Rio Pardo tem personalidades que marcaram a história, não só por conquistas em batalhas ou na política, mas também pelos esforços em preservar a memória do município. É nesse ponto que Biágio Soares Tarantino entrou para a posteridade. Entre outros feitos na Cidade Histórica, ele criou o Museu de Arte Sacra, que funciona junto à Igreja São Francisco.
“Ele tinha uma percepção de cultura e de história muito peculiar. Desde os anos 1940, coletava peças religiosas e até mesmo de uso cotidiano, que depois vieram a compor o Museu Municipal”, explica a historiadora Dariane Labres, da Gestão de Projetos e Curadoria de Museus Municipais na Secretaria do Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer de Rio Pardo.
Era Tarantino quem promovia as famosas Semanas Santas de Rio Pardo. Trazia artistas que faziam pinturas dos prédios da cidade para um concurso e, depois, esses quadros eram comercializados. “Parte desse valor foi usada para a criação do museu, e ele ainda buscava a doação de peças em outras igrejas para compor o acervo”, conta Flávio Augusto Wunderlich, diretor de Turismo da secretaria municipal.
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O museu tem peças com valor histórico imensurável. Algumas chamam muito a atenção, como o Cristo de fisionomia indígena, ainda da época jesuítica. Ou a imagem de São Nicolau como “santo do pau oco”, que antigamente era usado para guardar objetos de valor. Além de um missal de 1784, há uma peça onde se apoiava o caixão nas missas de corpo presente. E a indumentária dos primeiros padres.
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Os objetos são destaque, mas Dariane chama atenção para outro detalhe. “Ao entrar no Museu de Arte Sacra da Igreja São Francisco, você está entrando em um pedacinho da história de Rio Pardo. Aquela sala pequena comporta a ideia de um sonhador, que sabia da tradição religiosa, mas, mais do que isso, sabia do valor artístico.” A historiadora também ressalta que “museus não são espaços para guardar objetos velhos, nem mesmo antigos, mas sim de guardar a memória viva das pessoas”.
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O Museu de Arte Sacra, além das peças religiosas, guarda todo um acervo de vestidos de noiva, provenientes de promessas para Nossa Senhora da Boa Morte. O mais recente é de 2019, e ainda há um sapato e um véu de 2021. As peças são entregues por moças que desejam casar, que as prometem à santa desde que o matrimônio se concretize.
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Wunderlich conta que a lenda da noiva de Rio Pardo causa certa confusão. Algumas vezes, os turistas pedem para ir à “Igreja das noivas” e não na Igreja São Francisco. A história nasce do único momento em que as moças, antigamente, saíam de casa para socializar: as missas semanais.
Diz a lenda que, em uma dessas saídas, uma jovem de família abastada se apaixonou por um soldado, que não tinha posses. A história tem várias versões. A mais corrente conta que o pai fez com que o oficial fosse transferido, para o casal não se encontrar mais. Pelo afastamento, a filha fez greve de fome e acabou falecendo pela fraqueza. Alguns contam que ela chegou a se casar com o amado, outros que ela não chegou a subir ao altar. A mãe, que sabia da promessa da filha para Nossa Senhora da Boa Morte, doa o vestido e ele é colocado na imagem.
“Há toda uma história de lenda. É muito curioso o fato de que a Igreja Católica permitiu que um vestido de noiva fosse colocado em uma imagem de Maria. Talvez pela própria promessa em si e pela comoção que a história causou”, pondera Dariane. O curioso é que a lenda se torna realidade no momento em que as mulheres, até hoje, prometem o vestido para Nossa Senhora da Boa Morte. Quando o desejo se realiza, elas o entregam.
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