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Vida real: Quem é a premiada por Dilma

No momento em que o avião começa a subir, Ana Cláudia dos Santos fecha os olhos, pensa na mãe, nos dois filhos e em tudo que ficou para trás. “Fiquei muito, mas muito nervosa”, revela. Nem em sonho, conta ela, teria estado tão nas alturas. Aliás, viajar nunca esteve entre as suas prioridades. Quando retornou, o filho mais velho, Yago, de 9 anos, perguntou: “Mãe, dá muito vento lá em cima?”

A notícia de que precisaria ir para São Paulo, no entanto, veio como um grande desafio. Um colega de trabalho, de nome Vagner, chegou para ela e disse em tom quase de ordem: “Tu vais pra lá pra receber a premiação em nome da nossa categoria porque tu mereces.” O convite para representar o universo de catadores santa-cruzenses em uma solenidade fez Ana Cláudia repensar se deveria aceitar. “Meu Deus, nunca fui pra tão longe. E teria que abrir conta no banco pra receber o valor das despesas, usar cartão, essas coisas pra mim eram novidade.”

Foi a mãe, Eliana, de 51 anos, quem a convenceu. “Quando tu ‘vai’ ter essa oportunidade de novo, minha filha?” Aos 27 anos, o sonho mais grandioso e mais necessário para ela seria o de trocar a casa pequena, inclinada e cheia de frestas, por outra melhor. “Já fui sorteada no Minha Casa Minha Vida e acho que ano que vem vou ter minha casinha”, espera ela. Depois de uma hora de voo, Ana Cláudia chegou à capital paulista para assumir o que para ela seria o compromisso mais honroso em sua vida: encontrar-se com a presidente Dilma. Chegou em um domingo, foi para o hotel, receberam-na como uma hóspede ilustre e a trataram como a uma rainha. “A mãe me ligou e perguntou se eu ‘tava’ feliz. Eu disse: muito mãe. E ela chorou no telefone.”

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No dia seguinte, em um auditório lotado com cerca de 2 mil pessoas, na maioria catadores, por ocasião da Expocatador, Ana Cláudia estava na primeira fila. Em uma das cadeiras brancas reservadas, a inscrição: Sra. Ana Cláudia dos Santos. “Receber o troféu e um abraço da Dilma foi uma sensação que não sei nem como explicar”.

FUTURO

O trabalho de Ana Cláudia não é simples. Há cerca de um ano, deixou de ser safreira para atuar na Cooperativa de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat). Atualmente está na função de Fiscal de Produção, mas confessa que de vez em quando gosta da adrenalina de correr atrás do caminhão com seus colegas para recolher o lixo da rua. “Eu faço de tudo, nunca tive vergonha dessa profissão, muito pelo contrário, tenho orgulho.” A viagem para representar a categoria e receber a premiação pelos serviços da cooperativa fez despertar algumas motivações em Ana Cláudia. Após abandonar os estudos, pretende retornar à sala de aula e realizar o sonho que a acompanha desde a adolescência. “Quero ser brigadiana, sempre sonhei com isso.”

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