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Investigação

VÍDEO: como a polícia evitou uma chacina na região

Foto: Alencar da Rosa/Banco de Imagens

Investigação culminou na megaoperação Armageddon, deflagrada no ano passado

O plano estava armado. As casas de prostituição à beira da RSC-287, nas imediações de Candelária, seriam a cena de um dos crimes mais violentos já cometidos no Vale do Rio Pardo. Mas o trabalho preventivo da Polícia Civil de Vera Cruz frustrou os objetivos de um grupo criminoso liderado por Cláudio Mendes Pacheco, o Toquinho, de 43 anos, e evitou um banho de sangue com potencial para desencadear uma guerra entre facções.

O caso ocorreu em junho de 2020 e foi mantido em sigilo pela Delegacia de Polícia (DP) de Vera Cruz ao longo da investigação que culminou na megaoperação Armageddon, deflagrada no último dia 11. O plano dos bandidos foi um dos fatos apurados pelos investigadores ao longo dos últimos quase dois anos. Os detalhes foram agora revelados com exclusividade à Gazeta do Sul.

Nesse episódio, os agentes precisaram agir com rapidez para evitar uma chacina, em um momento em que as desavenças entre as facções de traficantes Os Manos e Bala da Cara vinham se acentuando.

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E as ameaças não eram veladas. Dois dos indiciados na megaoperação aparecem em um vídeo que chegou até a Polícia Civil. Conhecidos pelos apelidos de “Biel” e “Cabelo”, eles gravaram imagens exibindo pistolas, afirmando serem dos Manos e ameaçando os rivais. Os investigadores da DP de Vera Cruz apuraram que eles teriam sido cooptados por Toquinho para agir como matadores na região.

Dentre as referências citadas pelos criminosos no vídeo está a frase “É os 14!”, que remete ao número 141812, sequência utilizada para demarcação de território pela facção Os Manos. Na época do vídeo, eles estavam em liberdade.

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Posteriormente, ambos foram presos em ações distintas e terminaram, agora, indiciados também na megaoperação Armageddon. O mais jovem está recolhido na Penitenciária Estadual de Santa Maria, após um assalto a joalheria em Restinga Seca. O outro cumpre prisão preventiva na Penitenciária Estadual de Porto Alegre (Pepoa) após ter sido indiciado na megaoperação Tentáculos, deflagrada pela DP de Rio Pardo em 10 de dezembro de 2020. Ficou comprovado naquela investigação que ele auxiliou na decapitação de um homem.

A prévia do crime

A facção Os Manos, de uma forma geral, domina o comércio de entorpecentes no Vale do Rio Pardo. No entanto, os Bala na Cara acabaram tomando a frente na venda de drogas em Candelária e parte de Cachoeira do Sul, o que deu início a desavenças entre lideranças. Em áudio interceptado pela DP de Vera Cruz em 17 de junho de 2020, Toquinho manda um de seus comandados ir até a casa de um homem, no Bairro Noêmia, em Cachoeira do Sul, que vende entorpecentes para o grupo criminoso rival. Da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), onde cumpre pena, pelo telefone, ameaçou o rapaz.

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Esse, por sua vez, responde que quem determinou a venda no local foi um homem conhecido pelo apelido de Guidão, líder da facção Bala na Cara em Candelária, e que atualmente cumpre pena na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas. “Se eu te pegá vendendo uma grama dele aí eu vô te picotiar no meio, entendeu?”, ameaçou Toquinho. O chefão dos Manos passa então a arquitetar a morte do rapaz que vende as drogas para Guidão em Cachoeira do Sul.

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Toquinho ainda comenta que iria conseguir um “bicho” (na linguagem dos criminosos, um carro clonado), que seria usado para matar o traficante da facção rival. Em outro dos áudios interceptados, o apenado da PEJ conversa com o seu traficante no município e afirma que já mobilizou indivíduos e armas de fogo para a execução do desafeto. “Vai só ‘kamikase’”, diz ele, usando a referência aos pilotos japoneses suicidas da Segunda Guerra Mundial. No dia seguinte, 18 de junho de 2020, o homem que vendia drogas para Guidão acabou sendo preso em flagrante e escapou do atentado.

“Sou teu Cavalo de Troia!”, diz mulher comparsa

Mesmo com a prisão do traficante de Guidão, a vontade de Toquinho de tomar as bocas de fumo da facção Bala na Cara não cessou. Dias depois do fato, em 21 de junho, ele teria coordenado o assassinato de Fagner Adriano Alves, o Kiko, de 36 anos, no Bairro Faxinal Menino Deus, em fato também apurado pela Polícia Civil. No dia seguinte, ele acionou um motorista de aplicativo que buscaria dois jovens – que viriam a ser identificados posteriormente como Biel e Cabelo.

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No dia 26, em outra conversa interceptada pela DP de Vera Cruz, ele fala com seu traficante de Cachoeira do Sul e convida o rapaz para uma “missão cabulosa”, dizendo ainda que vai “matar uns aí” e que está providenciando armas e carros clonados para a missão. Na mesma data, às 23h05, Toquinho conversa com uma de suas traficantes de Cachoeira do Sul.

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Ele revela que planeja uma chacina em boates de prostituição de Candelária, motivado pelas desavenças com o rival, Guidão. A mulher estaria em um dos locais na hora do atentado, bancando a espiã. “Quando meus guri chegarem tu entra no carro. Eu vou mandar eles irem em ti de madrugada e tu sai com eles. Eu vô matá tudo os do Guidão. Tu sabe que eu tô mordido”, disse Toquinho à mulher.

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A comparsa explica que a boate fica nas proximidades de uma fábrica de colchão. “Eu vou botar pra não perder. Vou botar uma metralhadora, um fuzil e uma pistola. Tu entra dentro do carro e só mostra”, explica o líder. “Eu sou teu Cavalo de Troia!”, finaliza a mulher, em referência ao cavalo de madeira que, na mitologia, os gregos usaram como embuste para enganar e derrotar os troianos.

Prioridade foi impedir a matança na boate

Nesta época, a DP de Vera Cruz já estava investigando as ações de Toquinho e apurou, mediante interceptações, que o crime poderia acontecer a qualquer momento. No dia 27 de junho, Toquinho confirmou a comparsas a vinda de Biel e Cabelo, de Porto Alegre. “Mandei vim dois matadores de fora. Tão chegando aí”, revelou em uma ligação. Ciente de que a dupla estava em Santa Cruz do Sul, aguardando por ordens do líder, quatro agentes da DP de Vera Cruz se reuniram em um domingo, 28 de junho.

“A chacina poderia acontecer naquela noite. Precisávamos agir. Sabíamos que um dos gerentes do Toquinho, o Kety, tinha uma prisão preventiva em aberto e poderia estar com essa dupla. Nos reunimos na delegacia e recebemos uma informação de que ele poderia estar circulando com os dois pelo Bairro Faxinal Menino Deus em um Ford Ka branco”, relatou um dos investigadores que trabalhou no caso.

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Em um dose de perspicácia, os agentes decidiram, de última hora, mudar a rota que fariam na busca pelo bando. “Saímos da DP, chegamos no trevo no Bairro Bom Jesus e iríamos ao Faxinal pela rodovia, pelo Santuário. Mudamos o caminho de última hora, decidimos seguir pelo Bom Jesus. Na Avenida Gaspar Bartholomay, nas proximidades do Senai, passamos por eles. Demos a volta e os abordamos no trevo do Bom Jesus. Estavam o Kety, Biel, Cabelo e o traficante do Toquinho que mora em Cachoeira”, complementou o agente, que preferiu não ter seu nome revelado. O inquérito da investigação será remetido ao Judiciário em duas semanas.

Perigo de guerra

Para o delegado Paulo César Schirrmann, da DP de Vera Cruz, a ação preventiva foi necessária para evitar que explodisse uma guerra entre facções na região, uma vez que após a chacina em Candelária havia possibilidade de retaliação dos Bala na Cara. “Estávamos investigando esse bando. Quando obtivemos uma informação que envolvia uma ação violenta como essa, mesmo que colocasse em risco toda a investigação, precisávamos tomar uma atitude imediata”, salientou Schirrmann, que chefiou a Armageddon.

“Não poderíamos permitir que houvesse mortes como nesse caso. Ficou muito claro que ocorreria uma chacina em uma boate de zona do meretrício, na qual os proprietários, funcionários e até os frequentadores, que não tinham qualquer envolvimento, seriam covardemente assassinados”, complementou.

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