O presidente da República, Jair Bolsonaro, exonerou nesta sexta-feira, 17, o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim. A informação foi divulgada pela assessoria de imprensa da Secretaria Especial da Cultura.
LEIA TAMBÉM: Bolsonaro anuncia salário mínimo de R$ 1.045 a partir de fevereiro
Após protagonizar vídeo com referências nazistas para a divulgação do Prêmio Nacional das Artes, o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, se tornou alvo nas redes sociais. Às 10 horas desta sexta-feira, 17, “Goebbels” aparecia em terceiro lugar dos assuntos mais comentados no Twitter, “Roberto Alvim” em quinto, “Nazista” em oitavo, “Cultura” em nono e “Wagner” em décimo. As ocorrências ficavam abaixo de “Enem” e “BlackSwan”, trilha musical de grupo sul-coreano.
Publicidade
Em vídeo compartilhado nesta quinta-feira, 16, Alvin faz referência a trechos de discurso do ministro de Propaganda nazista, Joseph Goebbels, em que diz que “a arte será nacional” ou “então não será nada” ao som de um trecho da ópera Lohengrin, de Wagner. A ópera é elogiada na autobiografia do ditador nazista Adolf Hitler, Minha Luta. “Senti-me imediatamente cativado pela música”, escreveu o alemão.
LEIA TAMBÉM: Bolsonaro volta a defender criação de juiz de garantias
Defesa
Publicidade
Pelo Facebook, o secretário afirmou que “foi apenas uma frase do meu discurso a qual havia uma coincidência retórica” e que “não o citei (Goebbels) e jamais o faria”. Apesar da declaração, Alvim ressalva: “Mas a frase em si é perfeita: heroísmo e aspirações do povo é o que queremos ver na Arte nacional”.
Repercussão
O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) classificou o pronunciamento de Alvim como “absurdo” e “nauseante” e pediu a demissão do secretário. “Fala de Roberto Alvim é absurda, nauseante: o Estado não define o que é e o que não é cultura! Já um governo define quem dele faz e quem dele não faz parte. Quem recita Goebbels e faz pronunciamento totalitário não pode servir a governo nenhum no Brasil e deve ser demitido. Já!”, escreveu o deputado no Twitter.
Publicidade
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) estendeu as críticas ao discurso de Alvim para o governo. Segundo ela, a fala do secretário especial de Cultura “escancara de vez a face neonazista e criminosa do desgoverno de Jair Bolsonaro”.
A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (RS), avalia que o vídeo “mostra grau de ocupação ideológica em órgãos públicos e flerte do governo com o fascismo/nazismo”.
LEIA TAMBÉM: Bolsonaro quer livros didáticos com menos texto
Publicidade
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou o episódio como “inaceitável” e afirmou que “o secretário da Cultura passou de todos os limites”. Para Maia, “O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo”.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) afirmou que “caso o ministro não seja demitido de imediato usaremos nossas prerrogativas no Senado para convocar o ministro para que ele explique e seja responsabilizado por ação tão indecente”.
Roberto Alvim diz que houve ‘infeliz coincidência’ com frase de Goebbels
O secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, reforçou que conversou com o presidente Jair Bolsonaro na manhã desta sexta-feira, 17, e que ele “entendeu que não houve má intencionalidade” de sua parte ao usar discurso quase idêntico ao do ideólogo nazista Joseph Goebbels. Antes, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Alvim já havia declarado que o presidente lhe garantira que ele não seria demitido. O Palácio do Planalto afirmou oficialmente que não comentaria o caso.
Publicidade
Em entrevista à Rádio Gaúcha pela manhã, Alvim disse que houve “infeliz coincidência” com frase de Goebbels. Inicialmente, o secretário afirmou que não poderia pedir desculpas pelo episódio porque alega não ter copiado os trechos de Goebbels de forma proposital. De acordo com ele, algum assessor teria colocado a frase em sua mesa sem identificar a fonte com base em uma busca sobre nacionalismo e arte na internet.
Ele disse, ainda, que investigará quem sugeriu a frase e por quê. “Essa casca de banana que foi plantada será aferida. Não conhecia a origem disso”, afirmou. “Evidentemente que eu não sabia (que a frase reproduzida era de Goebbels), se soubesse não usaria.” Depois, ao final, foi indagado sobre a indignação da comunidade judaica e acabou pedindo desculpas se alguém se sentiu ofendido pela referência indireta ao ideólogo nazista.
Diante da reação negativa até mesmo de bolsonaristas, Alvim afirmou que o que mais o entristeceu foi a reação de Olavo de Carvalho, que disse que ele não parecia “estar bem da cabeça”. “Vou provar ao professor Olavo, que é o meu mestre, que estou são, estou perfeito.”
LEIA TAMBÉM: Pesquisa avalia o primeiro ano do mandato do presidente Bolsonaro
‘Frase perfeita’
Ainda assim, Alvim afirmou que escreveu 90% do discurso e que a frase reescrita por ele é “perfeita”. “A frase que foi reescrita a partir da frase do Goebbels é perfeita”, disse. “A vinculação dessa ideia (sobre nacionalismo e arte) com campos de extermínio, eugenia, é produto de má intencionalidade ou analfabetismo funcional.”
Ao ser questionado, o secretário negou ser nazista e afirmou repudiar o regime que exterminou milhões de pessoas. “É claro que não, qualquer pessoa com o mínimo de sanidade mental não pode ser simpático a um regime que exterminou pessoas”, afirmou. Alvim disse que foi sua a escolha de usar uma ópera de Richard Wagner, tocada ao fundo do vídeo. Ele alegou, no entanto, que embora fosse a favorita de Hitler, a ópera não deve ser associada ao nazismo. Ele justificou a escolha pela ligação da música com o cristianismo, sua religião.
‘Setores do governo testam os limites democráticos’, diz presidente da OAB
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou nesta sexta-feira, 17, que os “setores do governo testam há meses os limites democráticos”, “flertam com as ditaduras de hoje e do passado”, e que o secretário de Cultura, Roberto Alvim, “ultrapassou todos os limites ao optar pela clara e aberta apologia ideológica do regime nazista”. Em vídeo no qual anuncia o Prêmio Nacional das Artes, Alvim citou textualmente trechos de um discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels.
A posição foi defendida em nota após a repercussão gerada pela gravação divulgada por Alvim. O presidente da entidade dos advogados indicou ainda que o secretário deveria ser afastado, “sob pena de o governo brasileiro se enquadrar internacionalmente como inimigo da democracia e da civilização”. “Os milhões de cadáveres das vítimas do autoritarismo nos cobram imediata e firme reação”, apontou.
Alcolumbre manifestou ‘repúdio’ e pediu afastamento de Roberto Alvim
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), manifestou repúdio às declarações do secretário especial da Cultura, Roberto Alvim. O presidente da República, Jair Bolsonaro, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, já decidiu demiti-lo após a polêmica referência ao nazismo em vídeo divulgado nas redes sociais.
“Como primeiro presidente judeu do Congresso Nacional, manifesto veementemente meu total repúdio a essa atitude e peço seu afastamento imediato do cargo”, afirmou Alcolumbre em nota. Em viagem no interior do Amapá, Alcolumbre relatou ter tido “desprazer” de assistir ao vídeo de Alvim, o qual classificou como “acintoso, descabido e infeliz pronunciamento de assombrosa inspiração nazista do secretário de Cultura Roberto Alvim, do governo federal.”
A nota de Alcolumbre condenou as referências usadas pelo secretário no discurso. “É totalmente inadmissível, nos tempos atuais, termos representantes com esse tipo de pensamento. E, pior ainda: que se valha do cargo que eventualmente ocupa para explicitar simpatia pela ideologia nazista e, absurdo dos absurdos, repita ideias do ministro da Informação e Propaganda de Adolf Hitler, que infligiu o maior flagelo à humanidade.”
Conib chamou de ‘inaceitável’ fala de Alvim e pediu afastamento do secretário
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou o vídeo no qual o secretário da Cultura, Roberto Alvim, cita trechos de um discurso do ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels, e pede o afastamento imediato de Alvim do cargo. Para a entidade, a fala do secretário é “inaceitável” e “é um sinal assustador” da visão de cultura dele.
“Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida”, afirmou, em nota, a Conib. A confederação lembrou que Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista, “que empregou a propaganda e a cultura para deturpar corações e mentes dos alemães e dos aliados nazistas a ponto de cometerem o Holocausto”.
O nazismo foi responsável pelo extermínio de 6 milhões de judeus na Europa. A Conib lembrou ainda o papel do País na Segunda Guerra Mundial para pedir o afastamento de Alvim da Secretaria Especial da Cultura. “O Brasil, que enviou bravos soldados para combater o nazismo em solo europeu, não merece isso”, disse a entidade. “Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastado do cargo imediatamente.”
Embaixada alemã diz se opor a ‘qualquer tentativa de glorificar’ o nazismo
A embaixada da Alemanha em Brasília utilizou sua conta oficial no Twitter para comentar as recentes falas do secretário de Cultura, Roberto Alvim, que parafraseou discurso do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels. O perfil da embaixada publicou nota em que classifica o período nazista como o “mais sombrio da história alemã”, e ainda disse que se opõe a “qualquer tentativa de banalizar ou mesmo glorificar a era do nacional-socialismo”, como era formalmente chamado o regime nazista. “O período do nacional-socialismo é o capítulo mais sombrio da história alemã, trouxe sofrimento infinito à humanidade. A Alemanha mantém sua responsabilidade. Opomo-nos a qualquer tentativa de banalizar ou mesmo glorificar a era do nacional-socialismo”, publicou a embaixada.
Compare as falas
A frase de Goebbels: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada” (Goebbels: a Biography, de Peter Longerich).
A frase de Alvim: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.
This website uses cookies.