Fato mundial: o esgotamento da democracia. O comportamento de alguns líderes e governos estreita os limites entre a democracia e o autoritarismo. Eleitos democraticamente ou não, à direita e à esquerda do espectro ideológico, abuso de poder, estressamento sistêmico e degradação institucional são as marcas mais visíveis.
Desde a indicação do filme brasileiro Democracia em Vertigem, na disputa do Oscar, acreditei que sua única possibilidade de vitória estaria na associação – pelos membros votantes da academia cinematográfica – aos aspectos da crise democrática mundial. Porém, essa associação temática não ocorreu!
Já o documentário Indústria Americana, que tem a coparticipação produtiva do casal Barack e Michelle Obama (EUA) – o que pode ter influenciado na sua vitória –, trata de globalização industrial e de desencontros étnico-culturais. Fatos conjugados e indicativos de que seria o favorito.
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Não há no filme brasileiro coerência histórica suficiente com vários fatos que antecederam o impeachment. Distorce e omite significativas e importantes informações. Entretanto, é necessário afirmar que sua formulação não retira da autora o legítimo e absoluto direito de recontar o episódio ao seu gosto e interesse.
Na mesma semana do Oscar, circulou fora do país um texto, em inglês, subscrito por artistas e intelectuais brasileiros e estrangeiros, acerca da hipótese de atual fragilização e ameaça à estabilidade democrática no Brasil. A contar do advento do governo Bolsonaro!
Ainda que verdadeiras as trapalhadas governamentais, a frequente linguagem deselegante do presidente e, principalmente, as pérolas de ignorância e estupidez proferidas por alguns ministros, em especial o ex-ministro da Cultura, será que evidenciam uma ameaça à democracia?
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Bem ou mal, as instituições típicas do sistema democrático não estão em funcionamento, a exemplo do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, dos meios de comunicação e da livre iniciativa social e econômica? A natureza, a amplitude e a gravidade da atual crise social e econômica foram gestadas nos últimos meses ou são um produto e uma herança das gestões anteriores?
Quanto ao meio artístico e acadêmico, setores que evidenciam maior contrariedade com o atual governo, há cerceamento no exercício de sua liberdade criativa individual e coletiva? Restrições e cortes orçamentários estatais são argumentos compatíveis com a tese de crise democrática?
Para uma discussão qualificada e consequente, faltam ao debate evidências materiais. Não superficiais. Menos pessoais. Menos grupais. O filme de Petra, assim como o tal abaixoassinado, refletem muito mais expectativas políticas e interesses pessoais contrariados.
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Em resumo, ainda que legítimos o debate e a exteriorização de interesses e preferências, importa ressaltar, todavia, que sua banalização – em forma e conteúdo – contribui objetivamente para a fragilização da democracia!
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