Em um júri marcado por choro de réu e de vítima e estreia do novo promotor de Justiça de Santa Cruz do Sul, foi finalizado nessa quinta-feira, 4, o processo de uma tentativa de homicídio registrada há sete anos, em 4 de junho de 2017, um domingo, na saída de uma festa no Salão Goerck, na Avenida Deputado Euclydes Kliemann, Bairro Arroio Grande.
A sessão foi presidida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse e o conselho de sentença foi formado por cinco mulheres e dois homens. Valmir Martins, de 45 anos, foi condenado a 13 anos e dois meses em regime inicial fechado, enquanto César Luis Scherer, de 40, acabou absolvido de todas as acusações. Eles foram defendidos, respectivamente, pelos advogados Mateus Porto e Roberto Alves de Oliveira. O júri encerrou às 21h20.
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Conforme indiciamento da Polícia Civil e denúncia do Ministério Público (MP), os dois adultos, junto de outros dois adolescentes – na época com 14 e 17 anos –, teriam tentado matar Juares Bechert, atualmente com 51 anos. De acordo com a Promotoria, Valmir e a vítima encontravam-se no interior do Salão Goerck. O réu, motivado pelo fato de que sua ex-companheira teria tido um caso com Juares, teria ido atrás dele na saída da festa, na companhia do menor de 14 anos, e o espancado.
Segundo a denúncia, na sequência os dois teriam pedido ao réu César e ao adolescente de 17 anos para lhe entregarem pedaços de madeira. Assim, passaram a dar pauladas na cabeça de Juares, causando graves lesões. Vítima de socos, chutes, pontapés e golpes com pedaços de madeira, o vendedor Juares prestou depoimento no júri de ontem.
Tão logo indagado pela juíza Márcia sobre o que lembrava do dia do crime, desabou em choro e precisou tomar água antes de iniciar sua fala. Disse que teve uma relação breve com a ex de Valmir, mas apenas quando ela e o homem de 45 anos estavam separados. Por mais de uma vez caiu em lágrimas, afirmando ainda estar muito abalado e nervoso pela situação, tendo enfrentado na época problemas no trabalho e revelando que precisa tomar medicamentos para o resto da vida.
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“Até hoje acordo na madrugada chorando. Enfrentei muitos problemas financeiros e ainda tento me recuperar também nesse sentido.” Juares relatou ainda consternação por nenhum dos seguranças do estabelecimento onde estava terem lhe auxiliado durante o espancamento. “Ficaram me olhando de longe, isso é o cúmulo.”
Com sequelas visíveis pelo corpo, sobretudo na cabeça, Juares detalhou a dolorosa recuperação após longas intervenções médicas. Entre essas, está um procedimento curioso, chamado craniectomia descompressiva, cirurgia que guarda parte do crânio na barriga. Como ele teve uma fratura na cabeça, precisou passar por uma drenagem e teve parte da calota craniana cortada e colocada na parede abdominal.
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“O osso da cabeça foi conservado na barriga e depois colocado de novo. O médico para onde fui levado, em Cachoeira do Sul, disse que eu tinha 2% de chance de sobreviver. Felizmente, ele me trouxe de volta, após meses internado”, detalhou a vítima. Os jurados e o público puderam ter uma noção mais real do caso quando imagens de antes e depois da retirada de parte do crânio foram mostradas em uma tela pelo promotor Gustavo Burgos de Oliveira.
O representante do MP fez a sua estreia em júris na cidade, após dez anos em Erechim. Dois pontos que poderiam ser explorados pela defesa foram antecipadamente combatidos pelo promotor. Um sobre a qualificadora do meio cruel, aplicada pelo delegado Alessander Zucuni Garcia no inquérito, mesmo com um perito tendo alegado que não se tratava de meio cruel em um laudo.
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“O perito emite uma opinião sobre a situação fática, não tem conhecimento da dinâmica. Por isso, para mim, pela violência e quantidade dos golpes na vítima, que foi espancada de forma severa principalmente na cabeça, trata-se de meio cruel”, respondeu Alessander à pergunta do promotor sobre a qualificadora.
O delegado ainda salientou que em cerca de 14 anos trabalhando à frente de uma delegacia nunca viu um traumatismo dessa forma tendo sido provocado apenas por mãos, sem golpes de algum objeto contundente. O outro ponto levantado pelo promotor foi sobre a vida pós-espancamento de Juares, que passou a se envolver em casos de briga e até agressões contra mulheres.
Embora tenha detalhado fatos policiais em que o réu Valmir se envolveu, ele também falou sobre Juares, citando uma vida pregressa dentro de uma normalidade, mas com registros após o caso analisado ontem, incluindo perdas de memória, como quando a vítima alegou há poucos meses ter se perdido em uma ponte de Rio Pardinho. “Claramente, a vida desse homem degringolou após esse espancamento”, disse o promotor.
Orientado pelo advogado Mateus Porto, Valmir preferiu não prestar depoimento. Já César, acusado de alcançar pedaços de madeira para o corréu aplicar os golpes em Juares, falou à juíza e também chorou, ao jurar pela sua filha de 3 anos que não participou do caso. O mecânico disse que estava apenas dentro do salão e teria separado os envolvidos. Os jurados absolveram ele, mas condenaram Valmir, identificando a qualificadora e até a corrupção de menor igualmente imputada.
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