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GILBERTO JASPER

Vício cansativo

Entre tantos hábitos enraizados ao longo do tempo se destaca o uso de agenda de papel. Sim, aquelas que o leitor imagina, do tipo em que cada página é um dia da semana. Sou tão “mala” que para ter utilidade absoluta o livreto precisa vir com aquele barbante que serve de marcador do dia de hoje para não perder tempo.

Modéstia à parte, ao longo dos anos tenho aperfeiçoado o uso da agenda de papel ao invés do uso do telefone celular para esta finalidade. O resultado? É raro esquecer algum aniversário ou outra data marcante. Muita gente se surpreende com alguns episódios que nem elas, personagens do evento, lembravam.

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A cada ano incluo novos acontecimentos, curiosidades, fatos pitorescos, recordações. Mas, como nem tudo são flores, a parte chatíssima deste vício é o trabalhão para transferir todos os dados quando o 31 de dezembro se aproxima. É uma tarefa que vou adiando até chegar perto do final do ano. Aí… não tem jeito: o negócio é se debruçar com dedicação.

Normalmente cumpro esta tarefa de uma vez só para me livrar do fardo. Munido de paciência – e de uma boa caneta do tipo tinta “molhada” para deslizar bem – encaro o ano novo com antecedência de meses. Neste ano, porém, levei três noites para cumprir a dolorosa tarefa. Apesar do esforço em antecipar o serviço, faltou ânimo para concluir o trabalho. O cansaço quase me venceu.

Além de anotar fatos, dados de pessoas e curiosidades, costumo anexar ingressos de shows e de jogos de futebol, embalagem de produtos, além de cartões de aniversário e todo tipo de lembrança útil para destacar a importância de alguma data.

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No arquivo enriquecido a cada dia os momentos felizes se misturam ao registro de perdas de amigos diletos, cuja lembrança costumo compartilhar com familiares ou cônjuges no aniversário de falecimento. É uma maneira de homenagear pessoas queridas. Viagens, churrascos, cervejadas e efemérides com valor sentimental estão todos lá, devidamente registrados para recordar.

No fundo, talvez, este vício de usar agenda de papel seja, de forma inconsciente, minha vontade de, algum dia, escrever um livro, do tipo “memórias da minha vida”. Neste compêndio contaria minha trajetória e os respectivos personagens marcantes. Coisa do tipo “Do nascimento na colônia até a mania de escrever diariamente”.

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Neste mundo amordaçado pela tecnologia, o contato de mensagens por vezes torna a vida irrelevante, agravada pelo uso de abreviaturas (e não de palavras escritas por extenso), limitação de caracteres e de censura rebatizada de “controle da mídia eletrônica”. Em pleno século XXI – acreditem! –, escrever torna-se cada vez mais desafiador, perigoso, instigante. Até na agenda.

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