Recordo-me da Vila Teresa (Vera Cruz) do Dr. Blez; Monte Alverne, o Dr. Pedro Eggler; em Sinimbu, o Dr. Xavier Waldraff.

Recebi a visita do amigo Fernandão, aquele mesmo personagem que batia com a cabeça nos lampiões no Baile de Damas. Contou-me algumas histórias sobre o Dr. Waldraff, que foi médico de Sinimbu entre as décadas de 50 e 90. 

Raríssimos colonos possuíam um automóvel, artigo de luxo naqueles tempos. O doutor  identificava, pelo ronco do motor, o motorista que estava estacionando o Ford 29 defronte ao hospital. Sabia que se tratava do Wink de Rio Pequeno ou o Helmuth de Paredão. Essa sua percepção não falhava. 

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Quando os colonos se deslocavam para a vila para alguma consulta ou para uma visita a um parente ou amigo enfermo, usavam os meios de transporte mais comuns na época: carroças, aranhas ou charretes de duas rodas, geralmente equipadas com pneus e puxadas pelo cavalo. 

Cabiam três pessoas no banco. Na traseira havia uma caixa, onde podiam colocar os mantimentos que compravam nas casas comerciais da vila. Esses veículos proporcionavam mais conforto para a família e era mais rápida. As carroças puxadas pela junta de bois eram vagarosas, mas quebravam o galho dos colonos mais pobres quando necessitassem ir para a vila. 

O Fernandão contou-me que os colonos estacionavam todas as carroças e charretes de forma oblíqua na frente do hospital. Os animais eram amarrados em um enorme pedaço de pau fixado em postes. Obedeciam as regras estabelecidas.

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Prosseguindo o relato, a mãe do Fernandão obrigava-o a recolher o “cocô” que os animais depositavam ao longo do estacionamento. Munido de uma pá e um carrinho, removia o esterco, que posteriormente era usado na horta e servia como fertilizante.  Nada melhor para adubar os canteiros das variadas hortaliças, cuidadas com esmero pela dona de casa.

Cansado, Fernandão dormia cedo. O colchão era costurado pela mãe com um tecido de chita listrado, bem simples. Em um dos lados tinha uma abertura, por onde eram colocadas as palhas de milho que preenchiam o colchão. Porém, as pulgas adoravam se criar em meio das palhas. Teriam sangue para se alimentar durante a noite.

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