Há 19 anos, um ato nacional para o lançamento da campanha Travesti e Respeito, organizado em Brasília, marcou a história do movimento contra a transfobia e a luta por direitos da comunidade trans e travesti no Brasil. Desde 2004, o dia 29 de janeiro é reconhecido como o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Para potencializar ainda mais a importância do movimento, o mês de janeiro foi dedicado à visibilidade dos transexuais. O Janeiro Lilás, em referência às cores dessa bandeira, tem como viés sensibilizar e incentivar a sociedade por mais conhecimento sobre as identidades de gênero, buscando combater o preconceito, os estigmas e a violência.
As estatísticas de preconceito e violência marcam o Brasil como o país que mais mata transexuais no mundo. De acordo com o Dossiê de 2022 da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2021 houve pelo menos 140 assassinatos de pessoas trans – 135 travestis e mulheres transexuais e cinco casos de homens trans e pessoas transmasculinas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a expectativa de vida média da população brasileira é de 74 anos; já a das pessoas trans é de apenas 35.
LEIA TAMBÉM: Ato marca Dia Nacional da Visibilidade Trans e luta pelo fim do preconceito
Publicidade
A partir dessa realidade, Ruben Quintana, coordenador municipal da Diversidade, destaca que a principal reivindicação da comunidade é o respeito para combater o preconceito e a discriminação. “As pessoas trans são as que primeiro sofrem preconceitos e as que mais fortemente precisam de alguma forma tentar sobreviver a isso”, afirma. Diante desse cenário, muitos enxergam a prostituição ou o crime como únicos caminhos. “A sociedade simplesmente exclui. Muitos também não vencem e acabam tirando a própria vida, o extremo da violência social. São famílias dizimadas, amigos, relacionamentos. Não é um problema individual, é coletivo”, reitera.
Uso do nome social, retificação do nome em documentos, utilização do banheiro em locais públicos, acesso a educação e trabalho são algumas das garantias básicas que se tornaram os maiores desafios atuais. “A Coordenadoria da Diversidade está trabalhando muito forte no sentido de minimizar todas as formas de discriminação e preconceito, para que possamos reparar anos de marginalização. Programas e projetos de reinserção escolar, qualificação profissional, empregabilidade e renda”, assegura Quintana.
LEIA TAMBÉM: Câmara tem duas deputadas federais trans pela primeira vez na história
Publicidade
Por muito tempo, Antoni Fritsch, de 27 anos, não entendia os sentimentos em relação ao gênero, mas sabia que existia algo que o inquietava. Foi quando decidiu procurar ajuda psicológica. “Consegui enxergar essas questões mais claras sobre a construção do gênero, sobre como eu me via e as possibilidades que eu tinha a partir disso”, relembra. Desde então, entendeu que não estava feliz com a vivência e decidiu começar o processo de transição de gênero. Hoje, relata as experiências como homem trans nas redes sociais, além do trabalho como fotógrafo, que realiza desde 2015.
O processo da troca de nome veio junto com a transição, mas levou alguns meses para ser concluído. “Foi um tempo até entender que eu queria o nome Antoni e foi bem legal mudar e sentir que era meu. A primeira coisa que fiz foi trocar nas redes sociais, e as pessoas logo me reconheceram assim também.” Apesar da conquista, acredita que o processo é muito burocrático. Embora não tenha um documento retificado, Antoni tem direito ao nome social, mas relata que ainda vive situações desconfortáveis. “Em alguns lugares onde tenho cadastro antigo, pedi para eles trocarem, e não aceitaram. Eles criaram uma burocracia que não existe, porque é um direito meu usar o nome social em várias instituições.”
LEIA TAMBÉM: Ambulatório da Unisc tem grupo de apoio à comunidade LGBTQIA+
Publicidade
A situação não se restringe apenas a cadastros formais em empresas. “Já aconteceu de eu estar em ambientes em que as pessoas sabiam da minha transição, do meu nome novo, e mesmo assim me chamarem pelo meu nome morto. Acabo tendo que lidar com as questões de outras pessoas que querem me invalidar”, desabafa.
Além do acesso a questões básicas, como educação, trabalho e lazer, a busca pela saúde é um dos maiores problemas para as pessoas trans, segundo Fritsch. “Eu já estive em uma roda de conversa sobre o Outubro Rosa onde algumas pessoas sabiam da minha transição, mas falaram sobre câncer de mama sem citar as pessoas trans. O acesso ao ginecologista também é difícil; então, são pautas que acabam invisibilizando a nossa existência.”
LEIA TAMBÉM: Preconceito afeta produção de dados sobre a população LGBTQIA+
Publicidade
Fritsch acredita que é importante a existência da Coordenadoria da Diversidade, para que mais pessoas trans sejam ouvidas. “Eu já deixei de me sentir desconfortável em algumas situações, mas sei que muitas pessoas ainda se sentem assim. Acredito que, se o conselho conseguir promover diálogos com mais pessoas da comunidade, em todos os âmbitos, vai ser bem importante para todos. A informação é a chave para dizimar o preconceito”, conclui.
LEIA AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO PORTAL GAZ
Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!
Publicidade
This website uses cookies.