Há esportistas leitores, e leitores esportistas. Uma coisa jamais excluiria a outra. Mas o que faz o porto-alegrense Luciano Corrêa de Ávila, 52 anos, talvez não seja comum. Ele alia as duas coisas… ao mesmo tempo. É um caminhante leitor, como o sabe quem frequenta a área central de Santa Cruz do Sul, e que em algum momento talvez já tenha se deparado com ele. E não é qualquer atleta. Nem qualquer leitor. Hoje, mantém média de leitura de 70 páginas por dia.
Luciano reside em Santa Cruz desde o final de 2015. E em menos de cinco anos, além de ter se dedicado à profissão, de educador físico, mergulhou, como nunca antes, na leitura. Neste exato momento, quando você lê este texto, o Luciano está envolvido na leitura de seu livro de número… 300 (!) desde que se radicou em Santa Cruz. Livros são uma de suas paixões. Assim como foi o amor que o trouxe à cidade. Em meados de 2015, em função de uma corrida de rua, teve contato com a santa-cruzense Maria Clarice Hochscheidt. Em dezembro, estavam casados.
Ele deixou a sua cidade natal, Porto Alegre, e veio para Santa Cruz. Trouxe junto a paixão pela leitura, que lhe foi transmitida pelo pai. Por aqui, decidiu imprimir cronograma mais rígido às leituras. “Queria ler um livro por mês, e registrá-los em lista”, comenta. Foi o que fez. Em 2016, atingiu a meta. E não era qualquer livro. Alguns eram quase uma Bíblia. Ou até mais do que uma Bíblia.
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Se no primeiro ano leu 12 (a média de leitura anual do brasileiro é de cerca de cinco livros), em 2017 chegou a 49. Mas em 2018 foi muito adiante: leu 105, vários com mais de mil páginas. Pois em 2019 leu ainda um a mais, fechando em 106. E neste ano, até o momento, já devorou 26.
No início desta semana, estava às voltas com o livro de nº 299, o 27º deste ano: uma edição dos Contos de Voltaire. E na quarta-feira começou a ler em simultâneo o livro de número 300 desde que se fixou em Santa Cruz, a pesquisa do historiador americano Robert K. Massie (1929-2019) que resultou no volume Os Romanov: o fim da dinastia. Em vídeo que gravou para esta reportagem ele lê em voz alta a primeira página deste livro.
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É uma marca nada desprezível para um leitor que não faz da literatura ou das letras a sua área de atuação. É, isso sim, herança de família. Seu pai, Unigmolino de Ávila, e sua mãe, Leoni Corrêa de Ávila, falecidos, desde cedo incutiram nos sete filhos, dos quais é o caçula, o gosto pela leitura. “Meu pai era publicitário, e era um curioso crônico, o que também me tornei”, avalia. “Ele comprava livros, e sempre dava títulos de presente para mim e para meus irmãos. Todos nos tornamos leitores.” Luciano cursou Educação Física e se pós-graduou em Ciências da Saúde do Esporte. Agora, começa a alimentar o plano de, talvez, cursar Letras ou algum pós na área de literatura.
Em Porto Alegre, ia a bibliotecas e à Feira do Livro. Em Santa Cruz, montou sua própria biblioteca. Em paralelo, é educador físico; e, ao lado da esposa, participa de corridas Brasil afora. Sempre com um livro por perto. Não raro, circulando por calçadas, parques, praças e ruas de Santa Cruz com um livro na mão enquanto caminha. Em casa ou caminhando, em um mundo em que tantas pessoas sequer passam das primeiras páginas de um livro, ele é nada menos do que um incrível herói.
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Livros, por Luciano
Primeiro lido no ranking 300: “Pelo que me lembro, foi O conde de Monte Cristo, do Dumas”
O mais extenso: “O tempo e o vento, do Erico, com 2.832 páginas!”
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O que levou mais tempo para ler: “A montanha mágica, do Thomas Mann”
O que mais o marcou: “Os miseráveis, do Victor Hugo. Demais!”
O que leu mais rápido: “O crocodilo, do Dostoievski”
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O mais chato: “Caixa de pássaros, de Josh Malerman. Detestei. Ruim!”
Não gostava, mas passou a gostar: “Machado de Assis. Gostei muito de Helena”
O brasileiro preferido: “O paulista João Anzanello Carrascoza.”
Em poesia: “Morte e vida severina, do João Cabral. Espetacular.”
O livro 300
Qual é o livro de no 300 que Luciano Ávila, o “leitor das ruas”, está lendo desde que se fixou em Santa Cruz do Sul, ao final de 2015:
Os Romanov: O fim da dinastia, de Robert K. Massie. Tradução de Angela Lobo de Andrade. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. 272 p. R$ 39,90.
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