Período sangrento no Vale do Rio Pardo, os anos entre 2002 e 2006 guardam alguns dos maiores assaltos registrados na história da região. Destes, muitos tiveram um desfecho trágico e permanecem na memória daqueles que viveram a época. Apontado pelas forças de segurança como grande comandante de uma quadrilha especializada em assaltos a carros-fortes com uso de explosivos, José Carlos dos Santos, o Seco, foi preso e condenado por diversos crimes.
Entre eles está o roubo à distribuidora de valores Proforte, em 10 de abril de 2006, em Santa Cruz do Sul, considerado uma das ações mais ousadas da crônica policial gaúcha. Convidado no podcast Papo de Polícia, produzido pela Gazeta Grupo de Comunicações, o escritor e jornalista investigativo Ricardo Düren relembrou o período e contou bastidores da cobertura que ele fez na época em que era repórter policial da Gazeta do Sul.
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Entre as informações inusitadas está uma sobre a ocorrência em Santa Cruz, quando os criminosos arremessaram um caminhão-guincho roubado do pátio da Santa Cruz Rodovias, na Rua São José, contra o prédio da transportadora de valores Proforte, na Rua Júlio de Castilhos, roubando R$ 3,9 milhões. Na fuga, ainda mataram o capitão da Brigada Militar André Sebastião dos Santos com um disparo de fuzil 762 na cabeça.
“No indiciamento, a cargo do delegado Luciano Menezes, na época da antiga Defrec, uma das grandes pistas contra o suposto líder da quadrilha eram os calçados. Porque nas câmeras de vigilância da empresa, dois homens encapuzados e armados com fuzis entram e um deles está com um sapatênis. E quando o líder dessa quadrilha é preso, ele está com o mesmo sapatênis. Isso foi um dos elementos de prova usados na época”, contou Düren. Segundo ele, o período em que o quadrilheiro e seu bando atuaram foi extremamente atípico na região.
“Estávamos acostumados a roubos em mercado, e do nada começam a surgir esses assaltos de grande porte contra blindados, sendo o primeiro em abril de 2003, em Venâncio Aires, quando pela primeira vez um caminhão foi jogado contra um carro-forte, terminando com um vigia morto em tiroteio. A partir daí, começamos a ver que algo grande estava acontecendo na região”, comentou o escritor.
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Em 2004, houve um episódio emblemático, quando dinamites foram colocadas em uma ponte de Candelária. “Aquilo era algo assustador, pensar em dinamitar uma ponte, onde as pessoas passam”, disse o jornalista.
Depois, novamente em Candelária, em 2005, um caminhão frigorífico foi atravessado sobre uma ponte, embretando dois carros-fortes, enquanto a quadrilha avançava pelo outro lado. Na oportunidade, na troca de tiros, dois bandidos foram mortos. “O que começou a chamar a atenção é que eram ações que pareciam coisa de filme, e para nossa surpresa estava acontecendo na realidade. E não era nenhuma ação de Robin Hood. Pessoas estavam morrendo.”
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Atualmente, Seco tem 44 anos. Ele é natural de Candelária e foi acusado de pelo menos dez crimes, incluindo mortes de vigilantes de carros blindados. Neste sábado, completará 18 anos preso. Foi capturado no Posto do Rosinha, na BR-386 em Paverama, município do Vale do Taquari, em 13 de abril de 2006, na histórica Operação Lince, deflagrada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Porto Alegre, apenas três dias após o caso da Proforte em Santa Cruz.
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Conduzido à Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), ficou no local até 28 de julho de 2017, quando foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Em 16 de junho de 2021, no entanto, retornou ao Estado, novamente à Pasc, onde está cumprindo suas penas, que somadas chegam a quase 200 anos.
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Ainda no podcast Papo de Polícia, Ricardo Düren revelou bastidores de outros crimes que cobriu na região ou sobre os quais escreveu livros, como o Caso Kliemann; os crimes da Rua do Arvoredo; o Caso da Menina do Armário; o Caso João da Grama e os Irmãos Naricos, que será tema da 11ª reportagem da série Casos do Arquivo, a ser publicada na edição deste fim de semana da Gazeta do Sul.
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