Um dos propósitos do Festival Santa Cruz de Cinema, desde a primeira edição, é formar público e tornar acessível a diversidade temática da produção em curta-metragem feita no País. Nos 18 filmes selecionados há uma grande variação de temas e formatos, mas uniformidade em mostrar narrativas humanizadas e diversas, que retratam um pouco de todos os diferentes brasis.
Para Rudinei Kopp, professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e um dos organizadores do festival, é fundamental escolher histórias bem contadas, com bons roteiros, boa direção e atuações consistentes. Ao longo de três edições, o evento recebeu inscrições de quase 1,9 mil filmes, que mostram o quanto o País tem a oferecer no audiovisual. “Não temos pautas temáticas pré-definidas, gêneros preferidos, não existe uma condução para concentrarmos espaço a coisas específicas. O que tentamos fazer é ter uma pluralidade de assuntos que possam gerar reflexão, contemplação, representação, debates, envolvimento. Isso é visível na seleção dos três anos.”
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Quanto aos critérios para a seleção dos filmes, Roberta Corrêa Pereira, gerente do Sesc em Santa Cruz, conta que o trabalho dos curadores é muito difícil, pela variedade de temas e quantidade de produções inscritas. “Os filmes selecionados refletem a grandeza e diversidade de nosso País e também o alcance que tem o Festival Santa Cruz de Cinema. Muito orgulho de ter filmes inscritos de 23 Estados e também do Distrito Federal. Na seleção final também há um interessante mosaico do nosso Brasil.” Ela destaca ainda a valorização do formato curta-metragem.
O evento atua para formar uma curadoria diversa, que trabalha com cinema e representa muitos lugares do País, explica Diego Tafarel. “Nossas recomendações foram no sentido de que se priorizassem histórias bem construídas, qualidade técnica e estética e diversidade temática”, conta. Ele considera a seleção final excelente e também que a Mostra Competitiva tem um bom recorte sobre o cinema de curta-metragem do Brasil.
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O 3º Festival Santa Cruz de Cinema, que ocorre de 7 a 11 de dezembro, é uma realização Sistema Fecomércio Sesc/RS – Unidade Santa Cruz do Sul, Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) – Cursos de Comunicação Social e Pé de Coelho Filmes. O patrocínio é de JTI e Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo e apoio da Proeza e da Gazeta Grupo de Comunicações. A edição deste ano ocorre em formato virtual: os filmes estarão disponíveis ao público no site do Festival Santa Cruz de Cinema a partir desta segunda-feira, dia 7.
A Gazeta do Sul teve acesso antecipado exclusivo aos 18 filmes selecionados pelo festival. Confira o que vem por aí e por que assistir a cada uma das produções.
Mostra Competitiva
Chamada a Cobrar, de Edson Ferreira – Espírito Santo (19 minutos)
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Sinopse: durante o distanciamento social causado pela pandemia, segredos dos pais de Júlia são revelados quando eles tentam reverter a nota baixa da filha na escola.
Por que assistir: pela inovação e uso das imagens em forma de videochamada e pela história cômica que ganha um desfecho surpreendente.
Adalgiza, de Karen Furbino – São Paulo (13 minutos)
Sinopse: isolada, Adalgiza vive num mundo de quatro paredes, na ilusão de que o controla. Ao abrir a porta, toda a bolha de calmaria em que está corre o risco de estourar.
Por que assistir: para ver a linda narração poética aliada a ótimas atuações das personagens principais, além de uma trilha sonora marcante.
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Marie, de Léo Tabosa – Pernambuco (25 minutos)
Sinopse: Mário retorna ao sertão depois de 15 anos para enterrar o pai. Regressa para sua cidade natal como Marie, uma mulher trans, e reencontra seu amigo de infância Estevão.
Por que assistir: pela rica ambientação que reforça o ótimo roteiro e diálogos dos quais é impossível desviar olhos e ouvidos.
Perifericu, de Nay, Rosa, Stheffany e Vita – São Paulo (20 minutos)
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Sinopse: Denise e Luz cresceram entre canções de rap, louvores de igreja e passos de vogue. Da ponte para cá, o primeiro princípio para poder acessar a cidade é estar viva.
Por que assistir: para conferir o caldeirão de referências LGBTQ+, periféricas, gírias, rap e religião como pano de fundo para personagens encantadoras.
4 Bilhões de Infinitos, de Marco Antônio Pereira – Minas Gerais (14 minutos)
Sinopse: Brasil. 2020. Após a morte do pai, uma família vive com a energia de casa cortada. Enquanto a mãe trabalha, seus filhos ficam em casa conversando sobre esperança.
Por que assistir: para ver o retrato da pobreza pelo viés dos olhos inocentes das crianças. Ótima fotografia e destaque para a edição de som.
O Véu de Amani, de Renata Diniz – Distrito Federal (14 minutos)
Sinopse: Amani é uma garotinha paquistanesa que mora no Brasil. Ao mudar de casa, a menina muçulmana recebe um presente inesperado da sua nova amiga brasileira: um biquíni.
Por que assistir: mostra da forma ingênua das crianças a profundidade do choque cultural. Grandes atuações das pequenas que estrelam o curta.
Atordoado, Eu Permaneço Atento, de Henrique Amud e Lucas Rossi – Rio de Janeiro (15 minutos)
Sinopse: o jornalista Dermi Azevedo nunca parou de lutar pelos direitos humanos e agora, três décadas após o fim da ditadura, assiste ao retorno das práticas daquela época.
Por que assistir: pelas ótimas imagens de arquivo do documentário e pelo poderoso testemunho de quem viveu a história.
Apneia, de Carol Sakura e Walkir Fernandes – Paraná (15 minutos)
Sinopse: Muriel não sabia nadar e tinha um medo que ecoava a distância de sua mãe e trazia à tona os pavores e monstros da infância.
Por que assistir: inspirada em uma história real, esta animação primorosa cativa pela divagação poética e relação da protagonista com a natureza.
Traçados, de Rudyeri Ribeiro – Pará (23 minutos)
Sinopse: às vésperas de sua primeira exposição, o desenhista Leo tenta descobrir a melhor forma de expressar tanto sua arte quanto quem é.
Por que assistir: pela reflexão provocada pela abordagem das temáticas raciais e LGBTQ+ e por uma ótima trilha sonora para criar tensão.
Neguinho, de Marçal Vianna – Rio de Janeiro (20 minutos)
Sinopse: jovem e negra, Jéssica estuda, estagia e cuida do filho Zeca. Uma reunião com a professora do menino é cheia de farpas, reflexões e visões de mundo distintas.
Por que assistir: pela maestria com que é mostrada a angústia do dilema enfrentado pela mãe, que vai decidir o futuro do filho.
Amanhã, de Aline Flores e Alexandre Cristófaro – São Paulo (19 minutos)
Sinopse: a metrópole que não dorme jamais parece ignorar o homem que está prestes a se jogar do alto do prédio. Apenas um jovem demonstra interesse pelo espetáculo.
Por que assistir: para rir e chorar com as atuações marcantes dos protagonistas, e ver o efeito hipnótico das luzes de São Paulo em uma fotografia impecável.
Inabitáveis, de Anderson Bardot – Espírito Santo (25 minutos)
Sinopse: uma companhia contemporânea de dança está prestes a estrear “Inabitáveis”, o seu mais novo espetáculo, que aborda a homoafetividade negra.
Por que assistir: pelas imagens visuais fortes, bons diálogos e coreografia esplêndida acompanhada pelos barulhos da cidade como recursos de som.
Filmes gaúchos
Bochincho – O Filme, de Guilherme Suman (17 minutos)
Sinopse: baseado no poema de Jayme Caetano Braun, conta a história de um velho homem que, ao lado de parceiros de lida, evoca suas lembranças de um pitoresco episódio de seu passado.
Por que assistir: para conferir a atmosfera que faz parte do imaginário gaúcho. Mostra uma representação da cultura campeira da contação de causos em dialeto guasca.
Dois Homens ao Mar, Gabriel Motta (16 minutos)
Sinopse: ao deixar o Brasil, o ator e mochileiro César conhece Martin em um café vazio de Tallinn, Estônia. Em frente aos dois homens, apenas o incerto infinito do mar.
Por que assistir: pela bela fotografia e uso do preto e branco, pelos bons diálogos entre os protagonistas e pelos silêncios que dizem muito.
Construção, de Leonardo da Rosa (16 minutos)
Sinopse: anos após ser despejada de sua casa, Andréia volta para a comunidade da Getúlio Vargas com seus filhos Augusto, Gustavo e Bruno. Com a ajuda deles, ela inicia a construção de sua casa própria.
Por que assistir: o documentário se passa em Pelotas e mostra a luta da mãe para criar sozinha os filhos. A participação das crianças em cenas e falas é surpreendente.
A Maior Locadora do Mundo, de Matheus Mombelli (3 minutos)
Sinopse: uma videolocadora em Porto Alegre resiste aos avanços da tecnologia. Hilton, um apaixonado por cinema – e pornografia –, é o guardião desse enorme acervo.
Por que assistir: em pouco tempo o espectador se encanta com o local e o personagem do documentário. Destaque para o clima irreverente e otimista.
O que Pode um Corpo?, de Victor di Marco e Márcio Picoli (14 minutos)
Sinopse: um bebê nasce, mas não chora. As tintas que escorrem em um futuro prometido não chegam a uma pessoa com deficiência. Victor faz de si a própria tela.
Por que assistir: importantes reflexões sobre a sexualidade da pessoa com deficiência. O documentário tem um tom fortemente emocional e poético.
Peitaço, de Maria Rita Dias e Débora Lemos (19 minutos)
Sinopse: o documentário acompanha três dias de encontro de 46 mulheres reunidas em uma fazenda para exercitar a arte da composição regional.
Por que assistir: por afirmar o papel da mulher no cenário da cultura gaúcha e mostrar ótimos depoimentos e momentos de sororidade entre as participantes.
Prêmio Tuio Becker
Filipe Matzembacher e Marcio Reolon receberão o Prêmio Tuio Becker da terceira edição do Festival Santa Cruz de Cinema. A homenagem foi criada na edição de 2019 e contempla personalidades relevantes para o cinema nacional. O nome da premiação homenageia o santa-cruzense Luiz Fernando Becker, falecido em 2008, que foi crítico de cinema, roteirista e diretor. O primeiro artista destacado foi Leandro Firmino.
Matzembacher e Reolon são diretores, roteiristas e produtores porto-alegrenses. Além de diversos curtas-metragens, dirigiram videoclipes e minisséries para a televisão. Seu primeiro filme de longametragem, “Beira-Mar”, estreou no Festival de Berlim. Também lançado no Festival de Berlim, em 2018, o segundo longa-metragem dos realizadores, “Tinta Bruta”, recebeu no total mais de 30 prêmios nacionais e internacionais. Referências importantes no cinema Queer, os jovens integraram o júri Queer Palm no Festival de Cannes de 2019.
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Troféu Tipuana
Os filmes selecionados concorrem ao Troféu Tipuana em diversas categorias. Criado por Rudinei Kopp, é inspirado nas árvores que compõem o Túnel Verde, na Rua Marechal Floriano, a via principal de Santa Cruz do Sul.