Santa Cruz do Sul acordou na manhã dessa segunda-feira, 19, com a notícia de que uma das instituições mais queridas pela comunidade estava sendo alvo de uma operação da Polícia Civil. Pouco depois das 7 horas, viaturas ocuparam parte do pátio da Associação de Auxílio aos Necessitados (Asan), o lar de idosos que conta com cerca de 75 residentes e fica na Rua Padre Luiz Müller, Bairro Bom Jesus. A Gazeta do Sul acompanhou a ofensiva com exclusividade.
A polícia cumpriu sete mandados de busca e apreensão. A apuração, traçada em sigilo nos últimos meses, mirou uma rede de desvio de verbas, doações e cestas básicas do local. O principal investigado seria Marco Antonio Almeida de Moraes, de 49 anos, apontado como administrador da Asan e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa (CMI) de Santa Cruz do Sul.
LEIA MAIS: Polícia Civil deflagra ação contra suspeita de desvios na Asan de Santa Cruz
Publicidade
Ele foi preso em flagrante pelo crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido, em sua residência, na Rua Tiradentes, Bairro Goiás. Moraes portava um revólver calibre 38 que era de uma empresa de vigilância de São Paulo e constava como perdido no sistema policial. Levado para a delegacia, prestou esclarecimentos e foi liberado após pagar fiança de dez salários mínimos, no valor total de R$ 14.120,00.
Além dele, a polícia apurou sobre o caso indícios de participação do filho, Marco Antonio Reis de Moraes, de 24 anos; da companheira e também farmacêutica e encarregada dos medicamentos da Asan, Cassineli Garske, de 34 anos; e da estoquista de alimentos Marcia Cunha, 46 anos.
Nessa segunda, um oficial de Justiça interditou o local e determinou o afastamento dos servidores suspeitos. A reportagem da Gazeta do Sul procurou a delegada Raquel Schneider para falar sobre a investigação. No entanto, ela disse que não comentaria o caso, atendendo a determinação da Associação dos Delegados de Polícia no Rio Grande do Sul (Asdep), que suspendeu entrevistas e o repasse de informações à imprensa em protesto pelo reajuste – considerado baixo pela categoria – que o governo do Estado propôs para o salário dos delegados.
Publicidade
A Gazeta do Sul não conseguiu localizar a defesa dos investigados. O espaço permanece aberto para manifestação.
A ação dessa segunda foi deflagrada pelo Cartório do Idoso e contou com apoio de agentes da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP), Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e Delegacia Regional.
Conforme a Polícia Civil, Marco Antonio Almeida de Moraes entrou na Asan para prestar serviços comunitários, cumprindo uma pena de sentença condenatória transitada em julgado na Justiça Federal. Após finalizar essa pena, ele teria passado a ser o administrador. A partir de então, funcionários começaram a suspeitar do desvio de doações e de que havia superfaturamento de notas fiscais.
Publicidade
Em se tratando de cestas básicas recebidas, a cada cem, estima-se que 70 não chegavam ao uso dos residentes da Asan. Há relatos de que cerca de R$ 70 mil poderiam ter sido desviados em alguns meses. Entre as doações que mais chamaram a atenção, está uma da própria Polícia Civil, que, em dezembro de 2023, através do Cartório do Idoso e da Deam, em parceria com empresas, entregou 75 kits com itens de higiene para os residentes, além de alimentos e produtos de limpeza.
LEIA TAMBÉM: BM prende dupla com armas e evita homicídio em Santa Cruz
Outra doação ocorreu em abril deste ano, com a destinação de emenda parlamentar do deputado federal Covatti Filho, no valor de R$ 150 mil. O montante foi direcionado para a aquisição de 44 aparelhos de ar-condicionado, que iriam suprir todos os quartos da entidade. Contudo, os aparelhos não foram instalados, nem se tem notícia de que os kits de higiene tenham chegado de fato aos idosos.
Publicidade
Em um mandado de busca e apreensão cumprido nessa segunda na casa de uma servidora, foram apreendidos sabonetes e outros produtos doados para a Asan. O fato de Marco Antonio Almeida de Moraes gerir a associação e também ser vice-presidente do Conselho Municipal do Idoso é outro ponto que será analisado. Causa suspeita ele ser um fiscal das ações em relação aos idosos na cidade e, ao mesmo tempo, administrar um lar específico para esse público.
Publicidade
This website uses cookies.