Durante o ano de 2020, o crime de estelionato foi a única entre as principais atividades criminais que teve crescimento no Rio Grande do Sul. Na contramão dos principais números da criminalidade, como homicídios, furtos, roubos, todos com redução em números totais apresentados no balanço da Secretaria de Segurança Pública, o estelionato, artigo 171 do código penal, que prevê até cinco anos de reclusão, teve uma explosão nos casos entre 2019 e 2020. Isso foi potencializado pelo período de pandemia, quando as pessoas intensificaram a navegação na internet, sendo, assim, alvos mais fáceis para golpistas e quadrilhas de estelionatários.
Os primeiros dias de 2021 não estão fugindo à regra do ano passado. Em janeiro, já são diversos casos relatados à Gazeta do Sul. Uma das vítimas é Jair Teves, de 51 anos, funcionário da Prefeitura de Santa Cruz do Sul. Sua história foi destaque na edição do dia 16 de janeiro, quando ele teve seu RG clonado, e um golpista tentou passar-se por ele para abrir um crediário em uma loja do centro de Santa Cruz.
Teves conseguiu evitar o pior, pois foi avisado pela loja, que ligou para sua esposa ao suspeitar da movimentação do golpista. O estelionatário acabou fugindo do local. A carteira de identidade falsa tinha o nome de Jair Teves, mas a foto de outra pessoa, que ele não conhece, além de erros de digitação no espaço que continha o nome de seu pai. No mesmo dia em que soube do golpe, a vítima fez o registro na Delegacia de Polícia, e depois comunicou a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) sobre a situação.
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Apesar de não ter sido lesado financeiramente, os problemas de Teves não pararam após o registro de ocorrência. Nos últimos dias, ele tem recebido mensagens sugerindo que um cartão de crédito foi feito em seu nome. Nos dias 19 e 21 de janeiro, a vítima recebeu em seu celular comunicações via SMS sobre o uso de um cartão em seu nome no comércio, e também sobre a contratação de um serviço bancário que não requisitou.
“Me mandaram mensagem perguntando como havia sido meu atendimento no Big. E outra dizendo que o seguro Hipercard estava aceito. Aí, ontem (no dia 21 de janeiro), eu recebi uma mensagem de que meu seguro Hipercard foi cancelado. Mas não consegui detectar de onde vem esse SMS”, relatou a vítima.
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Uma das principais dores de cabeça de Jair Teves foi conseguir relatar seu problema no atendimento bancário. Ele informou a instituição bancária de forma online, através do site, e buscou atendimento por telefone. Após bastante tempo perdido pendurado no telefone, sendo atendido por gravações, ele perdeu a paciência e resolveu simular a compra de um seguro para conseguir falar com uma atendente do banco.
“Tentei online, sempre ligando para os números que tinham, e sempre havia só gravação. Aí tu vai ficando atucanado. Até que eu fui simular que estava comprando uma coisa. Algo que não tenha como responder com sim ou não, e consegui falar com uma atendente. Aí expliquei meu problema, e me deram o número direitinho para o qual eu tinha de ligar”, relatou.
Ainda assim, Jair recebeu a informação de que só no próximo dia 27 poderá ligar para receber o atendimento almejado. Mesmo com os problemas por que passou, ele orienta a quem for vítima de golpes semelhantes a registrar o crime na delegacia e manter a calma. “Entrar em desespero não resolve. O importante é comunicar o que está acontecendo, porque não é culpa sua. É preciso ter paciência. Agora, cada vez que toca o telefone, tu não sabes se é uma loja, se é a polícia vindo dar informação; cada vez é uma tensão.”
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A investigação é da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul. A delegada Ana Luísa Aita Pippi orienta que todas as pessoas envolvidas em situações desse tipo façam o boletim de ocorrência na Polícia Civil. O registro desse e de diversos outros crimes pode ser feito de maneira virtual, por meio da delegacia online, no endereço www.delegaciaonline.rs.gov.br.
Os números sobre a aplicação de golpes tiveram grande aumento no ano passado, na comparação com o ano anterior. Segundo dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública, o crime de estelionato mais do que dobrou no Rio Grande do Sul entre 2019 e 2020.
Enquanto em 2019 foram registrados 28.239 casos no Estado, no ano passado foram 62.379 casos, o que corresponde a um aumento de mais de 120%. Em Santa Cruz do Sul, os números são ainda maiores do que o incremento registrado no Estado. Enquanto em 2019 foram 279 ocorrências, 2020 fechou com 735 registros de estelionato, um aumento de 163%.
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