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TRAGÉDIA NO CETRAT

VÍDEO: “Uma nova oportunidade de vencer na vida”, diz santa-cruzense sobrevivente de incêndio

Era 8 de maio de 2022. Foi no último Dia das Mães que Jeferson Ricardo da Silveira, de 32 anos, tomou uma decisão que mudaria sua vida. Iria buscar tratamento contra o vício em cocaína no Centro de Tratamento e Apoio a Dependentes Químicos de Carazinho (Cetrat). A iniciativa era como um presente pela data à mãe Marilene Salete da Silveira, de 62 anos.

Dessa vez, diferentemente de outras oportunidades em que ele havia dado entrada no local motivado pelos pais ou pela igreja, foi sua vontade que o fez buscar tratamento. O destino, entretanto, o colocaria diante da maior provação de sua vida, e que não estava nos planos. Sobrevivente do trágico incêndio no Cetrat, que deixou 11 mortos na noite de 23 de junho, Jeferson precisou, mais do que nunca, lutar pela vida após inalar grande quantidade de fumaça, quebrar janelas de ferro e pular de uma altura de quatro metros.

Depois de entrar em coma e passar por atendimento em três hospitais, teve alta na última segunda-feira, 25, já em Santa Cruz do Sul. Nessa terça-feira, 26, recebeu a equipe da Gazeta do Sul na casa onde mora, na Rua Camaquã, Bairro Esmeralda, e concedeu sua primeira entrevista após o episódio. Passado pouco mais de um mês do incêndio, hoje ele analisa o fato como uma provação.

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“Quero colocar isso como uma experiência para a vida, nunca mais me envolver em nada de errado. Não posso mais dar chance pra erro. Penso que nasci de novo. É uma nova oportunidade de vencer na vida”, disse Jeferson. O pai, Ilo Rodrigues da Silveira, de 62 anos, segue a mesma linha. “Essas circunstâncias chamam muito a atenção. Foi a primeira e única vez que ele procurou ajuda por conta própria. Outras vezes nós incentivamos. Parece que ele tinha que passar por essa tragédia pra ter essa mudança na vida”, comentou o pai, que trabalha em uma empresa de segurança.

Um corredor de fogo

No dia 23 de junho, uma quinta-feira, os residentes do Cetrat haviam realizado as atividades do dia, como estudos bíblicos e curso de violão. Na segunda-feira, três dias antes do incêndio, Jeferson havia iniciado um curso de eletricista motor. Também era o responsável pela padaria do local. “Fazia pães, bolos, bolachas, massas”, conta ele.

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Naquela noite, não houve a tradicional reunião. “Eu jantei pelas 19h30 e fui dormir cedo. Acordei às 23 horas com um barulho de algo estalando”, contou. Ele levantou e, quando abriu a porta, era uma escuridão total, com exceção das luzes das chamas que avançavam em um corredor de fogo em frente às entradas dos quartos. “Ali, eu inalei uma grande quantidade de fumaça.”

Outro santa-cruzense, Andrio Oscar Farias, de 31 anos, estava dormindo no quarto com ele. “Chamei o Andrio pra gente arrebentar as janelas. Tínhamos uns bidês ao lado da cama, em que colocávamos térmica, bíblia, livros. Tocamos eles nas janelas, que eram venezianas, e quebramos pra poder sair.” Jeferson e Andrio saíram pelos fundos, por um campo, e chegaram à rua que fica na parte da frente do Cetrat.

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“Por lá tinha muita gente. Vi o diretor, depois o Deive também, que era meu amigo, assistíamos aos jogos do Inter juntos. Ele até estava conversando, mas bastante queimado. Depois, acabou falecendo no hospital. Na sequência, fui para a ambulância e dali em diante eu não lembro de mais nada”, revelou Jeferson. Ele foi acordar somente no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, onde lutaria pela sua recuperação, depois de ser transferido do Hospital de Caridade de Carazinho.

Fake news apavorou a família

Os pais de Jeferson ficaram sabendo da tragédia no Cetrat ao longo da manhã de sexta-feira, 24 de junho. Um vizinho os levou a Porto Alegre, no sábado, para ver o filho. Seu Ilo e dona Marilene acompanharam de forma apreensiva a recuperação de Jeferson. Não bastasse o susto pelo incêndio, uma bomba caiu sobre eles na manhã de segunda-feira, 27.

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“Saiu uma reportagem em uma rádio de Passo Fundo de que a 12ª morte havia sido confirmada. Deram o nome do meu filho, que era morador de Santa Cruz e que a polícia tinha confirmado. Passamos mal, fiquei desesperada. Parentes chegaram a nos ligar perguntando onde seria o velório”, comentou a mãe do santa-cruzense. Em uma ligação ao hospital de Porto Alegre, soube-se que, na verdade, a notícia era falsa.
Um tempo depois, a rádio em questão apagou a publicação com as informações erradas. “Muitos amigos e parentes nos ligaram. Foi a coisa mais louca que aconteceu. Além do baque que tivemos com o incêndio e o estado grave do nosso filho, ainda veio essa notícia. Graças a Deus confirmamos que se tratava de fake news”, complementou o pai.

Abrindo os olhos no dia do aniversário

A família de Jeferson agradece às equipes de atendimento do hospital da cidade onde o incêndio aconteceu. De lá, ele foi transferido para o Cristo Redentor, em Porto Alegre. “Se não fosse o trabalho de Carazinho, ele não tinha sobrevivido. Isso o pessoal da Capital nos falou”, disse Marilene. A mãe, que trabalha como atendente na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Vovô Arno, contou o que o médico no Cristo Redentor lhe disse.

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“Ele perguntou se eu acreditava em milagre, pois o meu filho estar vivo era um milagre de Deus.” Depois de dias em coma em Carazinho e em Porto Alegre, Jeferson Ricardo da Silveira abriu os olhos, e foi em um dia especial: seu aniversário, em 6 de julho. Na data, passou a respirar sem ajuda de aparelhos. “Acordei e não fazia ideia de onde eu estava. Apenas agradeci por ter passado por essa provação”, salientou o santa-cruzense.

Mas a recuperação para sair do hospital ainda demoraria. A respiração, ao longo dos dias, ainda era ofegante e a alimentação foi através de sonda. Foram 15 quilos perdidos no decorrer das últimas semanas. Após a melhora, na quinta-feira passada, voltou para sua cidade natal, onde permaneceu internado no Hospital Santa Cruz (HSC).

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No município, ficou na casa de saúde apenas quatro dias. “O médico comentou que achou que ia encontrar um cara muito mal, mas me encontrou sorrindo”, brincou Jeferson. Os cuidados agora continuam, após a alta na última segunda-feira. “Qualquer gripe, febre, alteração, preciso ir ao hospital para fazer exames. Vou continuar em acompanhamento também”, salientou o morador do Esmeralda, ex-aluno na escola José Mânica. “São procedimentos que inspiram muito cuidado. Vai levar um longo tempo em observação. Tem que se preservar”, disse o pai Ilo.

“Depois, pensando em como tudo aconteceu, não entendo como consegui quebrar a janela, que era uma veneziana de ferro, e pular ali na altura de quatro metros. Foi Deus mesmo. Agora só quero me recuperar bem, poder ir trabalhar, participar dos grupos na igreja e mudar os hábitos que me fizeram mal”, projetou o sobrevivente Jeferson.

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