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250 ANOS

VÍDEO: uma homenagem a Santa Cruz no coração de Porto Alegre

Foto: Alencar da Rosa

De cima do Edifício Santa Cruz, o prédio mais alto da capital, vista da área central, Praça da Alfândega, Rua dos Andradas, Gasômetro, orla do Guaíba e zona sul

Neste sábado, 26, Porto Alegre comemora exatos 250 anos desde a sua fundação, em 1772. E nesta metrópole de 1,4 milhão de habitantes, há cerca de 60 anos uma construção paira como um ícone, que se ergue na paisagem e no imaginário da população. Na Rua dos Andradas, 1.234 (número por si só instigante), a metros da Praça da Alfândega, elevando-se na carinhosamente chamada Rua da Praia, à esquerda, está lá a placa: Edifício Santa Cruz. Seria só coincidência? Pesquisas bibliográficas, na internet ou até em fontes especializadas, não chegam a sinalizar para a razão do nome, ou da possível relação com santa-cruzenses.

Mas não, não é mera coincidência. É, isso sim, uma bela homenagem que Santa Cruz, por meio de um grupo de empreendedores, acabou por eternizar na capital do Estado. E não é qualquer homenagem. É apenas e tão somente, ainda hoje, o prédio mais alto de Porto Alegre. Quase seis décadas após sua conclusão, segue soberano, com seus 107 metros, em 34 pavimentos. Se nem os condôminos ou empresários, nem arquitetos ou estudiosos sobre a construção chegam a referir por que o nome de Santa Cruz, onde estaria a resposta? Na Gazeta do Sul.

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No dia 24 de abril de 1964, equipe da Gazeta, integrada pelos repórteres Luiz Beck da Silva e Rony A. Forster, e pelo fotógrafo Hélio Christmann, dirigiu-se a Porto Alegre para visitar o Edifício Santa Cruz, então quase finalizado. O convite partira da diretoria do Banco Agrícola Mercantil S.A., o Banagrimer, um dos mais sólidos e atuantes no Estado, fundado em Santa Cruz, onde ainda tinha a sua sede, em prédio nas esquinas das ruas Tenente Coronel Brito e Borges de Medeiros (que, aliás, existe ainda hoje).

A fim de comemorar em grande estilo seus 60 anos, que se aproximavam, o Banagrimer teve a ousadia de construir nova sede administrativa em Porto Alegre. E optou por fazê-lo de modo que se firmaria para sempre na paisagem: o Edifício Santa Cruz. Desafiados os arquitetos, escolhido o projeto e efetivada a construção, a edição do dia 9 de maio de 1964 da Gazeta do Sul pôde trazer a matéria com a descrição, impactante, da visita que a equipe do jornal havia feito ao prédio, que acabou sendo inaugurado em 1965.

Talvez o esforço e o dispêndio realizados em favor da concretização da obra tenham sido tamanhos que o banco acabou por encerrar atividades logo adiante. Em 1967 fundiu-se com o Banco Moreira Salles, resultando no Unibanco, que estabeleceu sua administração no mesmo prédio em Porto Alegre e, por sinal, funcionou no prédio de esquina que era a sede do Banagrimer em Santa Cruz. O Unibanco teve seu patrimônio incorporado ao Itaú, que hoje responde pelo Edifício Santa Cruz, ainda o mais alto da capital, com características arquitetônicas arrojadas e na vanguarda em estrutura e comodidade. Segue como um símbolo de Porto Alegre, atraindo os olhares da população e, de forma inquestionável, dos visitantes.

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Seis décadas depois, ainda o mais alto da capital

A história do Edifício Santa Cruz em pleno século 21, ainda hoje o prédio mais alto de Porto Alegre, 60 anos após sua inauguração, ocorrida em 1965, está tramada com as forças produtivas e empreendedoras de Santa Cruz, a cidade da qual empresta seu nome e na qual, afinal de contas, foi idealizado, e onde houve a mobilização inicial para sua construção. Tudo remonta ao início do século 20, quando o movimento cooperativista ganhou corpo na comunidade santa-cruzense, na esteira dos estímulos e dos ensinamentos que o padre Theodor Amstad então difundia em várias localidades de colonização alemã no Estado.

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A Gazeta do Sul circulou com uma edição especial no dia 9 de maio de 1964, um sábado, para celebrar a passagem dos 60 anos de fundação, ocorrida em 8 de maio de 1904, da “Spar und Darlehnskasse”, a Caixa Cooperativa Santa Cruzense. Lá em 1904, cidadãos reuniram-se “numa dependência da casa hoje ocupada pela casa Dreyer”, conforme matéria assinada por Luiz Beck da Silva, que menciona participantes daquele encontro.

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A cooperativa adquirira sua primeira sede em 1919, e em 1925 fora concluída a construção de nova sede, esta no prédio de esquina nas atuais ruas Tenente Coronel Brito e Borges de Medeiros, onde mais tarde funcionou o Unibanco, e mais recentemente uma churrascaria. Em 1927, em assembleia, a Caixa foi transformada em sociedade de responsabilidade limitada, o que foi concretizado em 1928. Com tal deliberação da Diretoria, a Caixa passou a operar como banco de crédito rural ou hipotecário, o Banco Agrícola Mercantil S.A, ou Banagrimer. A instituição santa-cruzense rapidamente se consolidou e se projetou no Estado e logo no País, a ponto de em 1959 ter instalado filial no Rio de Janeiro, e já em 1961 em Florianópolis, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.

Foi por essa época, já com mais de meio século de atuação e de franca consolidação, que surgiu a ideia da construção de uma sede em Porto Alegre, a fim de concentrar lá a administração, em espaço nobre. Em meados dos anos 1950, a diretoria alimentou o plano da construção de um edifício icônico na capital. Em 1955 foi realizado um concurso fechado de anteprojetos para a escolha daquele a ser executado para a sede do banco. Três escritórios de arquitetura foram convidados a participar. O vencedor foi o de autoria do arquiteto Carlos Alberto de Holanda Mendonça, junto à Construtora Ernest Woedcker, tendo sido efetivamente o primeiro prédio com estrutura metálica construído no Estado, em aço produzido e montado pela Companhia Siderúrgica Nacional.

A obra se estendeu entre a reta final da década de 50 e a metade inicial dos anos 60. A primeira aprovação do projeto junto à Prefeitura de Porto Alegre ocorreu em 1956. No entanto, no mês seguinte o arquiteto Mendonça faleceu, e outro arquiteto, Jayme Luna dos Santos, assumiu o trabalho. Ele acabou fazendo diversas mudanças no original, em plantas datadas de 1961 e ainda em 1965, data do final da construção.

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Em síntese, o edifício possui 107 metros de altura e 50 mil metros quadrados de área construída. Está assentado sobre 120 pilares de 0,8 x 0,8 metro, fincados 14 metros abaixo do solo. O subsolo possui dois pisos (de geradores de energia e bombas de água) e as estacas entram mais quatro metros dentro do solo. Foi projetado para ter 34 pavimentos no todo, reservados a salas comerciais do 1º ao 24º, que seguem em uso constante; e apartamentos residenciais do 25º ao 31º, com quatro por andar; além do subsolo.

O avanço da construção do prédio naturalmente magnetizou os porto-alegrenses, e registrou o envolvimento de muitos santa-cruzenses, e não só os diretamente ligados ao Banagrimer, como diretores ou funcionários. Muitos santa-cruzenses posteriomente se estabeleceram como moradores no endereço. Na visita que uma equipe da Gazeta do Sul fez, a convite da diretoria, ao final de abril de 1964, o jornalista Luiz Beck da Silva menciona o orgulho de todos os envolvidos. Foram recepcionados pelo diretor do Banco Agrícola, Arno R. Goebel, e pelo subdiretor, José Urbano Feyh, que os ciceronearam. “Iniciamos a visita pela ascensão ao 32º pavimento”, descreve Luiz Beck. “Até ao 8º andar já estão em funcionamento os elevadores eletrônicos. O gentil Sub-Diretor, dr. José Urbano Feyh, que é o ‘dono’ do edifício, não deixava de nos informar sobre os menores detalhes. Já os elevadores deixam os visitantes, principalmente nós colonos, estupefatos”, brinca.

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E tudo começou aqui

A edição da Gazeta do Sul de 9 de maio de 1965, alusiva aos 60 anos de fundação do Banco Agrícola Mercantil, que iniciou como cooperativa, traz página inteira com o agradecimento da comunidade santa-cruzense às lideranças da instituição (veja abaixo). Estão referidos, com suas fotos, o diretor superintendente Kurt Weissheimer e os diretores Emilio O. Kaminski, Egydio Michaelsen, Caleb Leal Marques e Arno R. Goebel, os construtores, ou a pedra angular, do Edifício Santa Cruz. Abaixo constam pioneiros de 1904, com fotos: Carlos Kern, Adolfo Lamberts, Paulo Stahl, Reinhard Kühleis, Guilherme Frantz e Guilherme Hansel.

Gazeta do Sul fez uma nova visita ao prédio mais alto de Porto Alegre

Se em abril de 1964, com a proximidade das comemorações dos 60 anos do Banco Agrícola Mercantil, uma equipe da Gazeta do Sul foi convidada a conhecer as instalações do Edifício Santa Cruz em Porto Alegre, então em vias de conclusão, agora, 60 anos depois, a Gazeta do Sul refez a visita ao prédio, na iminência dos festejos dos 250 anos de Porto Alegre, neste sábado. No último dia 3 de março, a quinta-feira seguinte ao Carnaval, este jornalista e o fotógrafo Alencar da Rosa foram recebidos pelo atual síndico do condomínio do edifício, Vitor Hugo Ostrowski, para um tour pelo prédio, que segue o mais alto da capital.

Como não poderia deixar de ser, tudo naquela construção é imponente, mantendo forte impressão sobre o visitante. Em sua sala de administração, Ostrowski tem na parede, ampliada, foto aérea do prédio, de 107 metros de altura, que se agiganta entre os demais edifícios do centro, uma selva de torres que podem ser visualizadas em todas as direções. O condomínio ocupa o equivalente a cinco terrenos na área central da Cidade Histórica de Porto Alegre, que perfazem, como frisa o síndico, 2.311 metros quadrados.

Até o 24º andar as salas continuam sendo comerciais, com diversos organismos, públicos e privados, e empresas nos três blocos que compreendem o prédio. A amplitude pode ser medida pelo espaço interno das salas, com 700 a 800 metros quadrados por andar. Já dos andares 25 a 31, os apartamentos são residenciais (quatro por andar, dois voltados para o Norte, dois para o Sul, num total de 16 apartamentos), fechando com a cobertura, a partir da qual se descortina olhar espetacular de toda a Porto Alegre, em 360 graus. O acesso acontece tanto pela Andradas quanto pela Sete de Setembro.

Ostrowski trabalha no prédio desde 1984, em uma primeira passagem que durou 16 anos, até o final do século. Depois, atuou em outro local, mas se afeiçoou de tal modo ao Edifício Santa Cruz que não só retornou para ser o síndico do condomínio, em 2014, como tratou de adquirir um apartamento no prédio, no 27º andar, com 300 metros quadrados à sua disposição. Hoje, aos 74 anos, reside no local que administra. “Aqui estou perto de tudo, com facilidade para chegar a qualquer lugar”, comenta.

Vitor Hugo: atual síndico,que recebeu a Gazeta no início de março, inclusive reside no prédio

E faz questão de enaltecer o visionarismo dos construtores e projetistas do prédio, uma vez que, 60 anos após sua inauguração, continua atendendo à perfeição e com comodidade o público que nele trabalha ou a ele se dirige. O único senão, admite, está no fato de o edifício não ter garagem própria, mas moradores e usuários desdobram essa questão com a ampla oferta de vagas nas imediações. “Teria mesmo que ter sido garagem muito grande para as necessidades específicas de quem mora ou procura o prédio”, reconhece.

Por outro lado, aponta a sabedoria da decisão de instalar, há 60 anos, 14 elevadores por bloco, cada um deles com capacidade para 16 pessoas. O que explica por que, mesmo com mais de 4 mil pessoas circulando diariamente pelo edifício, nunca há congestionamentos ou demoras para chegar ou se dirigir a algum dos estabelecimentos que têm sede ali. “Devem ter chamado o pessoal de louco lá na década de 1960”, brinca. “Mas se então não tivessem tomado tal medida, hoje certamente não se conseguiria atender a tal demanda, como, aliás, muitos prédios novos ou contemporâneos já não conseguem”.

Ao mesmo tempo, aponta a qualidade e a eficiência da estrutura de máquinas, água e energia, concentrada no subsolo. “Tudo aqui é de primeira linha, de qualidade internacional”, frisa. Para atender a todas as tarefas diárias que o condomínio envolve, de portaria a zeladoria, 30 pessoas são empregadas, cuidando de todas as operações.

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Impressões eternizadas na reportagem de 1964

“O monumento de aço e cimento, que se ergue no coração da cidade capital do Estado do Rio Grande do Sul, alteroso, imponente, dominando, orgulhosamente, todo o panorama que rodeia Porto Alegre, foi batizado com o nome de EDIFÍCIO SANTA CRUZ, em homenagem à nossa terra”, ressalta o jornalista Luiz Beck da Silva em reportagem de página inteira na Gazeta do Sul do dia 9 de maio de 1964 (veja a reprodução abaixo).

“E o foi porque aqui nasceu aquele que, por seus diretores, o idealizou e o construiu: o Banco Agrícola Mercantil S.A., sucessor da Spar und Darlehndkasse (Caixa de Economia e Empréstimos)”, segue. Luiz Beck passa a descrever todos os aspectos técnicos e os materiais de vanguarda adotados.

“Nos acabamentos dessa construção estão sendo empregados materiais de mais alta qualidade, tanto interna quanto externamente”, frisa. “Pela primeira vez no Rio Grande do Sul serão empregadas no edifício esquadrias externas no sistema de Curtain Wall, isto é, fachadas totalmente de alumínio e de vidros cristal, permitindo o máximo de iluminação e ventilação”, acrescenta.

Não poderia ser sem estarem extasiados que os visitantes deixariam esse ícone da arquitetura e da construção civil no Estado, após terem visitado o terraço, na cobertura (como nossa equipe também fez na nova visita, em março). “Ao nos retirarmos, sempre acompanhados pelo gentleman Arno Goebel, tínhamos a impressão de que naquelas duas horas havíamos percorrido o mundo inteiro. Felizes por tudo o que vimos e cativados pela nobreza dos amigos Goebel, Feyh e Lauro Meinhardt”, arremata. Este último, santa-cruzense, era o supervisor da agência central do banco, já instalada na Rua da Praia.

Hoje, embora ainda seja o prédio mais alto de Porto Alegre, o Edifício Santa Cruz é o quarto mais alto do Estado. Na primeira posição está o Edifício Parque do Sol, de Caxias do Sul, com 125 metros de altura e 36 andares, construído em 1976; é seguido por dois de Novo Hamburgo, o Mirador Residence, de 113 metros e 36 andares, finalizado em 2018, e o Sunset Residence, de 111 metros e 32 andares. O segundo mais alto da capital é o Coliseu, com 100 metros e 30 andares, de 1962.

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