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VÍDEO: Matriz tem arquitetura eclética e muita história

Tombada pelo Município de Rio Pardo e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Sul (Iphae), a Igreja Nossa Senhora do Rosário é considerada o templo mais eclético da Cidade Histórica no que toca à arquitetura. Do barroco ao rococó, é possível encontrar muitos aspectos dentro do templo.

Não há um consenso documental, mas a fundação da Matriz ocorreu entre 1769 e 1774. A inauguração aconteceu em 1779, com a conclusão da nave principal. E entre 1800 e 1940 a Igreja ainda passou por diversas reformas. O prédio chama atenção pelo tamanho e comporta sete altares – o altarmor e mais seis retábulos originais agregados –, cada um pertencente a uma congregação e cada um com as suas características.

Outra raridade guardada no templo é a imagem articulada, em cedro policromado, do Senhor Morto – Jesus Cristo na Cruz, de meados do século 14. A estátua é guardada em um altar próprio, junto com Nossa Senhora das Dores, dentro da capela ao lado da nave principal. A imagem vem a público tradicionalmente na Sexta-feira da Paixão, durante a procissão do Senhor Morto.

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As paredes, pinturas e cada detalhe que a Matriz guarda contam um pouco de Rio Pardo. Para a arquiteta Vera Schultze, a igreja conta um pedaço da história da cidade porque levou muitos anos sendo construída, e não foi concluída. “Na lateral, onde hoje tem o canteiro e a gruta, era para ser o consistório lateral direito. Ficaram pedras aparentes, que seriam para as amarrações da construção. As sacadas existem e uma porta perdida também. Seria a entrada para o púlpito daquele lado, que nunca foi construído”, explica Vera.

A historiadora Dariane Labres, da Gestão de Projetos e Curadoria de Museus Municipais na Secretaria do Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer de Rio Pardo, ressalta como a Igreja Nossa Senhora do Rosário mostra com clareza como acontecia a divisão social séculos atrás. “A Matriz é um código bem interpretado de como se dava a divisão e qual a relevância da Igreja Católica dentro daquele período da história de Rio Pardo e do Brasil.” Havia escalas de importância, uma divisão do pórtico até o altar. “Quanto mais importante, mais próximo ao altar-mor ficava a pessoa”, conta Dariane.

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Imagem do Senhor Morto, em cedro, é de meados do século 14 | Foto: Alencar da Rosa

O diretor de Turismo da secretaria municipal, Flávio Augusto Wunderlich, salienta que a divisão também se dava pelo batismo. “Era quase uma obrigatoriedade para estar inserido na sociedade, tinha que ser batizado para ser considerado que tinha espírito perante a Igreja. Quem não era batizado era considerado sem alma, sem espírito, e era comparado a um animal”, refere.

Pessoas não batizadas tinham acesso apenas ao átrio da Igreja, onde estão os azulejos barrocos. E podia assistir apenas a parte da missa. “Na segunda parte, eles eram obrigados a se retirar. Na hora da comunhão, não poderia nem assistir.” Diferente de outras igrejas, a Matriz era de economia mista e, apesar dessa divisão, era a única em Rio Pardo que permitia a entrada de todos.

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Com toda essa história entranhada nas paredes, a arquiteta Vera ressalta que “é de uma grandeza estudar a Igreja Matriz”. A construção foi feita aos poucos e chegou a ficar parada durante dez anos, na Revolução Farroupilha. Esse processo está implícito dentro do templo. “É possível ver a descontinuidade das coisas, como no caso do consistório não construído. E ainda nos altares, cada um de uma irmandade. Cada um representa um período.” Vera destaca o altar que guarda Nossa Senhora das Dores, que é o barroco mais rico de todos, e o altar de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que é o que não tem figuras em alto relevo, apenas pinturas.

A igreja dedicada à padroeira do município passou muitos anos com uma torre apenas. Era baixa, lembrava uma capela jesuítica, até que no início do século 20 um arquiteto italiano, Corso Serafini, fez a outra e reformou a existente. “A base da igreja é da arquitetura barroca, e as torres são neorrenascentistas”, descreve a arquiteta. Além disso, há uma desproporcionalidade entre a nave central e a capela-mor. “A Igreja Matriz é intrigante; conta a história, faz com que as pessoas façam perguntas”, completa.

Altar-mor da igreja atrai muito a atenção de todos os visitantes | Foto: Alencar da Rosa

Sob a inspiração da lenda de Nossa Senhora do Rosário
Na época das guerras com os índios e os espanhóis, os portugueses que já viviam em Rio Pardo tinham medo de serem atacados. Existia um posto avançado da Fortaleza, comandada por um soldado devoto de Nossa Senhora do Rosário, que todos os dias levantava de madrugada para rezar o rosário ao ar livre. Entre os militares da Fortaleza, a devoção à Nossa Senhora do Rosário era comum. Ela era considerada senhora dos Mares, rainha da paz e da guerra, porque, durante as Cruzadas, ajudara os cristãos na luta contra os infiéis. Sua imagem e força estavam ainda ligadas à sua presença e à intervenção nas batalhas.

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Numa dessas ocasiões em que o comandante devoto rezava no silêncio da madrugada, percebeu um ruído ao longe, que parecia com tropel de cavalos e tilintar de esporas. Prestou atenção e confirmou sua suspeita: era o som de muitos soldados em movimento. E só podia ser o exército espanhol. Deu o alarme e os soldados conseguiram organizar a resistência e vencer o inimigo.

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Quando o Comandante contou como tinha descoberto a aproximação do inimigo, tanto os soldados como a população civil atribuíram a vitória à devoção em Nossa Senhora do Rosário e pediram ao bispo a troca do padroeiro e Rio Pardo de Santo Ângelo para Nossa Senhora do Rosário, o que foi consentido.

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Telas
A partir deste episódio, teremos a contribuição da artista plástica Zélia Kaufmann com as telas que ela pintou entre 2000 e 2002 para ilustrarmos as lendas de Rio Pardo. Artesã, professora e instrutora do Senar, Zélia é natural de General Câmara e reside em Rio Pardo desde 1984.

Obra da artista plástica Zélia Kaufmann

ENCENAÇÃO
Para encenar as lendas de Rio Pardo, o projeto Relíquias do Rio Grande conta com a colaboração da Andarilhos Companhia de Teatro. Neste episódio, o ator Bruno Aires representou o soldado.

PRÓXIMO EPISÓDIO
O quarto episódio do Relíquias do Rio Grande será sobre a Fortaleza Maria José e o mistério dos túneis, que teriam existido em Rio Pardo. Mas será que isso foi real? A resposta pode ser conferida na próxima quarta-feira, dia 21.

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