As recentes cassações dos vereadores Elo Schneiders e Alceu Crestani não são as primeiras na Câmara de Santa Cruz. Em 1964, Júlio de Oliveira Vianna (Lolô) e Roberto Hartungs, ambos do antigo PTB, foram cassados por suas posições políticas contrárias ao chamado golpe militar.
Dois dias após a destituição do presidente João Goulart (31 de março de 64), Hartungs, que era presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação, publicou um “a pedido” na Gazeta do Sul criticando a intervenção militar. Lolô sempre defendeu Goulart e outros líderes trabalhistas, como Leonel Brizola, e também não aceitava o golpe.
A contrariedade foi suficiente para que fossem taxados de subversivos e levados para interrogatório no quartel do 8º Regimento de Infantaria (RI). Após o episódio, as bancadas que eram solidárias à intervenção militar solicitaram ao Exército uma cópia dos depoimentos.
Publicidade
![Vianna: apoio a Jango e Brizola (E) não era aceito Vianna: apoio a Jango e Brizola (E) não era aceito](https://www.gaz.com.br/arquivos_biblioteca/2020/06/15/ Júlio Vianna e Brizola 2_f21bdb543912aa99b571d9fcbac5957f.jpg)
No dia 11 de maio, os documentos foram lidos na Câmara. Os dois eram acusados de promover reuniões com grupos contrários ao regime. Lolô ainda era acusado de integrar o Grupo dos Onze, organização criada por Brizola para defender Goulart.
Mesmo com Hartungs e Lolô ausentes da sessão, as bancadas que apoiavam a intervenção propuseram a cassação dos dois. O pedido foi aprovado e apenas Glória Jacobus e Quirino Pereira de Aquino, que também eram do PTB, votaram contra as cassações.
![Hartungs: vereador e sindicalista Hartungs: vereador e sindicalista](https://www.gaz.com.br/arquivos_biblioteca/2020/06/15/Roberto Hartungs 2_9f1759295e82f0a39818a4713789f1f9.jpg)
Hartungs e Vianna ingressaram na Justiça e, em um mês, recuperaram seus mandatos. Na sentença, o juiz Alfredo Zimmer disse que a medida da Câmara foi ilegal e arbitrária, pois baseou-se apenas em documentos de fora do Legislativo. Além disso, não existiu comissão processante para ouvir acusados e testemunhas. Apontou ainda que o Legislativo não tinha competência para aplicar sanções com base em ato institucional.
Publicidade
As cassações geraram muita polêmica. Hartungs acabou deixando a política no final do mandato. Vianna, no entanto, foi adiante e elegeu-se deputado estadual com vários mandatos. Os dois já são falecidos.
Pesquisa: Gazeta do Sul
LEIA MAIS COLUNAS DE ZÉ BOROWSKY
Publicidade