A colonização portuguesa pode ser observada muito além dos prédios de Rio Pardo. A gastronomia também tem as marcas dos nossos antepassados e é um assunto delicioso para abordarmos. A historiadora Dariane Labres, da Gestão de Projetos e Curadoria de Museus Municipais na Secretaria do Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer de Rio Pardo, explica que, por estarmos à beira de dois rios, o peixe já se tornou referência.
Além de ser parte da cultura portuguesa. “O peixe era trabalho. O ofício de pescador”, destaca. E é servido até hoje nos restaurantes da cidade.
O prato ganhou notoriedade com os trens, quando era vendido aos passageiros na Estação Férrea de Ramiz Galvão. Pela proximidade com o rio, as famílias das redondezas pescavam, preparavam e vendiam por ali mesmo. O mesmo ocorre com os sonhos tradicionais, de massa aerada. Só que o prato doce era comercializado na Estação Central, onde os viajantes compravam pela janela dos trens. Foi nesse movimento que os sonhos e o peixe de Rio Pardo ficaram conhecidos em todo o Estado.
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Ambos os pratos até hoje levam visitantes ao município. E os sonhos ainda guardam aquele mistério de uma receita que vem passando por gerações. “A receita é muito interessante. Esse sonho não pertence a uma família, a uma pessoa. Ela não tem dono. É patrimônio cultural imaterial de Rio Pardo”, afirma o diretor de Turismo, Flávio Wunderlich.
O tradicional sonho açoriano tem a massa oca e precisa ser feito da forma correta para que fique sequinho, e não gorduroso. Seguindo a receita portuguesa, é sem fermento, tem ovos como base e a massa é cozida. A fritura é feita em duas etapas, com temperaturas diferentes. E a finalização é feita com açúcar e canela. “O sonho fica sequinho na hora em que é feito. Se não é exatamente como deve, vai ficar gorduroso”, alerta Wunderlich.
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A semelhança dos sonhos feitos em Rio Pardo com o doce dos Açores foi comprovada alguns anos atrás, quando um grupo de músicos portugueses esteve na Cidade Histórica. Segundo conta o diretor de Turismo, os sonhos de Rio Pardo foram oferecidos aos artistas na oportunidade, e um deles comentou que a iguaria tinha o gosto do sonho dos Açores.
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Anos atrás, Rio Pardo teve a Festa dos Sonhos, na qual era possível provar a iguaria açoriana. Mas eles também eram vendidos com recheio. “O tradicional sonho de padaria é um derivado do sonho português”, explica Dariane. Nos eventos, era possível provar desde o bolo frito recheado com doce de leite ou até salgados. Para Wunderlich, esses são os sonhos de Rio Pardo. O sem recheio é açoriano, português.
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Antigamente era muito comum que as pessoas andassem com as roupas engomadas, bem esticadas. Para isso, a clara de ovo era usada como uma goma natural. Sobravam as gemas e elas precisavam de uma finalidade. Assim surgiram outros doces tão ou mais conhecidos que os sonhos. E também mais fáceis de fazer.
Entre eles estão quindim, ambrosia, papo de anjo e tantos outros que consumimos no dia a dia. “Esses pratos são mais comuns, mais simples de fazer e também de comercializar. O sonho é muito mais artesanal e se manteve mais restrito”, conta Dariane.
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Rio Pardo conta com a Associação de Sonhos e Produtos Caseiros, reunindo doceiras que produzem tanto a iguaria açoriana quanto outros doces de origem portuguesa. A presidente é a doceira Sueli de Oliveira Witzke, que recebeu a reportagem da Rádio Rio Pardo para a gravação do Relíquias do Rio Grande. Os sonhos são feitos sob encomenda, diretamente pelo telefone (51) 98607 2285.
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