Dois séculos de história são contados em um pequeno trecho da Rua Júlio de Castilhos com pouco mais de 150 metros, a Rua da Ladeira. A via já se chamou Rua Direita e também Rua do Imperador. Para o diretor de Turismo da Secretaria Municipal do Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer, Flávio Wunderlich, o local é um dos principais pontos de referência histórica e turística de Rio Pardo.
A Rua da Ladeira surgiu em 1813, quando questões econômicas e logísticas exigiram essa modernidade. “O fluxo intenso de embarcações no rio fazia com que se precisasse de algo ‘moderno’, em que as carretas pudessem transitar sem enfrentar os atoleiros”, explica Wunderlich. Inicialmente, o trecho calçado com as pedras era da Rua Andrade Neves até a Rua General Câmara, de acordo com documentos. Estes ainda indicam que a Rua da Ladeira foi a primeira a ser calçada no Estado. Segundo o professor de História e atual secretário de Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer de Rio Pardo, Tiago Melo, esse pioneirismo mostra a importância do município para o Rio Grande do Sul na época.
Contudo, as pedras já foram consideradas um entrave para o crescimento da cidade. Na década de 1950, tentaram tirar o calçamento do século 19 para substituí-lo por um mais novo. Foi nessa época que o trecho entre as ruas General Câmara e Guilherme Barroso acabou sendo trocado. O resto só permaneceu intacto devido à mobilização liderada por Biágio Soares Tarantino, que conseguiu o tombamento da rua junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Assim, a Rua da Ladeira é o único ponto turístico em Rio Pardo considerado patrimônio nacional.
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À primeira vista, seria apenas um emaranhado de pedras, mas basta um olhar um pouco mais apurado para notar que cada uma, desde a menor até a maior, está no lugar onde deveria estar. Wunderlich explica que, na parte superior da Rua da Ladeira, há uma única pedra que pode ser considerada como a palma da mão: dela para cima – em direção à Andrade Neves – há uma série de colunas mais elevadas do que as outras, que foram colocadas dessa maneira, na diagonal, para fazer com que a água escoe para a fileira central.
Ela é formada por duas pedras lado a lado, que vão até o fim da rua. Essa mesma pedra, que é referência para as linhas diagonais, também marca o ponto em que, para baixo, as demais foram organizadas na horizontal, formando pequenos quadrados com fileiras elevadas que fazem com que a água tranque e também siga para o meio. “A Rua da ladeira é o inverso das ruas modernas, que são mais elevadas no centro e rebaixadas próximas ao meio-fio”, completa.
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A colonização portuguesa está em muitos pontos da Rua da Ladeira. Mas é importante lembrar que Rio Pardo tem muitas outras etnias em suas raízes, que marcaram a história. Como no caso da Rua da Ladeira, que, até onde os documentos mostram, foi construída por escravos, assim como boa parte dos prédios que ainda estão de pé hoje e são considerados patrimônios históricos.
Diante dessa riqueza em cada detalhe que a via guarda – os vidros para fora nas janelas, as eiras e beiras, os traços arquitetônicos –, o secretário de Turismo ressalta o quão importante é mostrar para os jovens a história de Rio Pardo e ir além da sala de aula. “É muito bom falar em sala de aula, mas trazer um jovem para ele ver, presenciar, é muito mais importante.” A Rua da Ladeira também foi caminho de Dom Pedro II quando, em 1846, 33 anos após a construção da via e um ano depois da Revolução Farroupilha, ele passou por Rio Pardo.
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Quando ainda não havia luz elétrica em Rio Pardo, a iluminação das ruas era feita por lampiões a querosene, que eram acesos manualmente. Não existiam tantas casas, nas ruas circulavam somente carroças e cavalos e só a rua da Ladeira era calçada. Era tudo muito silencioso, as pessoas se recolhiam cedo porque não havia o que fazer na rua, à noite.
À noitinha, quando os acendedores de lampião iam fazer seu trabalho, avistavam diariamente uma enorme mulher, toda de branco, com um longo vestido, que saía do Bairro Fortaleza e se dirigia para a ponte sobre o Rio Pardo. Suas vestes, ao caminhar, faziam um ruído esquisito.
O caso espalhou-se entre os habitantes da cidade que, amedrontados, fechavam cedo suas casas.
Um dia, três homens corajosos reuniram-se para resolver o mistério. Colocaram-se no local por onde a estranha passaria e deram-se as mãos. A verdade, então, apareceu. Era uma moradora do Bairro Fortaleza que passeava sozinha todas as noites.
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