Uma situação pouco comum agitou uma propriedade na localidade de Rio Pardinho, no interior de Santa Cruz do Sul, distante cinco quilômetros do Centro da cidade. A manhã que começou assustando o adestrador de cães Fernando Rafael Panke terminou em alegria por ter salvo a vida de um veado, que estava sendo perseguido por cães de caça. Depois da surpresa, mesmo com alguns arranhões leves, o animal silvestre foi devolvido ao Cinturão Verde.
Foi o som de cinco cães de caça latindo que alertou Panke e o fez deixar a lida matinal com os cavalos para verificar o que estava alvorotando os animais. Ao chegar nos fundos da propriedade, encontrou uma cena inusitada. Os cães perseguiam um veado que, em uma tentativa de fuga, mergulhou no açude e deixou apenas o focinho fora d’água. Um dos cachorros havia agarrado pela cabeça e o puxava para fora, quando Panke entrou no açude e retirou o veado nos braços. Depois de espantar os caçadores, colocou-o em um quarto escuro e ligou para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
A bióloga da secretaria, Daiane Geiger, participou do atendimento ao animal silveste resgatado da perseguição dos cães. Segundo avaliou, ele não foi ferido gravemente, o que possibilitou a devolução imediata à mata. Até porque, conforme Daiane, veados ficam muito sensíveis quando mantidos em cativeiro. Para a bióloga, a hipótese mais provável é que ele tenha se perdido, visto que na localidade há uma grande concentração de animais silvestres. “Entre a RSC-287 e a Linha Travessa é muito comum a travessia de veados”, explica.
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De acordo com Panke, em outras duas oportunidades veados já apareceram na propriedade. Além deles, outros animais silvestres costumam ser vistos. Por isso, ele pretende tomar providências para evitar que cães de caça fiquem soltos e situações como a que presenciou se repitam na região.
Média de cem resgates por ano
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Conforme a bióloga da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Daiane Geiger, é normal fazerem atendimentos de resgate da fauna silvestre, geralmente por conta de atropelamentos ou ferimentos em propriedades particulares. “É uma média de cem registros por ano”, conta.
A bióloga alerta que o procedimento realizado por Panke é o correto e deve ser copiado por quem vivenciar situação semelhante: entrar em contato imediato com um órgão ambiental responsável, para que os espaços ocupados pela fauna silvestre sejam preservados e os animais resgatados sejam soltos em locais adequados.
Cinturão Verde é o hábitat
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De acordo com o professor do curso de Biologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Andreas Köhler, a região de Santa Cruz do Sul abriga três espécies diferentes de veados. Eles circulam dentro do Cinturão Verde e, segundo Köhler, na localidade de Rio Pardinho isso é ainda mais usual, por conta da proximidade com o rio. Duas das espécies encontradas no município estão ameaçadas.
O veado é nativo e costuma viver escondido na mata, mas há algum tempo, conforme o professor de Biologia, era comum animais silvestres na Unisc, por exemplo. Contudo, ele explica que o surgimento de condomínios próximos ao Cinturão Verde, com a consequente construção de muros, tem interrompido os caminhos deles, o que faz com que desapareçam da zona urbana. “Isso representa um problema para a manutenção da fauna”, apontou.
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