Sem o tradicional movimento dos estudantes há mais de cinco meses, quando a pandemia do novo coronavírus obrigou o governador Eduardo Leite a decretar o fechamento da rede de ensino, as escolas estaduais de Santa Cruz do Sul enfrentam um desafio para manter as estruturas e garantir a qualidade do ensino aos alunos. Apesar de alguns custos terem reduzido, outras despesas surgiram com a nova realidade vivida pelas instituições, que também aproveitam o menor movimento para realizar reformas e melhorias.
Com circulação restrita aos professores e funcionários que trabalham presencialmente nas escolas, o consumo de água e energia elétrica diminuiu; contudo, novas demandas financeiras chegaram com a pandemia. “Estamos fazendo muitas fotocópias. Vários alunos não têm condições, não têm acesso à internet, então eles buscam na escola cópias das aulas que os professores enviam”, conta Cláudia Kappaun, diretora da Escola Goiás. Segundo ela, alguns estudantes chegam a receber 200 folhas com todo conteúdo impresso, e o custo dessa operação não é coberto pelo governo do Estado.
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Outra despesa não paga pelo governo são as tarifas de telefone e internet, que aumentaram com a maior utilização dos serviços. Para discutir a questão, a direção da Escola Goiás convocou uma reunião com o Círculo de Pais e Mestres (CPM). “Estamos devendo e não temos como pagar. Internet e telefone são custeados com a ajuda do CPM, e como não temos alunos, esse valor não entra”, ressalta Cláudia. Classificando a situação como “bem complicada”, ela revela que até mesmo a limpeza do pátio está comprometida pela falta de dinheiro. “Estamos com a corda no pescoço.”
Maior escola estadual de Santa Cruz do Sul, a Ernesto Alves de Oliveira, por sua vez, está conseguindo implementar melhorias em sua estrutura. Uma verba destinada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e valores arrecadados junto ao CPM possibilitaram a reforma dos pisos. “Estamos procurando investir e usar bem o dinheiro público em melhorias para os nossos alunos”, destaca Janaína Venzon, diretora da instituição. Ela afirma que no retorno os alunos vão encontrar um ambiente bonito e muito bem cuidado.
Outra mudança trazida pela pandemia e que ultrapassa os muros das escolas diz respeito à merenda. Sem os estudantes, as despensas estão vazias. O governo do Estado deixou de repassar as verbas destinadas à compra de alimentos, afetando também a agricultura familiar da região, que fornecia parte da quantidade adquirida pelas instituições. Janaína explica que produtos não-perecíveis adquiridos antes do início do ano letivo foram doados para as famílias de alunos carentes.
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Diretoras são contra o retorno do presencial
Em discussão entre o Palácio Piratini, associações de municípios e sindicatos, o retorno das aulas presenciais no Rio Grande do Sul tem gerado polêmica e pontos de vista distintos de entidades educacionais públicas e privadas. Diretoras de duas das maiores escolas estaduais de Santa Cruz do Sul – Goiás e Ernesto Alves –, Cláudia Kappaun e Janaína Venzon são contrárias ao retorno das atividades presenciais neste momento, pela quantidade de estudantes circulando e a dificuldade para controlá-los e fiscalizá-los.
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Além da limitação de funcionários, os novos custos preocupam. “Vamos ter que montar um aparato que vai ser um gasto bem grande, e não tem como controlar quase mil alunos”, afirma Cláudia, acrescentando que o escalonamento dos estudantes seria um trabalho extra para a equipe diretiva e os professores, que muitas vezes trabalham em mais de uma escola. Da mesma forma, Janaína não concorda com a proposta. “Não estou segura e não gostaria que as aulas retornassem no momento.” A Escola Ernesto Alves tem entre 35 e 40 alunos por turma, em média.
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A questão pedagógica também preocupa as diretoras, que temem pela queda na qualidade do ensino em virtude das medidas a serem adotadas. “Em vez do profissional atentar para a questão pedagógica e a aprendizagem, vai estar preocupado com a prevenção”, diz Janaína. Há ainda a dúvida sobre a divisão de turmas e a organização dos professores, considerando que as turmas teriam que ser fracionadas em dois ou três grupos para respeitar o distanciamento nas salas. A proposta segue em debate e ainda não há previsão de retorno das aulas presenciais no Estado.
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