Processo que deve ir a julgamento nos próximos meses, o assassinato do motorista de aplicativo Patrick Brum Dall Ongaro, de 30 anos, em 28 de agosto de 2020, em Rio Pardo, é considerado um dos homicídios mais brutais registrados na região nos últimos tempos. O crime foi desvendado por completo em uma investigação minuciosa da Polícia Civil, que apurou a participação de sete pessoas – seis executores e o mandante, o apenado Jéferson Juliano Vedói, de 44 anos.
Convidados do podcast Papo de Polícia, produzido pela Gazeta Grupo de Comunicações, o delegado Anderson Faturi e o comissário Alessandro Lorenzoni Simões contaram alguns bastidores da investigação do homicídio que completará quatro anos daqui a duas semanas. “O crime foi encomendado e ele mesmo trouxe o pagamento da sua própria morte”, comentou o chefe da Delegacia de Polícia (DP) de Rio Pardo.
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Ainda segundo Faturi, Patrick era morador de Cruz Alta e veio entregar drogas em Rio Pardo, a mando de um traficante. Só que ele não sabia que tinha a morte encomendada. “Ele achou que fosse entregar a droga e pegar o dinheiro. Na verdade, a morte já tinha sido encomendada pelo traficante de Cruz Alta, e o pagamento foi a droga que a vítima mesmo trouxe”, complementou o delegado. Patrick foi dado como desaparecido por familiares em sua cidade natal.
A Polícia Civil começou a procurá-lo e localizou o corpo do motorista de aplicativo 13 dias após a morte, na manhã de 10 de setembro de 2020, às margens da estrada geral da localidade de Passo do Adão, interior de Rio Pardo, já em estado de decomposição. O carro em que Patrick estava foi apreendido nas imediações da residência de uma mulher que trabalhava traficando para Vedói na época.
“Quando ela foi presa, apreendemos um celular e foi extraído um vídeo que mostra a execução e os autores”, salientou Faturi. As imagens são terríveis. Nelas, seis pessoas participam de uma ação cruel, na qual Patrick agoniza após ser degolado com uma faca de cozinha. “É um vídeo bárbaro, de uma morte com requintes de crueldade, por esgorjamento. E foi transmitida ao vivo, pois o mandante, que é apenado, exigiu que fosse gravada para ver se estavam cumprindo suas ordens.”
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“Morreu sem saber o porquê”, afirma delegado
O comissário Alessandro Lorenzoni Simões afirma que, em 30 anos atuando na polícia, jamais tinha visto uma execução com tamanha crueldade. “Quando nos deparamos com esse vídeo, foi algo muito chocante. Nunca tinha visto algo tão horrendo.” Patrick foi assassinado sobre um piso ladrilhado de uma residência que, mais tarde, seria identificada como a famosa casa verde, ponto dos assassinatos do grupo chefiado por Vedói.
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“Ele foi atraído até lá achando que receberia o pagamento pela droga, mas foi rendido e morto”, complementou Alessandro. Patrick foi denominado no mundo do crime como sendo um “talarico”, que se envolve com a mulher de outro. Ex-comerciante, perdeu o emprego e começou a se envolver com drogas e trabalhar como motorista de aplicativo. Nesse tempo, teve breve relacionamento com uma menina que era companheira de um traficante presidiário de Cruz Alta.
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“Esse preso descobriu e, como forma de se vingar, pediu a morte para o líder do tráfico em Rio Pardo, que é conhecido por cometer assassinatos brutais”, explicou Anderson Faturi. Ainda de acordo com o delegado, é possível concluir que Patrick nem sequer soube o motivo de estar sendo morto. “Ele morreu sem saber por que estavam fazendo aquilo com ele. No vídeo ele pergunta, mas mandavam ficar quieto ou calar a boca.”
Com este, foram 21 homicídios registrados no ano de 2020 em Rio Pardo, um recorde negativo para o município com cerca de 38 mil habitantes. Para se ter uma ideia, em termos de comparação, em 2019 haviam sido seis assassinatos. A cidade chegou a ser cotada em 2020 para entrar no programa RS Seguro, do governo estadual, onde estão os municípios com maiores índices de criminalidade.
No entanto, a investigação da Polícia Civil mirou o bando de Vedói, com a megaoperação Tentáculos. Em 10 de dezembro de 2020, mais de 200 policiais de todo o Estado ocuparam o município em cumprimento de 59 ordens judiciais, sendo 16 de prisão preventiva, três de apreensão de menores e 40 de busca e apreensão. Desde então, passam de 300 anos as penas somadas dos investigados já condenados. E os homicídios ligados ao tráfico de drogas em Rio Pardo caíram drasticamente.
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