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VÍDEO: a matemática somada com a alegria do futebol

Em uma noite fria de inverno, nas conhecidas férias de meio de ano, em julho, a família Jandrey preparava-se para o jantar. Naquele tempo, as refeições eram feitas com pais e filhos reunidos à mesa, e sem as distrações dos dias atuais.

Dona Hertha estava envolvida nos preparativos. Era dia de sopa de galinha, prato preferido do filho, que há meses não saboreava essa comida em casa. O garoto Erni estava na companhia de seu Eugênio, à beira do fogão a lenha, e os dois dividiamse em abastecer, de tempos em tempos, as chamas com pedaços de lenha, enquanto tateavam o pinhão que estava sendo assado na chapa.

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Ansioso por falar, o filho permanecia calado, e aguardando o momento certo para revelar o que tinha pensado e repensado sobre o seu futuro. Nos 90 dias anteriores, ele ficara muito longe dos pais e da então Ibirubá, na qual nascera.

Naquele ano, no final de fevereiro de 1963, com apenas 12 anos, havia se mudado para a distante São Leopoldo, como um aventureiro corajoso e solitário. Levou uma maleta, duas dezenas de peças de roupas, dois pares de calçados, cadernos novos, e rumou, de ônibus, até o internato, que tinha por objetivo formar futuros mestres da sala de aula. Ele nem imaginava um dia tornar-se educador; só queria estudar e se preparar para os desafios do mundo.

Desde os primeiros dias na nova escola, Erni se divertia e curtia as novidades do lugar. Estudava, praticava esportes, fizera novos amigos e até estabelecera amizades com meninas aos domingos, único dia em que era permitido, aos internos, ir ao culto e ter contato com o mundo externo. Mas a euforia inicial na Escola Normal Evangélica, após três meses de vivência, não era mais a mesma lá de fevereiro. A saudade da família era uma constante, e as cartas que iam e vinham não conseguiam amenizar a dor decorrente da distância.

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Então, naquela noite, em casa, e de férias, enquanto dona Hertha, com seu vestido longo da época, e o cabelo preso ao lenço, finalizava o jantar, o menino, apreensivo, tomara coragem para revelar aos pais que pretendia desistir. “Mãe, e seu eu não voltasse mais para aquela escola? Eu gosto de lá, aprendi muita coisa, mas para mim está sendo difícil ficar longe de vocês. Quem sabe fico mais um tempo em casa e volto para lá mais tarde, mãe…”.

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Dona Hertha, por instantes, sofreu o sofrimento do filho, mas deixou que o marido interviesse. “Meu filho, agora que tu ‘começou’, continua. Aqui não tem onde estudar, e são só quatro anos, passa rápido, e tu terás a profissão garantida de ser professor um dia. Não abandone agora”, aconselhou o pai.

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Seu Eugênio tinha razão. Quatro anos depois, o filho que tanto lhe orgulhava estava habilitado, aos 16, para ser professor. Mas o jovem estudante resolveu se preparar ainda mais. Cursou ainda o ensino médio da época e, aos 19 anos, já era conhecido por ser, além de um aluno exemplar, um velocista nos 100 metros rasos, e até aprendeu a tocar violino para realizar o sonho da mamãe. “Eu era péssimo com instrumentos musicais, mas me esforcei”, diverte-se.

Hoje, aos 69 anos, completa 50 anos de vínculo com o Colégio Mauá, 40 deles em sala de aula. Nesse meio tempo, formou-se em Direito, em 1981, casou-se com a também professora Gudron Norma, tem uma filha, Denise, e dois netos. “Em uma palavra quero dizer tudo o que sinto: gratidão”, resume o professor Erni, responsável pela formação de sucessivas gerações de alunos.

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Turma de 1995, com alunos como o hoje vereador Alex Knak, os advogados Ezequiel Vetoretti e Sílvia Rossoni e o músico Fábio Carvalho

O PROFESSOR GRE-NAL

Os alunos e colegas de trabalho são unânimes e não esquecem o professor que fazia das aulas de matemática um momento de encontro e de convivência tão prazerosos quanto uma conversa de família no entorno de um fogão a lenha. E o bate-papo geralmente iniciava com o assunto futebol. “As aulas dele eram sempre expositivas e com muito bom humor. Ele tinha um jargão: ‘aviso aos navegantes’, sempre dizia isso”, conta o ex-aluno e doutorando em matemática Matheus Frederico Stapenhorst. “Foi com ele que aprendi logaritmos”, revela a ex-aluna Paula Refatti, que hoje atua na área da educação.

Foto com a turma de 2008: era comum que o professor Erni organizasse uma torcida mista quando se ingressava em semana Gre-Nal

Um ex-colega da docência, professor Neri da Costa, também se recorda do professor “bonachão”. “Ele me acolheu e me incentivou quando comecei a dar aulas no Mauá. Minha memória afetiva é de um ser humano respeitável e um profissional que transformou gerações “, declara.

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Sobre a série Reencontro com os Mestres

A Gazeta do Sul promove nesta sexta-feira, 19, a estreia de uma nova série, chamada de “Reencontro com os Mestres”. Voltada ao ambiente do ensino e da educação, terá como enfoque iluminar a história de vida e o momento atual de professores que se tornaram referenciais na comunidade de Santa Cruz do Sul e na região.

Sob a responsabilidade do jornalista Elemir Polese, a seção, em periodicidade quinzenal, se constituirá de entrevistas, com as memórias destes mestres. Além da reportagem no jornal, a pauta ainda será ampliada com vídeo no Portal Gaz. O segundo mestre a ser contemplado na série é o professor de Língua Portuguesa e Literatura Elenor José Schneider.

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