Em 22 de setembro de 1815, quando teve início a construção da Igreja Senhor dos Passos, a Rua Andrade Neves, a principal de Rio Pardo, ainda se chamava Barão de Santo Ângelo. Assim como a Igreja São Francisco, o templo nasceu após a saída da Irmandade de Caridade do Senhor Bom Jesus dos Passos da Igreja Nossa Senhora do Rosário. A construção começou com a doação de um terreno por um dos irmãos, onde antes havia um potreiro. Até hoje a Senhor dos Passos tem ligação com a Irmandade, a única existente em Rio Pardo e uma das poucas no Brasil.
Flávio Augusto Wunderlich, diretor de Turismo da Secretaria do Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer de Rio Pardo, destaca os vitrais das janelas como característica marcante da igreja, além da imagem do Senhor dos Passos. “É a única igreja com esse estilo em Rio Pardo”, conta. A arquiteta Vera Schultze define o templo como “mais moderno do que a igreja mãe, a Matriz”. E com altares bem mais simples, que refletem a época em que foram construídos. Nesse ar de modernidade, Vera cita as mudanças pelas quais o templo passou já no século 20, como a troca do piso, o lustre e o guarda-respeito, feito por um marceneiro da cidade. “Guarda-respeito é o painel que tem quando se entra na igreja. Era uma exigência de determinado papa, que achava que o ambiente sacro precisava de um resguardo. Não me canso de admirar aquela obra de arte.”
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Cada elemento conta um pouco da história. A arquiteta chama as igrejas de “arquivos históricos”. Na Igreja dos Passos, estão enterradas algumas personalidades do município e do Estado. No portal, a lápide marca o sepultamento de Patrício José Corrêa da Câmara, o primeiro Visconde de Pelotas. Ele faleceu em 1827, em Rio Pardo, onde foi comandante de fronteira por mais de meio século. No que restou do cemitério, aos fundos do templo, estão enterrados João de Deus Mena Barreto, o Visconde de São Gabriel, e João Pereira Monteiro, fundador da Irmandade. Os dois foram provedores do grupo de irmãos também.
Hoje a igreja é mantida pela Associação dos Amigos da Igreja dos Passos (Amipas), que, além de ser responsável por todas as celebrações religiosas, mantém o templo limpo e em condições de receber a comunidade. A Amipas foi fundada em novembro de 1997 e, junto com a Irmandade, trabalha para que o prédio, que já tem 206 anos, se mantenha de pé. “Paredes de barro, estátuas de madeira. O próprio tempo, que é referência, também é cruel. Todos esses anos de existência causam problemas e exigem cuidados especiais”, explica Wunderlich.
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A Irmandade de Caridade do Senhor Bom Jesus dos Passos foi fundada em 3 de maio de 1803 por um grupo de moradores abastados de Rio Pardo, com o objetivo principal de fazer a caridade. Em um primeiro momento, os trabalhos dos irmãos ficaram restritos à igreja católica e à prática da religião, com a fundação da Igreja dos Passos no ano de 1815.
Um século mais tarde, em 1913 a Irmandade recebeu um terreno, e um ano depois começou a construção do Hospital dos Passos. Os primeiros prédios, que contemplavam duas enfermarias, feminina e masculina, com seis leitos cada, foram inaugurados em 1931. “Antes disso a Irmandade já havia tentado criar um hospital, construindo uma casa de caridade onde hoje funciona o Centro Regional de Cultura. Mas na época, por falta de recursos, o projeto não foi para a frente. A construção acabou sendo vendida para o governo e nasceu ali a primeira Escola Militar”, conta Waldemar Moraes, advogado e provedor da Irmandade dos Passos.
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O hospital criado pelos irmãos continua no mesmo local até hoje. Depois dos primeiros 12 leitos, foi construído o prédio onde hoje estão a recepção e os quartos, além do Salão Nobre da Irmandade. E por último houve a construção mais nova, que abriga a emergência, maternidade e centro cirúrgico. Atualmente a entidade não administra mais o hospital, que desde 2012 passou a se chamar Hospital Regional do Vale do Rio Pardo numa cedência ao Município. Prédios e instalações ainda são propriedades da Irmandade. Mesmo assim, a ligação com a saúde, que fez o grupo surgir há mais de dois séculos, permanece.
“Seguimos vinculados à saúde até hoje. Hoje prestamos serviços ao grupo que administra o hospital através de 72 funcionários que ainda são vinculados à Irmandade”, explica Moraes. A ligação com a Igreja Católica também permanece. Os 160 irmãos seguem o estatuto e atuam de forma voluntária junto ao grupo, formado por homens e mulheres.
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A história da Rua da Ladeira, a primeira calçada no Estado, será o tema do próximo episódio de Relíquias do Rio Grande.
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