No terreiro dos Linhares, em Cabral, interior do município de Rio Pardo, seu Alfredo, pai de nove filhos, começa o repertório com músicas de Tonico e Tinoco. As crianças engrossam o coro e também cantam. Dona Maria Erceli, a mãe, começa a preparar o jantar daquela noite: feijão, batata-doce, mandioca, carne de lebre e lagarto. Em um dos intervalos da cantoria, aparece a vaca Beleza. Boa ocasião para o registro de uma foto da família: pais, irmãos e o tio, Gentil. Quem faz a foto nos anos finais da década de 1970 é “Miguel confusão”. Era chamado assim porque, meio atrapalhado na função, de vez em quando metia o dedo na frente da câmera e a foto nem sempre saía.
Feito o registro da família e da vaca, seu Alfredo chamava os participantes no primeiro acorde e as próximas músicas seriam de outra dupla sertaneja da época: Milionário e José Rico. De repente a mãe, Maria Erceli, avisa que seria hora de acabar com o barulho porque o dia estaria dando lugar para a noite e as crianças tinham mais uma de suas obrigações para cumprir: tomar banho na sanga, ao lado de casa, uma prática diária em tempos nos quais nem luz havia. Um dos pequenos, conhecido como o Tarzan de Cabral, era Volmar.
Trovador
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Volmar Linhares, hoje com 44 anos, era apaixonado pela caça e pesca. Era ele o caçador da família que sempre chegava em casa com algum tatu debaixo do braço, morto a facão. Em outra de suas aventuras, quando tinha 13 anos, usou carvão para criar uma obra de arte debaixo de uma ponte. E o desenho está lá até hoje. De lá para cá já se passaram quatro décadas, e tudo isso está na memória do sexto filho dos Linhares de Cabral. Hoje morador de Santa Cruz do Sul, Volmar reproduz parte da infância vivida nos campos da Cidade Histórica.
Além de gostar de desenhar rostos de pessoas, reaproveita materiais que iriam para o lixo e transforma tudo em obras de arte. Em um tecido velho, por exemplo, pintou cavalo e cavaleiro, gaita e gaiteiro. “Isso aqui vou dar de presente ‘pro’ pessoal do Enart”, diz ele, referindo-se ao evento que vai acontecer no próximo fim de semana, em Santa Cruz. Outra habilidade de Volmar é fazer trovas. Quando jovem, relembra, participava com o irmão, Getúlio, nos programas da Rádio Rio Pardo como trovador. Na última semana, para recordar um pouco de suas composições, criou mais uma letra e gravou no celular. “O governo deu um calote.
Os ‘cobrador’ me humilha. Tô sem nada na guaiaca. Nem pra comprar outra encilha. A sorte é que tenho fé. Que Cristo faz maravilha.”
Esse é Volmar, que trabalha formalmente como jardineiro e informalmente como pintor e desenhista. Quem quiser conhecer o seu trabalho pode fazer contato pelo telefone (51) 9603 6331.
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