No dia 30 de abril de 2024, o cenário na agricultura do Vale do Rio Pardo mudou drasticamente. Até então, as lavouras da região exibiam uma paisagem marcada por culturas diversas — de hortaliças à soja. No entanto, com a cheia histórica dos rios, o verde das plantações deu lugar à lama, à devastação e, em muitos pontos, nem mesmo a terra resistiu: as margens cederam e arrastaram parte das lavouras para dentro dos mananciais.
Um ano após a tragédia climática, muitas propriedades já apresentam sinais de recuperação. Para centenas de famílias que dependem exclusivamente da agricultura, o renascimento das lavouras representa mais do que produtividade: é esperança. O trabalho de recuperação contou com o apoio de diversas entidades do setor agrícola, como a Emater/Ascar-RS, que teve papel fundamental na retomada das atividades rurais.
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Em Sinimbu, primeiro município a registrar a enchente na região, a mobilização técnica começou logo após a segurança das pessoas ser garantida. “Assim que as famílias foram atendidas, iniciamos as visitas técnicas. Fizemos o levantamento de cerca de 250 propriedades afetadas”, explica o extensionista rural da Emater, Luis Fernando Marion. “Confirmamos a perda de nutrientes e matéria orgânica do solo. Com apoio da prefeitura, foram adquiridos insumos como calcário, e a partir da análise de amostras de solo, fizemos as recomendações necessárias.”

Marion ressalta, no entanto, que nem todas as propriedades conseguiram atingir o mesmo nível de recuperação. “Isso depende muito da dedicação de cada produtor em restaurar a terra. Nosso papel é apresentar as soluções e acompanhar o processo, mas o protagonismo é do agricultor.”
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Entre os produtores afetados está Rubi Engelmann, morador da localidade de Linha Rio Pequeno, em Sinimbu. O rio que dá nome à região passa ao lado de sua propriedade, e foi de um ponto mais elevado que ele e sua família acompanharam, com angústia, a água avançar e destruir tudo.
“Foi uma perda. Não tinha o que fazer”, relembra. “A água levou tudo. Para recuperar o solo, usei esterco, calcário e troquei parte da terra. Em agosto consegui fazer a primeira plantação. Achei que a safra seria ruim, mas o solo respondeu melhor do que eu esperava.”





Assim como na propriedade da família Engelmann, a história se repete em diversas comunidades do interior gaúcho, onde a terra ferida começa, aos poucos, a dar sinais de vida novamente — graças à união de esforços entre agricultores, técnicos e instituições.
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Municípios intensificam ações

As secretarias de Agricultura de diversos municípios do Vale do Rio Pardo têm desempenhado um papel essencial na recuperação das lavouras afetadas pelas enchentes de 2024. Cidades como Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Venâncio Aires, Vera Cruz, Rio Pardo e Candelária foram as mais impactadas pelas cheias dos rios Pardinho, Pardo e Taquari.
Entre as principais ações adotadas está a distribuição de calcário, fundamental para a recuperação do solo. O produto corrige a acidez da terra ao neutralizar os íons de hidrogênio presentes, elevando o pH e reduzindo a toxicidade provocada pelo alumínio.
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Entre as ações realizadas, Santa Cruz contou com o Programa Municipal de Incentivo à Correção da Acidez do Solo, que teve como objetivo estimular a recuperação das propriedades rurais do município, subsidiando 50% do valor de aquisição de calcário para os agricultores familiares.
Em Candelária, além da entrega de insumos, os trabalhos também envolveram o desassoreamento de rios, já que o leito foi danificado pelas enxurradas, chegando em alguns trechos ao nível das lavouras. Cascalhos e sedimentos trazidos pelas correntezas também foram removidos. Até o momento, o município já transportou 800 toneladas de calcário às propriedades rurais.

Rio Pardo vem realizando, desde a enchente, serviços de limpeza de canais e açudes, além da distribuição de mais de 2 mil toneladas de calcário às áreas afetadas. Em Venâncio Aires, a atuação conjunta entre a Secretaria de Agricultura e os produtores tem garantido a retomada gradual das atividades no campo.
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Vera Cruz mantém uma frente ativa de recuperação de solo. Desde o evento climático, a Secretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente tem trabalhado para garantir uma produção agrícola sustentável, mitigando os impactos de práticas inadequadas, erosão, contaminação e uso excessivo de produtos químicos. O secretário da pasta, Roger Henrique Severo, destaca o fortalecimento do programa de distribuição de calcário como um importante aliado dos agricultores. Apenas nos primeiros meses de 2025, foram transportadas mais de 2 mil toneladas do produto.
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A entrega de composto orgânico também está sendo realizada, além de serviços com máquinas pesadas nas áreas mais afetadas, como desassoreamento de arroios, drenagem de lavouras e retirada de materiais acumulados após as inundações.
Em Sinimbu, a prefeitura instituiu o Programa Emergencial de Incentivo à Agricultura, Pecuária e Recuperação de Solo, com o objetivo de apoiar diretamente os produtores locais. A iniciativa já prestou apoio com maquinário a 111 propriedades, além de distribuir 765 toneladas de calcário e 1,5 mil toneladas de composto orgânico para recuperação de solo. No setor leiteiro, 67 produtores foram beneficiados com 265,2 toneladas de silagem para bovinos e 50 toneladas de ração.
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