A série especial sobre os 200 anos de Imigração Alemã deste fim de semana pegou a estrada em direção à Serra Gaúcha, para a cidade de Nova Petrópolis, situada a 169 quilômetros de Santa Cruz do Sul. O município, hoje conhecido pelo turismo, preserva a história de seus antepassados e que, por muitas vezes, passa despercebida para os visitantes. No Rio Grande do Sul, a cidade foi a terceira a receber os novos povos, no processo imigratório. Grande parte da história da cidade está guardada no Arquivo Histórico Municipal Lino Grings, na Biblioteca Professora Elsa Hofstätter da Silva.
A equipe da Gazeta do Sul que se deslocou para a Serra contou com o repórter Ricardo Gais e a fotojornalista Rafaelly Machado. O professor e historiador Jorge Luiz da Cunha também acompanhou. A viagem ocorreu na última quarta-feira, 20. Próximo ao destino, as obras para recuperação da BR-116, entre os quilômetros 176 e 181, exigiram paciência. O local, afetado por um deslizamento de terras em novembro do ano passado, em razão das chuvas, está em meia pista e permite apenas a passagem de veículos leves. O tempo do pare e siga é de 30 minutos.
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Os primeiros imigrantes que chegaram ao Rio Grande do Sul desembarcaram na Colônia de São Leopoldo em 1824. O processo de avanço da ocupação de terras foi interrompido com a Revolução Farroupilha. Mais tarde, com a Paz de Ponche Verde, firmada em 1845, as hostilidades foram cessadas em toda a província, marcando o fim das lutas da revolução. Com o fim dos conflitos, a experiência dos colonos, na cidade que hoje faz parte da Região Metropolitana de Porto Alegre, fez com que novas comunidades fossem criadas, como a Colônia de Santa Cruz, em 1849, sendo a primeira inteiramente organizada pela província.
Os projetos de imigração e colonização avançaram com a nova legislação. Assim, a Província de Rio Grande se responsabilizou pela criação de oito colônias, como Nova Petrópolis, fundada em 7 de setembro de 1858. Conforme o coordenador do Arquivo Histórico Municipal Lino Grings, de Nova Petrópolis, Pedro Henrique Scheer, de 25 anos, a região recebeu ondas mais tardias da imigração, chamadas de segunda leva de imigrantes. “Eram pessoas vindas do centro da Europa, como Renanos, Pomeranos e Boêmios. Até irlandeses e escoceses que haviam fugido dos Estados Unidos devido às guerras vieram.” Ele também é formado em História e atua no Departamento de Cultura.
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De acordo com Scheer, Nova Petrópolis foi uma colônia planejada para receber os imigrantes. “As pessoas vieram para trabalhar aqui. O território que seria ocupado por eles já tinha sido planejado para receber a ocupação das terras.” Antes da chegada dos novos povos, a área era povoada pelos indígenas. “A maioria era caingangue, situados principalmente em direção ao Rio Caí, devido à proximidade com São Leopoldo.”
Documentos revelam que o marco zero da imigração aconteceu em Linha Nova e Linha Olinda, no interior do município. “Antes de Nova Petrópolis ser colonizada, outras regiões haviam sido ocupadas”, diz Scheer. As terras que passaram a receber os povos foram exploradas e medidas por Dom José Maria Vidal, que também foi diretor da colônia na Serra Gaúcha. Os lotes eram de aproximadamente 50 hectares e estendiam-se ao longo das “Linhas e Picadas”.
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A sede da Colônia de Nova Petrópolis, chamada de Stadtplatz, ficava onde hoje está situada a zona urbana da cidade, pois na época a região abrigava o comércio, as pequenas manufaturas e os profissionais diversos, bem como a assistência médica, social e religiosa. “Esses imigrantes também criaram as localidades de Pinhal Alto e Linha Brasil. Eles se estabeleceram em um terreno dificultoso, com poucos acessos de estradas. A partir disso, perceberam que a única coisa que restava era preservar a cultura deles e reconstruir aqui a pátria antiga”, ressalta o coordenador.
A Colônia de Nova Petrópolis abrangia um grande território que excedia os limites dos rios Caí e Cadeia, avançando até as primeiras estâncias dos Campos de Cima da Serra. O projeto de cidade foi em homenagem a Dom Pedro II. A origem do nome foi uma analogia à cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde a Família Imperial passava suas férias. Como não poderia repetir o nome, o local recebeu a nomenclatura de “Nova Petrópolis”, sendo a nova cidade de Pedro.
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Com o isolamento da região, pelo difícil acesso, tornou-se muito caro o transporte da produção agrícola. Assim, construiu-se uma estrada carroçável até Porto dos Guimarães, local onde o Rio Caí recebia embarcações. Com o movimento comercial criado junto ao porto, o governo aprovou a criação do município de São Sebastião do Caí, que abrangeu a região colonial do nordeste, onde iniciava também a colonização italiana.
Assim, Nova Petrópolis torna-se distrito do novo município em 1875. E como distrito, a região perde força e fica abandonada pelos políticos. “Sem líderes, o povo fortalece a questão de sua cultura – a língua alemã, a educação e a construção de casas enxaimel”, diz o historiador Pedro Henrique Scheer.
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A produção em lavouras era forte na região, mas a criação de animais, em especial porcos, viria a ser responsável pelo sustento das famílias. Conforme Scheer, grande parte dos animais e da banha era exportada para a Inglaterra. “No centro da cidade, Stadtplatz, estava a maior concentração das tropas de porcos que eram encaminhadas para matadouros em São Sebastião do Caí.”
Com a redemocratização do Brasil, em 1930, teve início um processo de reconstrução e correção territorial. A ação atingiu o distrito de Nova Petrópolis, que foi emancipado em 1955. Atualmente, 23,3 mil pessoas vivem na cidade da Serra.
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Nova Petrópolis leva o título de Jardim da Serra Gaúcha, por ser uma das cidades mais floridas da região. A cultura de organização, limpeza e preocupação com os canteiros revela os traços germânicos que foram deixados pelos antepassados. Visando a preservação da história e como forma de mostrar às novas gerações e turistas como foi a vida dos imigrantes ao chegarem no Rio Grande do Sul, a cidade conta com o Parque Aldeia do Imigrante, fundado em 1985.
Prestes a completar 40 anos, há cinco o local é administrado por Claudio José Weber, de 58 anos. Ele é consultor de revitalização e diretor administrativo e comercial. “No parque, as pessoas vão encontrar construções originais, música, culinária e outras manifestações relacionadas à cultura, como objetos de museu que enriquecem esse local que é um guardião da cultura germânica”, diz.
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O Parque Aldeia do Imigrante está localizado no Centro da cidade, na Avenida 15 de Novembro, em uma grande área verde, com dois lagos. O destaque fica para o conjunto de construções centenárias que formam a Aldeia do Imigrante. No espaço, o público vai encontrar uma capela ao lado de um cemitério com lápides originais da época, com escritas em alemão; uma escola; a casa do professor; um salão de festas; museu e a primeira cooperativa de crédito do Sicredi. “A estrutura conta com casas trazidas do interior do município e que foram restauradas no parque, que remonta uma vila da época da imigração”, ressalta Weber.
Conforme o administrador, antes da pandemia, o local recebia anualmente 150 mil visitantes. Atualmente, está em 120 mil. Para dar conta da estrutura, são 15 funcionários mais vigias. O Parque Aldeia do Imigrante funciona diariamente das 9 às 18 horas. O ingresso por pessoa é R$ 30,00.
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Santa Cruz do Sul também deve ter uma atração nesse estilo. Denominado de Parque do Imigrante, o local em Linha Santa Cruz deverá retratar a chegada dos antepassados na região e sua cultura.
O professor e historiador Jorge Luiz da Cunha ressalta que após a estabilização das colônias de São Leopoldo e Santa Cruz, o desenvolvimento econômico – em especial o cultivo do tabaco e a produção de alimentos – impulsiona a expansão para novas terras. “Nova Petrópolis é uma expansão da imigração estrangeira e de muitos descendentes das colônias de São Leopoldo e Santa Cruz, na qual imigrantes vêm para a Serra para se tornarem proprietários de terras”, explica.
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Os imigrantes também se espalharam pela região, por exemplo, onde hoje é a cidade de Gramado. “Essa cidade fazia parte da colônia. Depois, esses locais se tornaram independentes, com os colonos vivendo próximos de suas sedes.” Gramado foi emancipada da cidade de Taquara em 15 de dezembro de 1954. Durante a colonização, o local era utilizado como caminho de tropeiros que tocavam o gado pelos Campos de Cima da Serra, no fim do século 19. Seu nome está associado aos campos de grama macia encontrados pelos imigrantes, que aproveitavam o local para descansar.
As belezas naturais, com florestas de araucárias, clima ameno e registro de neve, foram fatores que impulsionaram o turismo na cidade. A Região das Hortênsias foi se desenvolvendo com o passar dos anos e hoje está entre os três melhores destinos turísticos do Brasil, com a realização de grandes eventos, como o Natal Luz e o Festival de Cinema.
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