Uma massa de ar polar trouxe a neve para o Estado neste fim de semana. E se algumas áreas vivenciam o frisson (ou seria o friozão?) por conta de eventual movimento no turismo, apesar de todas as limitações provocadas pela pandemia, outras atividades buscam, dentro do possível, manter alguma rotina.
Até o futebol, que já teve de lidar com nevascas. E não as que se vê pela televisão, em campeonatos da Europa. Foi no Brasil mesmo, como registrou um pesquisador paulista radicado em Jaraguá do Sul, na Serra catarinense. O escritor Henrique Sudatti Porto é o autor de Pé-frio: futebol e neve no Brasil, lançado em julho pela editora Design Produções, com 220 páginas, e ilustrado com inúmeras fotos das partidas em questão, para não deixar dúvidas de que isso realmente ocorreu, e que não é ficção.
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Mais: diversas partidas aconteceram no Rio Grande do Sul, e inclusive o Grêmio esteve em campo. A maioria dos jogos que Porto localizou ocorreu, de fato, em uma mesma ocasião, a fatídica noite da fortíssima nevasca de 30 de maio de 1979, quando a agenda previa rodada do Campeonato Gaúcho daquele ano, assim como no Estado vizinho havia rodada do Catarinense.
Assim, há mais de 41 anos as equipes gaúchas estavam em campo e foram surpreendidas com a precipitação de neve. Que foi inclusive registrada pelas câmeras de TV, pois um dos jogos, o do Grêmio contra o Esportivo, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, estava sendo transmitido ao vivo. Por sinal, os transtornos climáticos foram tamanhos no confronto que o placar ficou em… branco! Os times não saíram do zero.
Para completar, em outra partida daquela rodada, Caxias e Grêmio Bagé, no Centenário, vencida por um a zero pelo time da casa, esteve em ação um futuro técnico campeão do mundo pela Seleção Brasileira. Isso mesmo: Luiz Felipe Scolari, o Felipão, então zagueiro do grená caxiense, enfrentou a nevasca. Henrique Porto, no livro, obteve um depoimento de Felipão, no qual lembra do inusitado de ter de jogar sob neve no Sul do Brasil.
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OS JOGOS DISPUTADOS SOB NEVE
17/7/1975 – Juventude (RS) 2×0 Internacional-SM (RS)
12/8/1978 – Caxias (RS) 2×2 Cruzeiro (RS)
30/5/1979 – Chapecoense (SC) 3×2 Criciúma (SC)
30/5/1979 – Esportivo (RS) 0x0 Grêmio (RS)
30/5/1979 – Caçadorense (SC) 3×1 Palmeiras (SC)
30/5/1979 – Caxias (RS) 1×0 Grêmio Bagé (RS)
30/5/1979 – Internacional (SC) 1×1 Avaí (SC)
30/5/1979 – Gaúcho (RS) 0x0 Farroupilha (RS)
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Avenida atuou naquela rodada, mas sem a nevasca
Em seu livro, Henrique Porto, que se denomina arqueólogo esportivo, detalha as circunstâncias de oito partidas realizadas sob neve no Brasil. A primeira é de 17 de julho de 1975, quando o Juventude venceu o Internacional de Santa Maria em Caxias, por dois a zero. No inverno seguinte, em 12 de agosto de 1978, quase na época do ano em que nos encontramos agora, mais uma vez a neve se fez presente, em Caxias 2 x 2 Cruzeiro (RS).
Mas foi mesmo a rodada de 30 de maio de 1979 a que deixou mais histórias para contar. Entre elas, goles de conhaque no vestiário para esquentar o corpo no intervalo das partidas, meia-calça por baixo do fardamento para proteger o corpo, e inúmeras outras artimanhas.
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Em entrevista ao jornalista Leandro Porto, no programa Rede Social, da Rádio Gazeta FM 107,9, há três semanas, Henrique Sudatti Porto mencionou circunstâncias da pesquisa. Ele é natural de Jundiaí, em São Paulo, e está radicado em Jaraguá do Sul; havia se dedicado a investigar a história do Juventus, dessa cidade, para o qual passou a torcer, e transformou as informações em livro.
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Foi em meio a essas pesquisas que se deparou, em jornais, com as notícias sobre as partidas disputadas sob nevasca em Santa Catarina e também no Rio Grande do Sul, e logo concluiu que isso rendia outro livro. Agora, sua nova obra repercute de tal forma que a maioria dos sites esportivos e dos grandes jornais já dedicou matérias a ele. O que só tende a aumentar ainda mais diante da iminência de uma nova nevasca no Sul agora.
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Henrique lembra inclusive que até o Avenida de Santa Cruz do Sul esteve em campo naquela noite de maio de 1979. E contra o Juventude, de Caxias do Sul. Talvez só escapou da neve porque o jogo ocorreu em Santa Cruz, vencido pelo Periquito por um a zero. Tivesse ocorrido em Caxias, na Serra, como foi o caso de Caxias e Grêmio Bagé, realizado em simultâneo, e o Avenida também teria se deparado com a nevasca.
Interessados na obra de Henrique Porto podem encomendá-la junto à editora, ou providenciar exemplar com o próprio autor, pelo telefone (47) 9 9991 0818. O livro custa R$ 60,00, já com despesas de envio.
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