Há 30 anos, da janela de casa, a professora aposentada Adir Fanfa Onófrio, a Dila, acompanhava a movimentação da estrutura abandonada da antiga Escola Militar ou do Colégio das Irmãs. Ela, que tinha sido aluna interna do local, não gostava do que via – as janelas batendo em dias de vento, os vidros caindo a cada rajada mais forte e o risco de machucar alguém que passava pela Rua Andrade Neves. “Vivi muitos momentos bons e felizes naquele lugar, queria muito bem aquela escola.”
Por quase três décadas, Dila foi diretora do Colégio Estadual Barro Vermelho. Assim que se aposentou, se sentiu solta e sem ter o que fazer. Acompanhar o descaso com o prédio a fez ter a ideia de reunir ex-alunos do Colégio Auxiliadora e ser a representação da comunidade frente ao Poder Público. Ali nasceu a União dos Ex-Alunos Amigos do Auxiliadora (Uneama), que lutou junto às autoridades durante quase 15 anos para que Rio Pardo tivesse um Centro Regional de Cultura.
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O grupo se formou aos poucos. Dila relembra que procurou se cercar de pessoas de diversas áreas que poderiam contribuir com a empreitada que estava por vir. Semanalmente, os amigos e ex-alunos se reuniam, primeiro no Clube Literário e Recreativo, depois em uma lavanderia e por último, na única sala do prédio da antiga Escola Militar que tinha luz. “Queríamos chamar a atenção de que algo estava sendo feito pelo prédio”, conta a fundadora.
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O trabalho foi árduo, mas Dila rememora aquele esforço todo com brilho no olhar. E o resultado, que já está com a comunidade há 15 anos, “é fruto do amor”. Ela não esconde o orgulho de tudo que foi feito pelo grupo. “Quando ando lá por dentro vejo que ele está lindo como sempre foi. Tenho orgulho, olho e penso ‘Que bom que pude fazer, que encontrei as pessoas certas’”, completa.
Dila ainda relata que foi tudo muito demorado, existiam aqueles que imaginavam que não seria terminado. “Eu nunca pensei, sempre soube que ia ser concluído. Tinha uma força lá dentro que nos movia, uma coisa alegre, um trabalho gostoso. A gente venceu.” E para as novas gerações, a professora aposentada e fundadora da Uneama deixa um recado. “Quem ama faz, não despreza!”.
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A arquiteta Vera Schultze descreve o Centro Regional de Cultura como um ícone da cidade. “Todas as gerações vivas têm ele como referência.” Ele é o cartão de visitas de Rio Pardo e por muitos anos ficou abandonado. O local que hoje é referência na área da cultura com dança, música, palestras, teatro e ensino técnico também já foi espaço de militares.
Inicialmente o prédio foi projetado para ser uma Casa de Caridade da Irmandade Bom Jesus dos Passos, mas acabou sendo passada para o Estado e se tornou uma das primeiras escolas militares do Brasil e primeira do interior do Rio Grande do Sul. Pelas salas de aula passaram, por exemplo, os ex-presidentes Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas, como lembra o diretor de Turismo do Município, Flávio Augusto Wunderlich. O Centro guarda um Memorial do Exército, a Biblioteca Municipal, o Conservatório de Música, Sala do Museu Histórico Municipal Barão de Santo Ângelo e sala de cursos e exposições.
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Até chegar na estrutura existente hoje, que já está à disposição da comunidade há 15 anos, um trabalho minucioso foi feito no local para a restauração. “Foi uma obra muito grande. No período em que foi realizada, foi considerada a maior obra de restauro do Estado”, destaca Vera, que acompanhou passo a passo como arquiteta e também integrante da Uneama. Tudo que foi executado seguiu os protocolos determinados e teve acompanhamento direto de uma equipe de arqueólogos.
“Com o trabalho da arqueologia foi possível remontar a Escola Militar, saber o que tinha funcionado em qual lugar, a cozinha, a sala de aula, a capela”, conta a arquiteta. Ela ainda relembra que de todos os prédios de Rio Pardo que já estudou, a antiga Escola Militar era a única que tinha um projeto, feito pelo engenheiro Johann Martin Buff, o mesmo que desenhou a primeira planta da Vila de Rio Pardo em 1829. “Inicialmente ele seria uma quarteirão inteiro, com um pátio interno, mas foi construído apenas um lado.”
Outro cuidado que uma obra de restauração tem é quanto a pinturas originais e substituições de peças. As paredes são descascadas, camada a camada, até que a primeira seja encontrada. E alguns ficam de testemunha, como é o caso de painéis na parede e as tesouras do telhado. “Elas não recebem carga, são tratadas e cuidadas para ficarem ali de testemunha para gerações futuras.”
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O Centro Regional de Cultura Rio Pardo fica aberto para visitação de segunda-feira a sábado, das 8h30 às 12 horas e das 13h30 às 17 horas, com ingresso a R$ 2,00. O prédio está localizado na Rua Andrade Neves, 679, no Centro.
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