Na noite desse domingo, o mundo conheceu a nova Miss Universo. Pela segunda vez na história do concurso, que acontece anualmente desde 1952, o título ficou com uma mulher negra. Zozibini Tunzi, da África do Sul, superou as 89 adversárias e recebeu a coroa em Atlanta, nos Estados Unidos. Mais do que uma vitória pessoal para a sul-africana, a conquista da coroa trouxe um sopro de inspiração e representatividade.
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“Eu cresci em um mundo onde mulheres como eu, com a minha pele e o meu cabelo, nunca foram consideradas bonitas. Já chegou a hora de parar com isso. Eu quero que as crianças olhem para mim e vejam seus rostos refletidos no meu”, respondeu Zozibini, em rede mundial, quando questionada durante o concurso sobre como seria sua atuação caso se consagrasse vencedora. Perguntada sobre o que de mais importante as mulheres devem aprender nos dias de hoje, ela disparou: “Liderança. É algo que falta às mulheres e mulheres jovens há muito tempo. Não porque não a desejavam, mas por causa de como a sociedade rotulou como elas deveriam ser”.
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Integrante da comissão especial da igualdade racial da OAB (subseção de Santa Cruz do Sul) e conselheira do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial (Compir), a advogada Isabel Pereira afirma que a escolha da sul-africana como vencedora do concurso quebrou todos os paradigmas. “De cabelo curto e negra, ela nos mostra que não há só um padrão de beleza e faz muitas mulheres e meninas acreditarem que também são bonitas”, ressalta. Além de expressar a beleza do próprio país, Zozibini, na visão de Isabel, também representa o perfil de grande parte das mulheres brasileiras. “Mulheres que, assim como ela, também são negras. Isso nos faz acreditar que podemos ter igualdade”, comemora.
A publicitária, pesquisadora em Cultura da Mídia e militante do movimento negro em Santa Cruz do Sul, Cíntia Luz, afirma que o fato de Zozibini ser convidada a comentar a importância do título fala por si. “Não estamos acostumados a ver pessoas negras com algum destaque em nível mundial, principalmente como referência de beleza. Só quem cresceu e vive em uma sociedade racista, onde as pessoas que são consideradas exemplos de beleza são as de pele e olhos claros, cabelos longos e lisos, sabe o real significado do título de Miss Universo ter sido conquistado por uma mulher negra e de cabelos curtos.”
Linda e politicamente consciente
Para Cíntia Luz, a vitória de Zozibini Tunzi quebrou todos os estereótipos e padrões de beleza estabelecidos até hoje e trouxe uma valorização para a diversidade e a inclusão de uma parcela da população mundial que normalmente não se vê representada, especialmente como exemplo de beleza e sucesso. “Com esse título, Zozibini, que além de linda é uma pessoa politicamente consciente de seu lugar na sociedade, se torna uma inspiração e referência para milhares de meninas negras que não se viam representadas, e por isso não se sentiam bonitas e capazes de participarem de concursos de beleza”, comentou.
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Embora feliz e orgulhosa da conquista de Zozibini enquanto representante das mulheres negras, Cíntia afirma que se mantém atenta. “Atenta e na luta, para que quando a próxima Miss Universo for uma mulher negra, o mundo não fique em tamanho alvoroço só pelo fato de sua cor ou estética, e sim pela sua beleza, consciência política e inteligência.”
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A candidata da África do Sul, de 26 anos, foi a primeira mulher negra a vencer o concurso desde 2011, quando Leila Lopes, de Angola, levou a coroa. As outras duas finalistas do Miss Universo 2019 foram a vice-campeã Madison Anderson, de Porto Rico, e Sofía Aragón, do México. A brasileira Júlia Horta chegou ao top 20 da disputa, mas não avançou para as finais. O Brasil venceu o Miss Universo somente em 1963, com Ieda Maria Vargas, e em 1968, com Martha Vasconcellos.
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