Quando PSDB e PMDB anunciaram a ideia de lançar uma chapa à Prefeitura, muitos apostaram que, por ser de alto risco, o projeto seria abortado em algum momento. Poucos imaginaram, porém, que os dois partidos acabariam em vias distintas na eleição. A ruína da aliança foi o principal acontecimento da reta final do período de convenções em Santa Cruz do Sul.
No fim de junho, semanas após o PSDB seguir a trilha do PMDB e desembarcar do governo Telmo, tucanos e peemedebistas inauguraram uma sede em conjunto. Seus dirigentes posaram sorridentes para fotos diante da antiga casa, em frente ao Parque da Oktoberfest, com as siglas dos partidos lado a lado na fachada. Era uma clara tentativa de mostrar que as legendas estavam em sinergia e que não brincavam quando afirmavam que queriam o Palacinho. Tanto que, indicados por seus diretórios para compor a futura chapa, os ex-secretários César Cechinato e Alex Knak já se movimentavam como candidatos, participando juntos de eventos e circulando por bairros. “É o melhor blend para Santa Cruz”, definia um integrante do grupo em conversas reservadas, valendo-se de uma metáfora relativa ao universo fumageiro. Tudo ia tão bem que as legendas ousaram agendar suas convenções para o penúltimo dia, desprezando a estratégia que todos utilizam, de aguardar até o último minuto para não perder nenhuma possibilidade.
O clima bom durou até cerca de duas semanas. Nas reuniões regulares, os partidos haviam definido que só bateriam o martelo sobre quem seria cabeça e quem seria vice após fechar questão sobre a eleição para a Câmara. Foi aí que teve início o impasse. O PSDB queria repetir a coligação de 2012, mas o PMDB receava que apenas tucanos acabassem eleitos. Ao mesmo tempo, até mesmo peemedebistas entendiam que, se concorressem sozinhos, poderiam não atingir o quociente eleitoral.
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Isso levou Knak, um dos articuladores do projeto, a hesitar. “A oscilação dele deixava o grupo inseguro”, conta um integrante. Sua ausência em festividades do Dia do Colono – onde todo postulante a prefeito obrigatoriamente bate ponto – foi entendida como um sinal de que preferia concorrer a vereador. O nome do advogado Dartagnan Costa surgiu como plano B.
COMO FICARAM AS COLIGAÇÕES
Telmo/Helena: PP, SD, PMDB, PDT, PV, PPS, Pros, PRB
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Sérgio/João Miguel: PTB, DEM, PSD, PR, PTdoB
Gerri/Marco: PT, Rede
Fabiano/Seli: PSB, PSDB, PHS, PSL, PTN, PMN, PSDC, PEN, PCdoB e PMB
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Afonso/Alexandre: PSTU
PP fez o divórcio se consumar
O desconforto entre os partidos aumentou quando, já em fins de julho, o PP passou a rondá-los para trazê-los de volta à base de Telmo. Em uma reunião na sede conjunta no fim da tarde da última quarta-feira, véspera das suas convenções, Knak informou ter recebido horas antes uma sinalização do prefeito de que apoiaria uma chapa encabeçada por ele e com Helena Hermany de vice. Tucanos reagiram com dois questionamentos. O primeiro era se a família Hermany, que não havia participado da conversa, concordaria com a ideia. O segundo era como garantir, considerando que a convenção do PP seria apenas um dia depois, que eles manteriam a palavra. Dentre alguns peemedebistas, o gesto de Telmo era visto como uma demonstração de que estava isolado.
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A quinta-feira começou com apenas uma certeza: a chapa Knak/Cechinato estava morta. Diante disso, dirigentes do PSDB passaram a fazer contatos com o PSB. Não era uma novidade: cerca de um mês antes, um grupo de socialistas havia comparecido a uma reunião dos tucanos no Clube do Policial Civil, mas nada havia evoluído desde então. O primeiro ensaio de negociação foi via telefone, já que Fabiano Dupont estava em Porto Alegre.
O divórcio se consumou quando as duas convenções já estavam em andamento – o PSDB na Câmara, o PMDB no Grêmio Esportivo Olaria. Após uma série de pronunciamentos de exaltação a Knak, o deputado Edson Brum pediu que o encontro do PMDB fosse suspenso porque “outros partidos” estavam fazendo contato. Era o presidente do PSDB, Paulo Jucá, que ligou para o líder do PMDB, Roberto Moura, informando oficialmente que os tucanos estavam em tratativas com o PSB. “Será que não é blefe”, perguntou um peemedebista. Não era: minutos depois, Jucá, acompanhado do vereador Gerson Trevisan e do ex-secretário Carlos Behm, se deslocavam até o escritório do advogado Ademar Costa, ex-presidente do PSB, para conversar com ele e Fabiano.
Pouco antes disso, porém, o PMDB havia sacramentado a indicação de Knak, na expectativa de que o PP indicasse Helena para vice no dia seguinte. Para muitos – inclusive alguns do próprio quadro, que saíram inconformados da convenção –, um grande erro de cálculo.
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“Frentão”: a exigência de Telmo para concorrer
A sexta-feira por pouco não foi marcada por outra grande reviravolta. Embora todos tenham acordado certos de que, com o rompimento do PSDB e PMDB, o caminho do PP estava livre para reeditar a dobradinha Telmo/Helena, a chapa da situação manteve-se sob mistério até tarde da noite.
O PMDB aguardou ser chamado durante todo o dia pelo PP, mas isso só aconteceu no fim da tarde, a poucos minutos do prazo para fechamento da ata da convenção, quando então o partido se convenceu a retirar a candidatura de Knak. A proposta feita por Henrique Hermany, autorizado por Telmo, foi uma coligação com o PDT para a Câmara.
O acordo saiu quando militantes do PP já lotavam o Restaurante Di Capri. A surpresa era que, apesar disso, ninguém sabia o que ia acontecer. Longe dali, na casa da vice-prefeita, Telmo impôs uma nova condição para concorrer: queria agregar o grupo liderado pelo PSB e fazer um “frentão”. O ex-presidente do partido, Ademar Costa, foi chamado até o local. Surgiu a proposta: Fabiano Dupont seria vice de Telmo.
Os vereadores Edmar Hermany e Hildo Ney Caspary foram encarregados de “segurar” a militância enquanto as negociações transcorriam. Abriram a convenção no absoluto improviso. Nos corredores do Di Capri, a notícia do “frentão” causava euforia.
Fabiano foi informado da situação minutos antes de chegar à sua convenção, no Olaria, pouco depois das 20 horas, onde era aguardado por representantes dos 10 partidos que o apóiam, inclusive o recém-chegado PSDB. Disse a Costa que era tarde demais para recuar. Quando já estava na mesa oficial, se levantou e saiu até o estacionamento para atender o telefone, que tocava sem parar. Chegou a falar com o prefeito, que reiterou a proposta.
Minutos depois, porém, questionado pela imprensa, descartou a possibilidade e logo depois a sua candidatura foi formalizada.
Ninguém sabia o que ele ia dizer
Por volta das 22h30, a angústia era latente no semblante dos progressistas. Ainda na casa dos Hermany, Telmo resistia a concorrer. Alegava que estava sem apoio. Chegou-se a falar em substitutos. Na Câmara, a convenção do SD terminava e o presidente da sigla, Ilário Keller, foi chamado às pressas para ajudar a convencer o prefeito. Até Helena chegou ao Di Capri sem saber o que iria acontecer. Um dirigente do PPS escondeu uma bandeira da campanha de 2012, com os nomes de Telmo e Helena, que havia levado junto. Dirigentes estavam prestes a retomar a convenção e convocar os militantes a discutir um novo nome para concorrer a prefeito.
Quando Telmo apareceu, pouco antes das 23 horas, foi cercado pela imprensa. Helena, Henrique e outros foram atrás, esperando ouvir do prefeito o anúncio de que não buscaria a reeleição. Eis que veio a surpresa: ao vivo na Rádio Gazeta, Telmo se lançou candidato e confirmou a dobradinha.
Há quem diga que Telmo só se decidiu após ouvir pelo rádio Sérgio Moraes (PTB) afirmar, ao fim da convenção que o confirmou como candidato, que pretende comparar o seu governo com as administrações petebistas na campanha. Outros interpretaram como uma estratégia: Telmo queria que Sérgio se lançasse sem saber quem seria o candidato do PP. Vai saber.
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