Com capacidade de manter a água nas torneiras de Santa Cruz do Sul por apenas mais um mês, o Lago Dourado mostra que a estiagem ensina uma lição que todos necessitam aprender. O consumo precisa ser consciente e a população deve poluir menos a água e emitir menos gases na atmosfera, para evitar alterações no clima. Com a estiagem que, desde novembro de 2019, reduziu consideravelmente o volume de chuva, a recuperação do reservatório dependerá da ação de todos, inclusive da volta da chuva.
O Lago Dourado está fechado para obras desde fevereiro de 2019. Com uma autorização especial da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), a Gazeta do Sul percorreu os seis quilômetros de margem do lago na manhã dessa quarta-feira, 29. Os ouvintes da Sala do Cafezinho, da Rádio Gazeta, testemunharam ao vivo, em primeira mão, que a situação do reservatório é muito preocupante. Pela primeira vez uma equipe de reportagem entrou no leito seco do lago, na área mais crítica.
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Em meio à terra rachada, que lembra o sertão do Nordeste, é comum encontrar embalagens de plástico, garrafas PET, latas e até pneus cravados na lama seca. Além dos poluentes, algumas partes das margens do lago têm uma espuma branca na água.
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Segundo o superintendente regional da Corsan, José Roberto Epstein, os materiais de plástico, lata e borracha encontrados dentro do Lago Dourado não vieram com a vazão do Rio Pardinho. Na captação da água, existe uma grade de proteção que inibe que objetos maiores do que uma lata de bebida sejam despejados dentro do reservatório. “Eles podem ter ido parar dentro do lago no período em que o acesso estava liberado ao local. O que se encontra agora, na margem seca, não está em volume tão expressivo”, avaliou Epstein.
Rodízio de abastecimento
A chuva acumulada desta semana fez com que a nascente do Rio Pardinho, em Gramado Xavier, elevasse o nível da vazão do rio em 20 centímetros. Este volume a mais faz com que o manancial volte a despejar água no reservatório.
Associado a este aumento de água, para a próxima semana é aguardado um novo volume de precipitação no Estado entre domingo e segunda-feira. “Com base nesta chuva e nas informações que recebermos do Estado, tomaremos novas medidas. A direção da Corsan trabalha para não restringir o abastecimento, mas se a estiagem permanecer, poderemos fazer rodízio”, confirmou o superintendente regional José Roberto Epstein.
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Conchas aparecem no fundo seco
O professor de Biologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Andreas Köhler, explicou que existem pelo menos cinco espécies de moluscos dentro do Lago Dourado. A presença fica evidente com a seca nas margens do reservatório. Semelhante à beira da praia, o leito seco tem conchas gravadas na terra.
“Existem várias espécies que foram mapeadas dentro do reservatório. Estes moluscos são encontrados também no Rio Pardinho, e como a água vem do rio, é natural que eles habitem também o lago”, disse Köhler. Segundo o biólogo, a presença dos moluscos dentro do reservatório não representa desequilíbrio ou problema na qualidade da água consumida pelos santa-cruzenses. “Estes animais ajudam a filtrar a água do lago, pois ela passa por eles”, acrescentou.
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O professor da Unisc conta que a presença de moluscos em água doce é bem comum. Eles habitam a faixa que fica entre o leito e a água, parte dentro da lama que se forma no fundo do reservatório, parte na água. “Quando a estiagem reduz o nível – e isso ocorreu em boa parte do lago –, estes moluscos acabam morrendo, pois não conseguem alcançar a área que ainda tem água. Por isso que se encontra parte deles na terra seca.”
Quando o nível da água subir, a tendência, segundo o professor, é que a população de moluscos seja restabelecida no local de maneira natural. “Não acredito que possa ocorrer um desequilíbrio dentro do Lago Dourado, pois o próprio reservatório não estava naquele ecossistema (do rio)”, complementou o professor Andreas.
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Consumo e consciência
O professor de Biologia Andreas Köhler é categórico ao dizer que a ação coletiva dos santa-cruzenses provoca impacto direto no volume e na qualidade da água do Lago Dourado. “Estamos vivendo uma situação que é atípica sim, porque vários fatores interferem. Mas boa parte deste problema é de responsabilidade de todos os usuários”, assegurou Köhler.
O professor rebate a sugestão de aumentar a profundidade do lago, levantada pela própria comunidade como uma alternativa para ter mais água estocada. “Precisamos mudar os hábitos de consumo, isto sim. Temos que poluir menos o meio ambiente para evitar também as mudanças do clima e os problemas causados pela redução da chuva, por exemplo.”
A observação é endossada pelo superintendente regional da Corsan, José Roberto Epstein. Conforme ele, a orientação para o consumo consciente segue como máxima dos santa-cruzenses. Além de reduzir parte da pressão com que a água chega às torneiras e perfurar poços para colocar mais água no leito do Rio Pardinho, a Corsan não tem muito mais a fazer pelos próximos dias. “Estamos em contato constante com a Defesa Civil do Estado para acompanhar as projeções de chuva e o futuro término da estiagem no Estado”, disse Epstein.
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