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GILBERTO JASPER

Ver para crer

No tempo em que era guri, o uso de óculos era um divisor etário muito bem definido. Quando o vivente desfilava com aquela “cangalha” – termo pejorativo da época – era sinal que a idade provecta chegara sem dó ou piedade. Também significava que as despesas de farmácia iriam mudar. Ao invés de adquirir antiácidos e preservativos típicos da  juventude, passava-se a consumir remédios para combater a hipertensão e colesterol, entre outros males.

Lembro em detalhes do dia em que comecei a usar óculos. Foi uma experiência traumática, marcante e desafiadora. Morava em uma “república”, que era um apartamento dividido com outros quatro conterrâneos, todos vindo do Interior para estudar e trabalhar em Porto Alegre.

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Criei coragem para cumprir a primeira etapa de superação de obstáculos, indo ao oftalmologista que, lá na colônia, onde nasci, a gente chamava de “oculista”. Fiz o exame de tapar um olho de cada vez e, na saída, peguei a receita. Demorei alguns dias para ir até uma óptica. Dias depois me enchi de coragem para retirar “a encomenda”.

Eram tempos muito diferentes de hoje, quando o uso de lentes é um hábito normal. As mulheres, aliás, incorporaram o acessório ao cotidiano. Seja para embelezar o rosto, combinar com roupas e calçados ou até mesmo para realçar a cor dos olhos. Mas na década de 70/80, no entanto, era preciso grande destemor para encarar a turma de amigos com o novo visual.

Ao fazer o primeiro óculo por uma semana, andei com o dito cujo na mochila. Era medo de encarar a “corneta” dos colegas de apartamento. Usava no trabalho, com discrição, mas era impossível passar “invisível” por causa dos modelos lamentáveis das armações daquela época.

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Depois de alguns dias, no entanto, resolvi encarar os “corneteiros de plantão”.  Entrei em casa e o pior cenário aconteceu naquele final do dia: ninguém havia chegado do trabalho. Isso levou a um lento e doloroso processo de tortura. Todos chegaram separados e cada um fazia uma piadinha.

“Quatro olhos”, “professor Pardal”, “vesgo” e “ceguinho” eram parte do vocabulário ouvido por uma semana. Mas aos poucos a galera se acostumou com meu novo visual. Ainda sonho em abandonar os óculos. Fiz cirurgia que eliminou a miopia, resultado da habilidade do craque oftalmologista Sérgio Sprinz. Ele me dá esperança sobre uma revolucionária cirurgia que permitirá o fim definitivo das armações. E eu espero ansiosamente!

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O uso de telas – de computador e celular – fez do uso dos óculos um hábito disseminado. Para quem transpira em excesso, caminha na chuva ou inadvertidamente esquece de tirar o equipamento ao dormir e tomar banho, andar sem a “cangalha” sobre o nariz é sonho de consumo. Quem sabe um dia voltarei a jogar futsal sem medo de um acidente?

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