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Vida eletrônica. Vida?

Estamos afundados em eletrônicos. Tanto quanto respirar ou nos alimentar, o que fazemos é navegar. Sem, na maioria das vezes, saber para quê, por quê, para onde, com qual finalidade. Por onde quer que se ande, para onde quer que se olhe, há uma tela piscando ou uma câmera bisbilhotando nossa vida. Sem pedir licença e sem autorização, algo inalienável e inegociável, desde que o mundo é mundo. 

Dizem que é para facilitar e proteger a vida, e talvez ela (a vida) nunca tenha estado tão frágil, indefesa, agredida e cara. Não teria sido exatamente esse o plano? O plano dos fabricantes e de seus apoiadores. E nós embarcamos, que nem patinhos na taipa do açude, jogando-nos no lago eletrônico antes mesmo de ter aprendido a nadar, ou a viver.

Nossa rotina transformou-se num voluntário BBB (e cada um que atribua aos B’s os termos que melhor aprouver). Bem, os seres humanos (parcela deles, ao menos) costumam se deslumbrar com eletrônicos, deixando-se fascinar com tudo que pisca e emite som. Não por acaso, crianças adoram algo que pisca e faz barulho, de brinquedos a motos e até tênis . O olho delas brilha, como o de alguns usuários de mídias sociais. 

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Mas as crianças crescem, ao passo que muitos adultos parecem ter perdido essa capacidade. Para crianças, da mesma forma como encantam, a certa altura as luzinhas saturam. E se tem algo que virou moda é render-se ao eletrônico. Se fizermos a conta do que uma família (pais e filhos) gasta por mês com celular, computador, TV, tablet, internet, TV a cabo, energia, antivírus (o antivírus do computador custa mais que vacina contra a gripe), saberemos por que as finanças têm entrado em colapso. E tudo isso para quase nada na prática.  

Quando reparo em abduzidos pela internet, penso na caverna de Platão, naqueles que viam as sombras e achavam que eram a realidade. A cópia (o falso) tornou-se o real. Na ânsia de nos conectar, praticamente nos desconectamos da realidade. E até da capacidade da ação. O ser humano levou milhares de anos para aprender a usar as duas mãos, habilidade que lhe permitiu defender-se e executar tarefas criativas. 

Quem diria que em pleno século 21 fôssemos retroceder tanto. Porque o ser humano agora perdeu no mínimo metade da capacidade de ação e defesa. Tudo porque só consegue usar uma mão para se proteger. Numa delas, óbvio, haverá um celular. E talvez até nem possa contar com nenhuma das mãos: a outra tentará usar para, em desespero e com incontida ansiedade, num átimo de segundo antes de ser agredido, tentar tirar uma selfie ou teclar uma legenda: “Estou sendo…”. Está sendo o quê?

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Menos mal que, como toda saturação, já há, bastante visíveis, sinais de que o deslumbre com pisca-piscas e virtualidades chega a um limite. É o que já se ouve, e se vê. Quanto tempo ainda vai perdurar, resta esperar para ver. Tirando os que literalmente viciaram (e que como viciados poderiam ser tratados, com direito a resguardo em reduto de Internetólogos Nada Anônimos, para a desintoxicação), muitos evidenciam claros sinais de cansaço com a ditadura e com os assustadores gastos que a vida eletrônica conforma.

TI

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