Categories: Luis Ferreira

Violência como negócio

A forma como o tráfico de drogas vem crescendo em Santa Cruz do Sul, agora com a expansão de suas atividades para a venda de cigarros contrabandeados – conforme foi mostrado em reportagem da Gazeta do Sul no último fim de semana – é preocupante demais para ser ignorada. Traz a perspectiva de um quadro cada vez mais sombrio de criminalidade e violência urbana, pois é sabido que a grande maioria dos delitos – homicídios, assaltos, furtos – cometidos hoje têm ligação direta ou indireta com o narcotráfico. É um problema incontornável no debate público, a ser enfrentado sem as costumeiras fugas e relativizações que costumam acompanhar a discussão. 

Sim, há entorpecentes ilícitos e lícitos. O alcoolismo, resultado do consumo doentio de uma droga socialmente aceita, é gravíssimo e está relacionado com grande parte dos crimes de violência doméstica, sem falar nos acidentes de trânsito. Mas, no caso das substâncias ilícitas, a ação destrutiva do tráfico é um fator que não pode ser desprezado. Se o alcoólatra deixa uma conta dependurada no botequim, é bem provável que o dono resolva cobrá-lo, mas de forma civilizada. Dificilmente ele irá armado até a casa do devedor para lhe meter uma bala na cabeça, depois esquartejá-lo e jogar seus pedaços num saco de lixo, como tem acontecido com frequência em Porto Alegre, por exemplo – onde a Polícia Civil foi obrigada a criar uma divisão especializada em decapitações, tamanha tem sido a repetição desse tipo de barbárie. 
Quer dizer: além da dependência química, o narcotráfico traz dor e brutalidade de uma forma singular. Há pouquíssimo tempo, pensava-se que isso era uma mazela dos grandes centros, agora ninguém mais está imune. Como resolver? É óbvio que o tráfico só existe e amplia seu poder porque há demanda, consumo, compradores. O consumidor financia essa atividade e a mantém em operação. Mas penalizar o usuário, já está comprovado, é um erro. A própria estratégia da “guerra contra as drogas”, até agora, não fez mais do que alimentar as facções do narcotráfico dentro do sistema carcerário. O tiro tem saído pela culatra. No Rio Grande do Sul, estima-se que metade ou mais dos ocupantes de penitenciárias estão lá por envolvimento com entorpecentes; só no Presídio Central seriam 52%, que certamente não sairão melhores – seja pelo portão da frente ou por um túnel como o descoberto semana passada, que serviria, inclusive, à fuga de um dos chefes do tráfico em Santa Cruz.  

A legalização, em alguma medida, seria a saída? Isso precisa ser discutido. O urgente é que todas as instâncias sociais se mobilizem em busca de soluções, porque só a polícia não vai resolver. Do jeito que está, daqui a pouco os traficantes passarão a instalar postos de pedágio nas ruas ou, quem sabe, cobrar impostos. E não é demais lembrar: o crime só prospera onde o Estado não cumpre seu papel a contento. E é uma pena que os “exemplos de cima”, neste momento, não sejam a mais positiva das referências.

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