Tornou-se de conhecimento popular o fato de que, ao avistar um iceberg, o marinheiro deve ficar atento, porque o que se enxerga é apenas uma parte da estrutura. Quando o assunto é o aumento nos preços de gasolina, diesel e gás de cozinha, anunciado pela Petrobras, a situação é semelhante. A mudança no valor da bomba é apenas a ponta do iceberg. As consequências são bem maiores.
Um motivador para esse efeito em cascata, que representará aumento de custos para os consumidores e alteração na projeção de inflação para o ano, é o fato de que a logística brasileira depende, em cerca de 90%, do uso de caminhões. Quanto mais caro o diesel, mais caro será o frete, e os produtos nas prateleiras.
O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no RS (Set-cergs), Diego Tomasi, se diz impactado. “É (25%) o maior aumento em uma só vez no diesel em toda a história”, destaca. Entende que a repercussão nos demais setores deve ser expressiva, porque o custo da operação de transporte chega a 50%.
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A repercussão nos valores, que serão percebidos pelos consumidores, deve ser ainda maior do que o que foi anunciado pela Petrobras. Isso, conta Tomasi, porque há defasagem no frete, que chega a 25%, levando-se em consideração os aumentos praticados em 2021. “A tendência é que fique entre 36% e 40%, por causa do acumulado”, adianta.
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A consequência vai além dos preços a serem encontrados nas prateleiras. O vice-presidente do Setcergs diz que será uma revolução no setor dos transportes. “Quem não calculava seu custo, quem não tem planilha de custo e receita, com planejamento bem apurado, deixará de existir”, projeta.
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Sobre a viabilidade da utilização de combustíveis alternativos, como a energia e o gás, Tomasi entende que o custo operacional ainda é elevado. “No futuro, pode ser uma solução, mas por enquanto não é viável”, comenta. Em relação ao futuro, faz um alerta. Mesmo depois do aumento de 24,9%, ainda existe defasagem entre o preço da Petrobras e o praticado no mundo. “Há espaço para aumento, mas ficamos na torcida para que as medidas da União estabilizem o cenário.”
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Problema brasileiro é que a renda não acompanha
Os aumentos, em especial de combustíveis, que servem de gatilho para as elevações dos demais produtos, têm ocorrido em todo o mundo. O barril do petróleo, pela falta de oferta, já vinha em valores elevados e acabou tendo expressiva alta com o início da guerra no Leste Europeu.
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A economista Cintia Agostini destaca que o caso do Brasil é diferenciado, porque o país já vinha de uma inflação que superou os 10%, em 2021. “A expectativa para esse ano é que ficasse em torno dos 5%, com maior pressão no primeiro semestre. O conflito na Ucrânia e a estiagem, que se prolongou, fazem com que se estenda esse período de pressão”, conta.
Recorda que o país viveu uma elevação nos custos da energia e dos produtos vinculados à questão da estiagem, o que impacta o agronegócio, que tem sido o setor que garante os saldos positivos da produção nacional. “O fato é que o mundo vai sentir economicamente tudo o que está acontecendo, lá”, adianta.
Um dos motivos seria a dependência do país, que precisa importar cerca de 30% de tudo o que consome em petróleo. E a expectativa é só piorar, porque se vê a busca por mercados que não eram parceiros, como os Estados Unidos procurando a Venezuela e a Arábia Saudita. A tendência, antecipa, é que o barril, hoje, nos patamares de US$ 120,00 possa chegar a US$ 180,00.
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Apesar de ser um problema mundial, o aumento dos combustíveis, afirma a economista, terá repercussão ampliada no Brasil, porque a representação do custo deste produto no orçamento do brasileiro é mais elevada e a renda não acompanha os reajustes. “Em outros países representa 6,8%; aqui, chega a 25%”, aponta. Além disso, tem o fato de que a logística é feita no modal rodoviário, tendo impacto nas comodities, porque têm baixo valor agregado. Outra questão é que o petróleo não é usado somente para transporte. Ele serve como matéria-prima para mais de 3 mil produtos, como o plástico.
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Senado muda a forma de cobrança do ICMS
Foi aprovado, na quinta-feira, projeto que tem o objetivo de estabilizar os preços dos combustíveis, evitando surpresas como o aumento anunciado nesta semana. O texto, com relatoria do senador Jean Paul Prates (PT-RN), aumenta de 5,5 milhões para 11 milhões os beneficiados com o vale-gás, além de criar o Auxílio Combustível Brasileiro (ACB), com ajuda de R$ 100,00 e R$ 300,00 para taxistas, motoristas de aplicativos, motociclistas e condutores de pequenas embarcações, com renda familiar de até três salários mínimos e prioridade para quem recebe o Auxílio Brasil.
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A matéria vai para a Câmara dos Deputados, onde deve ser apreciada em regime de urgência e, se aprovada sem alteração, para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. O chefe da Nação tem tratado sobre um assunto que também está na proposta que teve maioria no Senado: o cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é cobrado pelos estados.
O projeto faz com que a tributação passe a ser feita com alíquota única e em valor monetário sobre o preço da bomba. Atualmente, cada unidade da federação tem seu índice e modelo. O Rio Grande do Sul cobra 12% de ICMS no diesel e, até dezembro de 2021, 30% na gasolina e no etanol. No ajuste tributário feito pelo governador Eduardo Leite (PSDB), baixou para 25%.
O índice definido pelo Piratini é cobrado sobre o preço de venda na bomba, mas não o valor real de cada estabelecimento. É feita uma pesquisa por amostragem e a média apontada é a que o Estado utiliza. Como forma de minimizar os aumentos dos combustíveis no último ano, os secretários estaduais fixaram, em outubro, o que é chamado de preço médio ponderado. Ficou, no RS, em R$ 6,69. Era para ser em três meses, mas houve prorrogação, que vence em março.
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Faltou combustível, sobraram filas
O anúncio de aumento na quinta-feira fez com que os consumidores se aglomerassem em filas na frente dos postos. Em alguns casos, mesmo sendo de atendimento 24 horas, tiveram que fechar as portas, porque ficaram sem produto. “Teve gente que reclamou, achando que estávamos apenas mantendo o estoque para poder vender a preços maiores”, diz um frentista. Garante que isso não ocorreu. Acabou porque a procura foi intensa.
Em outro estabelecimento, a partir das 20h30 a gasolina comum terminou. A opção foi abastecer com a aditivada e foi o que os clientes fizeram. Todos queriam aproveitar os valores mais em conta. Entre os postos visitados pela equipe da Gazeta do Sul, nesta sexta-feira, 11, o que estava com o preço mais barato vendia o litro da comum a R$ 6,979 e o diesel a R$ 6,249. Subiu R$ 0,58. Alguns tiveram elevação maior, passando de R$ 6,569 para R$ 7,299; ou de R$ 6,569 para R$ 7,369.
Quem abastece um veículo com tanque com capacidade para 50 litros economiza, optando pelo estabelecimento de menor valor, em detrimento do de maior, R$ 19,50.
De olho no ICMS
A assessoria de imprensa da Receita Estadual destaca que o governador Eduardo Leite está atento às movimentações no Congresso, sobretudo porque o ICMS é uma das principais fontes do Estado, em especial na área dos combustíveis. Além disso, influencia, diretamente, nos orçamentos municipais, uma vez que o tributo também é destinado para as prefeituras.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, disse nessa sexta-feira que a composição tributária sobre os combustíveis precisa ser alterada, pois, da forma como está, “quanto maior o preço, mais os estados arrecadam”. Assim, estariam se beneficiando da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em função da drástica elevação dos produtos.
Petry propõe um ICMS fixo com base no valor resultante da incidência praticada antes do início da guerra. Com isso, acredita na possibilidade de um amortecimento dos preços finais aos consumidores.
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